24 PRA 1
Vereadores que apoiam Prefeitura são rejeitados nas urnas
Parlamentares da oposição que se candidataram tiveram muito mais votos que os da base do governo
Por João Guerra

Dos 24 vereadores de Salvador em exercício que se candidataram a um cargo eletivo nas eleições deste ano, apenas um foi eleito. É o caso de Emerson Penalva (PDT), que com 51.933 votos, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) nos próximos quatro anos.
A eleição solitária de Penalva no pleito de 2022 é um recado das urnas e liga um alerta na Câmara Municipal da capital baiana. Será que os edis soteropolitanos estão atendendo aos anseios da sua população?
Alguns temas colocados em discussão na Casa Legislativa, principalmente por parlamentares da oposição, não avançam, sobretudo quando esperam por um posicionamento do Executivo. A exemplo de demandas de categorias de servidores municipais, como o movimento de agentes comunitários de saúde e combate às endemias por reajuste salarial.
Outras, de interesse da sociedade civil, cobram soluções para a cobrança do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto de Transmissão Inter Vivos (ITIV) e os montantes acumulados em multas pela Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador).
Além de Penalva, que é do PDT, um dos 13 partidos que fazem parte da base de Bruno Reis (União Brasil), outros 15 vereadores tentaram uma vaga na Alba ou na Câmara dos Deputados e não tiveram êxito: cinco como deputados estaduais e 10 como deputados federais.
Dois vereadores colegas de partido de Reis, por exemplo, Claudio Tinoco e Cátia Rodrigues, que tentaram, respectivamente, se eleger para a Casa de Leis baiana e para a Câmara Federal, conseguiram menos de 20 mil votos cada no domingo, 2.
Tinoco foi um dos vereadores mais aguerridos na discussão para manter o veto do Executivo no projeto de lei que reajustava os salários dos agentes comunitários de saúde e de combates às endemias. Outro a favor da manutenção de Reis sobre a proposta, Leandro Guerrilha, do PP, teve apenas 8494 votos para deputado federal. Sabá, também do PP e candidato a deputado estadual, não passou de 6920 votos.
Por outro lado, ainda que não tenham sido eleitos e façam parte de siglas que atuam na base do Executivo, mas com atuação crítica ao modo do chefe do Executivo atual e do seu antecessor atuarem, Sidninho (Podemos) e Alexandre Aleluia (PL), ambos candidatos a deputado federal tiveram uma votação expressiva: o primeiro com 35828 votos e o segundo com 50207.
A própria situação do chefe do Executivo de Salvador não é boa diante da percepção que a população tem do seu mandato. A baixa votação dos aliados do prefeito Bruno Reis apenas confirmam o desgaste já apontado por A TARDE, detectado na pesquisa AtlasIntel que avaliou a gestão do chefe do executgivo municipal.

Reflexo nas urnas
O presidente da Câmara, o vereador Geraldo Junior (MDB), em conversa com o PORTAL A TARDE, analisou que a atuação dos vereadores na Casa teve um reflexo nas urnas na medida em que a maioria dos vereadores da base do governo não conseguiram obter uma votação expressiva no dia 2 de outubro.
“Se você observar criteriosamente, a quantidade de votos de cada um desses vereadores a oposição na Câmara Municipal teve um desempenho melhor do que a base do governo, muito em função das relações que são estabelecidas na Casa, relacionadas aos servidores, aos trabalhadores e aos movimentos sociais e o desdobramento que vem disso. Eu alertei muitos desses vereadores, não sejam candidatos para atender a pedidos de ordem política ou o pedido de ordem partidária”, diz Geraldo.

Consoante ao que foi dito pelo chefe do Legislativo soteropolitano, duas vereadoras da oposição, Marta Rodrigues (PT) e Maria Marighella (PT), mesmo não sendo eleitas para a Câmara Federal, ultrapassaram a marca dos 50 mil votos.
Para Geraldo, os seus colegas vereadores precisam ainda ficar alertas com o reflexo da eleição deste ano nas eleições municipais em 2024, já que alguns políticos baianos com uma trajetória dentro da vida pública no estado e alguns com uma proximidade maior com o prefeito Bruno Reis e o ex-prefeito ACM Neto, não conseguiram ser eleitos e podem ser candidatos a vereador daqui a dois anos, o que dificultará a vida de quem quer se reeleger vereador de Salvador e 2024.
“Fabíola Mansur [PSB], que teve uma belíssima votação e ficou como suplente. Ela vem candidata à Câmara em 2024? O deputado estadual Soldado Prisco [União Brasil] perdeu a eleição para a Assembleia. Vem candidato a vereador? Há também Pablo Barrozo [PSDB], Paulo Câmara [PSDB] e aquele entorno de ACM Neto, os chamados ‘Menudos’, que, com certeza, devem vir candidatos na próxima eleição. Com certeza o resultado dessas eleições vai reverberar na eleição de 2024”, analisou o vereador.
Uma das citadas por Geraldo Junior, a vereadora Marta Rodrigues (PT), que conquistou 53306 votos nas urnas ao concorrer a deputada federal no pleito deste ano, comentou ao PORTAL A TARDE que mesmo não sendo eleita, o seu desempenho e de colegas nas urnas no dia 2 de outubro mostram que a população soteropolitana acompanha o que os vereadores fazem na Câmara.
“Nós não fazemos oposição por oposição. A gente faz oposição diante da realidade, como foi o caso do IPTU, as travas que estão vencendo agora e as pessoas estão pagando valores exorbitantes. O que fazemos ou deixamos de fazer na Câmara, reflete na vida das pessoas. Salvador agora é a capital dos desalentados, não tem emprego. Há também a indústria da multa, que a gente acompanha e denuncia”, apontou a parlamentar.
Segundo Marta, o eleitorado de Salvador está alerta com quem desempenha o mandato em prol da população e quem está na Câmara apenas para atender as vontades de um grupo político.
“Eu presido a Comissão de Finanças e Orçamento. Nós debatemos agora recente o segundo quadrimestre e fizemos diversas perguntas para a secretária [de Fazenda], dentre elas, por que a comunicação institucional teve um aumento considerável de valores recebidos e as secretarias que cuidam da assistência social, que é a porta de entrada para o povo pobre ter acesso aos programas, as políticas públicas, não recebeu o mesmo tanto. Por que a Secretaria de Mulheres também não tem o mesmo investimento? Muitas pessoas vão às audiências públicas porque é importante conhecer o orçamento público, que tem muito a ver com a cidade e com a vida das pessoas. Nós não queremos o poder pelo poder. Poder pra gente ele é coletivo. Ele tem que ser esse instrumento da luta”, disse a vereadora.
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