ELEIÇÕES 2024
‘O governador tem compromisso com todas as candidaturas da base’, diz Olívia
Um dos nomes do campo da esquerda à prefeitura de Salvador, a deputada Olívia Santana (PC do B) espera que o governador Rui Costa prestigie todas as candidaturas e não só a do seu partido. “Para ele chegar ao governo foi necessário a participação de todas essas forças políticas e não só do PT”, lembra Olívia, para quem, Rui Costa terá “grandeza” para apoiar todos os nomes lançados pela base.
Mulher negra, Olívia diz que se eleita vai trabalhar para combater o “racismo profundo” que existe em Salvador. “Conhecendo na pele como eu conheço, eu quero enfrentar isso. Eu quero unir Salvador”, diz ela, a terceira candidata a ser entrevistada na série preparada pelo grupo A TARDE para ajudar o eleitor de Salvador a fazer sua escolha em novembro.
Por quê o Sra. quer ser prefeita de Salvador?
Porque eu quero enfrentar essas desigualdades estruturais que há na cidade de forma naturalizada. Nós vivenciamos uma situação de racismo muito profundo em Salvador. A população negra vivendo nos guetos, em situação precária, sem ter acesso a uma infraestrutura de direitos. Nesse sentido, conhecendo na pele como eu conheço, eu quero enfrentar isso. Eu quero unir Salvador. Quero trabalhar para que essa cidade desigual, de dois andares, no plano físico e no plano social, possa se encontrar.
Nós precisamos garantir condições de vida da população mais pobre. Temos que diminuir esse fosso. A população mais pobre tem uma renda 61 vezes menor do que a renda da população mais rica. Isso é uma coisa que me inquieta muito e eu quero, sim, enfrentar essa situação e gerar oportunidades a partir da gestão pública para que as pessoas possam ter uma vida mais digna e mais qualificada.
Dentro desse pensamento, quais seriam as prioridades da gestão da Sra., caso eleita?
Geração de oportunidades, de renda, de emprego na cidade de Salvador. Nós vamos sair de uma pandemia, uma situação de altíssimos indicadores de desemprego. Hoje, nós já estamos com mais de 17% de desemprego formal na cidade. Por isso, é fundamental investir na criação de um programa de microcrédito na cidade, que faça investimento em micro-empreendimentos. Não dá pra ficar dizendo que as pessoas têm que empreender e, na verdade, isso ser justamente uma ocupação precária. Nós temos que ter uma política que injete recursos em micro-empreendimentos para que as pessoas possam se desenvolver. Para que possam ter um crescimento real com o apoio do poder público. Então, quero fazer essa carteira municipal de microcrédito, em parceria com o Desenbahia.
É possível a prefeitura implantar uma política que ajude a combater o desemprego?
A gente tem condições, sim, de fazer uma política ampla. Já fui secretária do Trabalho, Emprego e Renda e sei o tanto do que estou falando. Acho que, inclusive, temos que simplificar os processos internos para a abertura de negócios e criar uma ambiente de negócio que seja de fato favorável. Democratizado, para que as pessoas possam de fato empreender na economia criativa, também na área da cultura , das artes. Na própria infraestrutura para a cidade, implementando uma política municipal de urbanização de favelas, obras nos bairros populares, replanejando esses bairros. Não quero dizer que farei tudo, mas quero frisar que tenho um propósito muito firme de garantir um programa que seja referência na reurbanização de favelas e isso fará com que novas obras possam acontecer, oxigenando a área da construção civil para que a gente também tenha a geração de empregos. Além de melhorar a infraestrutura das áreas populares, porque 56% da população de salvador vive exatamente nessas áreas chamadas zonas especiais de interesse social. São as áreas mais precárias, Paripe, Periperi, Nordeste de Amaralina. Então temos uma cidade marcadamente desigual.
Como a Sra. avalia a postura da atual administração no combate a pandemia?
