ENTREVISTA: ADOLFO MENEZES
“O que impactou mais na vitória de Jerônimo foi o fator Lula”
Presidente da Assembleia Legislativa da Bahia diz ainda que 'a cúpula acreditava na vitória do grupo'
Por Osvaldo Lyra
A eleição que confirmou a vitória do governador eleito Jerônimo Rodrigues mal terminou e a disputa pelo comando da Assembleia Legislativa já está definida, apesar de a votação do próximo presidente só acontecer em fevereiro de 2023. Isso porque o atual dirigente da Casa, Adolfo Menezes, já tem o apoio declarado de 56 deputados. Para ele, “o que impactou mais na vitória de Jerônimo foi o fator Lula”. O dirigente da Alba disse ainda que, apesar da base e dos parlamentares não acreditarem na vitória do petista, “a cúpula acreditava na vitória do grupo”. Para ele, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fizer muito pela Bahia, “ele estará sendo muito ingrato com o estado”. E completou: “Não, o presidente Lula não pode errar”. Confira:
Presidente, primeiro, como o senhor viu o resultado das urnas e a vitória de Jerônimo no dia 30? O discurso do cansaço usado pela oposição não colou?
É claro que, depois de 16 anos, mesmo com todos os benefícios através das obras que foram feitas por toda a Bahia, em todas as áreas, as pessoas sempre querem mudar. Tanto é que foi uma eleição disputadíssima, o resultado apertado. Mas eu credito isso à desinformação da maioria da população que não acompanha. Porque a população está interessada em sobreviver, é uma dificuldade muito grande no nosso país, desemprego gritante, as famílias têm seus problemas pessoais. Então, só os que entendem de política é a classe de vocês da imprensa, e quem está dentro da política, um ou outro que se interessa pela política. Eu digo isso porque o que a população quer? O que o povo quer de um gestor, de um governante? O povo almeja que ele trabalhe para mudar a vida das pessoas para melhor. E isso eu te garanto que o governador Rui Costa fez, depois do governador Wagner, como nenhum outro governador fez na história da Bahia. Eu estou dizendo isso com propriedade. Eu faço parte do grupo do governador, não sou PT, sou do PSD, discordo de muitas políticas do PT, mas, no geral, se a população estivesse inteirada do que foi iniciado pelo governador Wagner na época e dado prosseguimento pelo governador Rui, eu tenho certeza absoluta de que o resultado era muito maior.
A vitória de Jerônimo mostrou a força da boa avaliação do governo Rui, a força de Lula na Bahia e, mais ainda, a rejeição do individualismo na política, presidente?
Sem dúvidas. Eu acredito que o que impactou mais na vitória foi o fator Lula. O 13 é muito forte no Nordeste, principalmente aqui na Bahia, foi dada uma demonstração. Mas, é claro, se o governo Rui não tivesse feito essas obras todas o resultado não seria o mesmo. Mas o governo Rui está com 80% de aprovação. Imagine o cara sair do governo depois de 8 anos... É uma coisa inédita, é muito difícil. Então, o conjunto pelo tamanho do grupo, o nosso partido que é o maior da Bahia, que tem o senador reeleito Otto Alencar, que faz um grande trabalho, tem a força do PT, tem a força do próprio governo, da estrutura da máquina, com outros partidos: PCdoB, PSB. Então, tudo isso levou à nossa vitória e a uma vitória que não foi fácil, apertada. Mas o importante é que vencemos.
Muitos prefeitos, deputados, lideranças mudaram de lado e apoiaram a oposição ao longo da campanha. Alguns já voltaram. Como o senhor acredita que o novo governador deve se relacionar com eles, sobretudo com a Assembleia Legislativa?
No primeiro turno, e eu que participava, claro, porque depois de 16 anos, mesmo com tudo que Wagner e Rui fizeram, existia um desestímulo, vamos dizer assim... Existia um quase “já ganhou”. Claro, pela cúpula não, mas pela base de prefeitos, políticos, vereadores, existia um clima já de que iam perder as eleições. Porque ninguém acreditava, claro, quando eu digo ninguém estou falando da maioria... A cúpula acreditava na vitória do grupo, pelo conjunto. Mas a base, vereadores, prefeitos, deputados, muitos não acreditavam. Estavam ali trabalhando, mas pensando “ah, já perdemos”. Porque Jerônimo ninguém conhecia, era pouco conhecido. Claro que Rui também, ninguém conhecia na época. Mas aí já se passaram 16 anos. Vai havendo um desgaste. As pessoas sempre querem mudar, mesmo quando está bom. É normal do ser humano. Então, Jerônimo ninguém conhece, nunca disputou nenhum cargo. Foi secretário da SDR (Secretaria de Desenvolvimento Rural), depois da educação. Na educação há uma crítica muito grande, apesar de ser uma coisa muito complexa também. O governador Rui e Jerônimo ajudaram... Muitas pessoas não tinham conhecimento. Está sendo investido esse ano R$’5 bilhões, sendo feitas estruturas, muitas já inauguradas e outras sendo entregues. São 240 escolas novas, são complexos escolares que nem faculdades têm aqui na Bahia e poucas no Brasil. A estrutura para funcionar de forma integral, com curso profissionalizante, com piscina semiolímpica, com ginásio, auditório, quadra coberta, campo society, laboratório. É uma coisa fenomenal. Então, ninguém conhecia, isso gera um “vamos perder a eleição”. E, para a surpresa do Brasil, da Bahia, deixamos de ganhar por 0,5% apenas. Claro que a expectativa de poder, de vitória era do Neto no primeiro turno. Então, se inverteu. Então, muitos prefeitos foram para lá, tem uns que querem ser sabidos demais, não querem perder, então foram. E essa surpresa de quase ganharmos no primeiro turno fez com que alguns retornassem e outros viessem a apoiar. Então, eu acredito que o governador, claro, vai dar o tratamento institucional a todos, como sempre deu. A Assembleia, o governador sempre respeitou e eu digo, como presidente, pelo meu estilo de não criar problemas, problema zero na Assembleia, nós aprovamos todos os projetos, esperamos aprovar o restante agora nesses dias. Mas sem tumulto, sem chantagem, com a oposição muitas vezes. Aproveito para agradecer a todos os 62 deputados que nunca faltaram com a Bahia. Não é “nunca faltaram com o governador”, mas sim “com a Bahia”. Porque quase todos os projetos que chegam àquela casa são projetos que vão beneficiar a população baiana. Esse é o nosso objetivo, esse é o nosso propósito.
