SEGUNDO TURNO
Brasil inicia votação de segundo turno incerto entre Lula e Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) polarizam eleição
Por AFP
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) travam, neste domingo, 30, sua queda de braço final pela Presidência da República, em um segundo turno de resultado incerto, que mantém apreensivo um eleitorado profundamente dividido.
O presidente, um ex-capitão do exército, tem enviado mensagens contraditórias sobre se reconhecerá os resultados em caso de derrota. Na sexta-feira, assegurou que sim: "Quem tiver mais votos, leva". "Isso que é a democracia".
As seções eleitorais abriram às 8h e devem fechar às 17h e os resultados são esperados poucas horas após o encerramento da votação para a qual estão convocados 156 milhões de eleitores.
"Essas são as eleições mais acirradas, mais disputadas. A coisa tá bem dividida", disse sem revelar seu voto Marcio Britto, desempregado de 52 anos, em um colégio eleitoral de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Bolsonaro, de 67 anos, se apoiou na defesa dos valores tradicionais e na melhora recente dos dados econômicos - desaceleração da inflação e queda do desemprego -, para defender um segundo mandato, ao mesmo tempo em que continuou insuflando um discurso nacionalista.
"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!", reiterou, ao finalizar o ríspido debate televisivo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira.
Uma mensagem especialmente valorizada pelo agronegócio e a população evangélica, que representa um terço do eleitorado e continua crescendo neste país de maioria católica.
'Consertar' o Brasil'
Lula, o veterano líder da esquerda, de 77 anos, que esperava vencer no primeiro turno, prometeu "consertar o país", ainda impactado pela crise da pandemia e seus 688 mil mortos.
Ele lembrou os feitos socioeconômicos de seus dois mandatos anteriores (2003-2010), quando 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza com iniciativas sociais financiadas pelo 'boom' das matérias-primas.
O ex-presidente conta com o apoio dos mais vulneráveis e de quem se ressentiu das políticas e das ofensas do presidente, como os jovens, as mulheres e as minorias.
A campanha entre os dois turnos foi ainda mais profícua em ofensas e golpes baixos entre os dois adversários.
Lula associou Bolsonaro à "pedofilia" e ao "canibalismo", enquanto o presidente acusou o adversário de "cachaceiro" e "traidor da pátria", depois de o ex-sindicalista ter ficado preso por corrupção por 19 meses, antes de seu processo ser anulado por questões processuais em 2019.
A desinformação inundou as redes sociais, mas também os debates televisivos entre dois candidatos que se acusam incessantemente de mentir.
A Justiça Eleitoral agiu quase que diariamente para determinar a retirada de vídeos que viralizaram com conteúdos falsos dos dois lados.
Voto contra
O tom agressivo acentuou a polarização e a rejeição aos dois líderes. "Uma parte não desprezível vai votar nele [Lula] pela rejeição que tem de Bolsonaro. E a mesma coisa vale do outro lado", disse à AFP Lara Mesquita, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.
Embora os indecisos sejam poucos, "num pleito tão apertado, podem fazer a diferença", afirmou.
Celebridades recorreram à sua popularidade para atrair o voto para seu candidato: o jogador de futebol Neymar para Bolsonaro e os cantores Caetano Veloso e Anitta para Lula.
Se a esquerda vencer, "será um governo frágil", disse à AFP Brian Winter, redator-chefe da publicação Americas Quarterly. "No Brasil ressurgiu um movimento conservador muito forte", que se identifica com o presidente, acrescentou.
Um segundo mandato de Bolsonaro, ao contrário, "será muito parecido com o primeiro, com uma intensificação da guerra de valores, e será uma era da motosserra" para a Amazônia, onde o desmatamento disparou durante seu governo.
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