A disputa pelo comando da Assembleia já começou, mesmo com a eleição para o governo tendo finalizado há menos de 1 semana, e o senhor já tem o apoio declarado de 56 deputados… No entanto, a deputada Ivana já se colocou como pré-candidata. O senhor pretende trabalhar por essa unidade? Trazer a própria Ivana e tentar compor até com ela para garantir a reeleição por unanimidade?
Primeiro, foi muito prematuro desencadear a sucessão da Assembleia ainda no mês de outubro. Política não é matemática. Eu esperava, já tinha declarado em algumas entrevistas no ano passado, nesse ano, que ia pleitear a reeleição já que eu podia, é outra legislatura. Ninguém nem sabia quem seria eleito. Então, a lei me dá o direito. Mas é claro que eu só ia tratar disso no mês de dezembro, até porque a eleição se dará no início de fevereiro, no dia 1º. Mas a deputada Ivana, por ter sido a mais votada, ela logo depois do primeiro turno se lançou candidata à presidência. Gostaria de dizer que a deputada Ivana é minha amiga, é do meu partido, convivemos esses anos todos, não temos nenhum problema pessoal. E ela tem toda legitimidade, todo direito, como todos os 63 deputados de qualquer partido têm todo direito. Se está eleito, qualquer um pode pleitear a presidência da Assembleia. Então, a Ivana colocou o nome dela logo depois do primeiro turno. Eu não podia ficar esperando. Quem fica esperando na política pode se surpreender. Então, eu tive de lançar meu nome. Claro que existia uma preocupação do governador e do grupo de atrapalhar a campanha de Jerônimo, porque o objetivo, a prioridade número 1 era a eleição de Jerônimo no segundo turno. Claro, porque a eleição da Assembleia ainda é em fevereiro. Mas eu disse: Wagner, da minha parte não vai haver prejuízo nenhum. Tanto é que na minha cidade principal, Campo Formoso, e nas cidades que fui votado, eu consegui, claro, com o grupo, com a ajuda do grupo, aumentar os votos do primeiro turno para o segundo em Jerônimo. Então, eu saí na frente, e a oposição que teria candidato, claro, se viesse a vencer o ACM Neto, natural. A oposição me declara o apoio logo no outro dia, 9h da manhã, conforme vocês da imprensa testemunharam. E aí vários deputados, pela minha forma de tratar todos igualitariamente, com respeito, e acima de tudo... Ser presidente da Assembleia é um conjunto. Lá ser mais bem votado não significa que você vira presidente. Não tem nada a ver. Assembleia é relacionamento, é posição, é palavra, é trânsito, é amizade. É um conjunto que graças a Deus eu tenho. Então, talvez por isso, todos os deputados de todos os partidos da oposição, da União Brasil, do PCdoB, do PT, do PSB, do Partido Verde, do PL de Bolsonaro, do Patriota, do Podemos, da esquerda, da direita, do centro, de todos. De todos os partidos já vieram me prestar. Pela minha forma de tratar. Então, mesmo os que estão chegando novos agora, procuro saber. Claro que eu tenho meus defeitos, como todos nós temos como humanos. Mas eu procuro... Mas a Assembleia, que ninguém ouviu falar absolutamente nada, eu estou encerrando meu mandato agora, não aumentei o custo da Assembleia em nada, é uma coisa raríssima de acontecer. Não lembro se já aconteceu em outras gestões. O oposto era justamente viver de suplementação. Não, é bom que fique claro, e eu tenho sempre explicado nas minhas entrevistas. Eu não aumentei o custo da Assembleia em nada e tenho como mostrar. Mas nós vamos precisar de suplementação. Aí você diz: não é um contrassenso? Bom, a partir do momento que eu explicar, não é um contrassenso. Porque a Assembleia teve um aumento dado pelo governador para os servidores, não foi dado por mim. Porque o governador quando ele aumenta, ele dá para todos os funcionários públicos do estado, que a Assembleia está junto. Então, mesmo um percentual pequeno de 4%, só isso aí impacta em R$20 milhões a mais para a Assembleia. Em 2021, a gente ainda estava em plena pandemia, então muitas coisas ainda não estavam funcionando na Assembleia, que estava funcionando de forma restrita, votando de forma remota, restaurante fechado, transporte sem funcionar. Claro que diminuiu água, telefone, energia, e o orçamento que nós gastamos em 2021, em plena pandemia, do orçamento que foi feito em 2020 pelo meu colega Nelson Leal, não por mim, o de 2022 já foi aprovado o orçamento com R$50 milhões a menos. Então, só aí já estamos falando de R$70 milhões que não fui eu que fiz. Aí você tem mais R$40 milhões de acordos judiciais feitos no passado. Aí já estamos falando de R$110 milhões para fechar as contas. Sem aumento nenhum desse presidente. Mas decisões judiciais têm que ser cumpridas.
Que balanço o senhor faz desses 2 anos à frente da Assembleia, presidente, e se a pandemia impediu o senhor de realizar tudo o que queria?
Não. A minha forma de governar eu acredito que foi tranquila. Eu digo que a pandemia que foi iniciada em março de 2020, com o presidente deputado Nelson Leal, e 2021 já peguei também o segundo ano da pandemia, em pleno pico de contaminação. Em relação ao principal, que é aprovar os projetos que chegam àquela casa, que beneficiam a população, os funcionários públicos de todos os setores não param. Isso não houve prejuízo nenhum.
O secretário Luiz Caetano disse logo depois da vitória de Jerônimo que ACM Neto subestimou o candidato do PT, o governo e a força de Lula na Bahia. Vai ser difícil ACM Neto retornar à cena política, presidente?
Não. Em política nunca se pode dizer que alguém morreu. Não existe essa palavra. Pode até ser dita, mas se você está na política, ninguém morre. É questão de tempo. Nós temos 4 anos apenas que muita gente do grupo de Neto ouviu dizer: Neto se acabou, porque desistiu em cima da hora de enfrentar Rui Costa no segundo pleito. E veja que agora ele quase bota a mão na taça. Então, esqueça essa história de dizer que alguém morre em política. Só morre quando morre literalmente mesmo, ou quando já está em uma certa idade, porque aí não vai ter condição. Eu mesmo, na minha opinião, mesmo Lula estando muito forte ainda, mas é natural, porque o corpo humano vai chegando a hora. Eu acredito. Ele com 76 anos, então vai terminar esse primeiro mandato com 81 anos. Eu não acredito que ele vai ter pique para um segundo mandato. Mas deixa ele começar pelo menos o primeiro.
Presidente, a vitória do presidente Lula abre um mar de possibilidades para o governo Jerônimo, já que esse alinhamento era esperado e foi pregado ao longo de toda a campanha. O senhor acredita que a Bahia passará a ser uma prioridade no cenário nacional, já que no governo de Wagner, Lula não foi tão generoso com o estado?
Eu acredito que se o presidente Lula não o fizer muito pela Bahia, ele estará sendo muito ingrato com o estado.
E aí pode ter consequência a nível de Senado e a nível da Câmara, porque eu acredito que a bancada não vai ficar satisfeita... Claro que ele tem todos os outros filhos para cuidar. Tem aí 27 filhos para cuidar, que são os estados, tem 215 milhões de filhos para cuidar. Mas ele não pode deixar de reconhecer o que os baianos fizeram por ele mais uma vez. Então, o que a Bahia quer e espera, o governador, os deputados, o povo em geral da Bahia... Repito: o Brasil é grande, ele não pode jogar tudo aqui para a Bahia, mas ele tem que dar sim um tratamento diferenciado àquele estado que mais uma vez não faltou e te deu a vitória.
Para finalizar, o presidente Lula não tem chance de errar, não é, presidente?
Não, o presidente Lula não pode errar. Até porque ele já tem experiência. Não estou dizendo que a gente espera que ele faça tudo. O Brasil é um país continental, globalizado. A China dá um espirro, o Brasil fica gripado. Então, a gente tem que rezar também para que a economia mundial melhore. Nós estamos vendo lá na Europa muitos problemas em virtude da guerra da Ucrânia que impactou. Temos inflação no Reino Unido, na Alemanha, na França. Desemprego aumentando, e acaba impactando. Mas ele tem grandes relações. Nós estamos vendo aí, antes de tomar a posse já recebendo convites das principais economias do mundo. Ele é muito experiente. Claro que não é fácil, ele vai ter que lutar também com os meninos de lá do Congresso que não são mole, onde muitos não pensam no Brasil. Muitos pensam só em defender seus interesses imediatos, o interesse de grupos que ele defende. Mas a gente imagina que eles vão deixar de lado esses interesses particulares e corporativos e vão pensar um pouco no Brasil, porque o Brasil pode ser outro.
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