A prefeitura está fazendo aquilo que o governo do estado pautou e isso é muito importante. A gestão do governador Rui Costa é uma gestão que não tem o ódio, a demarcação de campo dos adversários de maneira apequenada. Então, o governo do estado fez um gesto muito importante, de trabalhar junto com a prefeitura. E a prefeitura também teve a maturidade de entender que agora nós temos que unir forças. Na condição de deputada estadual, tenho trabalhado e o Legislativo tem aprovado todos os projetos com celeridade no sentido de facilitar a vida do governador, a vida dos prefeitos, inclusive o prefeito da capital, para que as políticas públicas de preservação da vida população, ela possa acontecer. Então, eu considero que há um esforço conjunto dos poderes, aqui em Salvador, na Bahia, diferente do que está acontecendo no Brasil. Porque o presidente, apoiado pelo prefeito ACM Neto, vai exatamente na contramão de tudo isso. O presidente que virou o garoto propaganda do coronavírus . O que é uma lastima, o Brasil se diferenciar de uma maneira tão atrasada, uma verdadeira aberração no trato da pandemia. Mas nós estamos conseguindo, os governadores do Nordeste principalmente, e aqui na Bahia essa experiência da confluência de força em favor da redução das mortes e da preservação, portanto, da vida das pessoas.
A Sra. é a favor da mudança da data do Carnaval para junho?
Penso que o Carnaval só pode acontecer quando tiver segurança. É preciso que, primeiro, a vacina chegue para que as pessoas possam retomar a atividade festiva, que mobiliza milhões de pessoas, de uma forma segura, essa é a questão. Então, nesse sentido, sou a favor sim de uma mudança no calendário do Carnaval. Eu pretendo, se for prefeita, estabelece uma situação de liberação de taxas para que as pessoas da área de produção cultural possam atuar no ambiente do Carnaval. Quero criar uma espécie de zona franca, pelo menos no próximo ano, . para garantir isonomia numa real situação dramática que vive o setor de cultura e de eventos na nossa cidade. Não podemos ir para o Carnaval com a prefeitura cobrando mesmas taxas, sem nenhum política de isenção. Nós vamos ter política de isenção, entendendo que será uma situação atípica, de retomada. Temos uma ano praticamente, que é o que vai acontecer, sem que o setor de eventos possa trabalhar. Então nós temos que criar um ambiente mais favorável para investimentos no Carnaval e para retomada dessa renda de eventos e desse que é o maior evento mobilizador da cultura, do turismo, na cidade de Salvador.
Na tarde dessa terça-feira, dois partidos do campo da esquerda, o PT e o PSB, anunciaram a aliança em torno da candidatura de Major Denice. Por quê a esquerda não conseguiu formar uma frente ampla para essas eleições?
Acredito que a certeza que haverá dois turnos deixou as principais lideranças políticas de nosso campo com a visão de que era possível fazer, nesse momento, uma apresentação mais plural de projetos políticos para a cidade a afunilar no segundo turno. Eu tenho foco no projeto liderado por mim para essa cidade, que aglutina o PC do B, e diversos representantes dos movimentos sociais, inclusive segmentos que militam até em outros partidos, mas que encontraram em nossa candidatura uma consistência maior, uma perspectiva de afirmação de um projeto consistente, experiente e corajoso para a cidade de Salvador. Estou muito firme com essa construção. Também fizemos sinalizações para outras forças políticas e esse governo vai se movimentar em direção de outras candidaturas, mas acredito que no segundo turno estaremos todos juntos. O governador, o senador Jaques Wagner foram a nossa convenção, discursaram até de maneira emocionada, externando também o apoio deles ao nosso projeto. O fato do PT ter uma candidata não significa que o governador Rui Costa apoiará exclusivamente esta candidata. O governador tem compromisso com sua base e com todas as candidaturas.
Como a Sra., que também é parlamentar da base governista, espera então que o governador Rui Costa se posicione nessas eleições?
Espero que ele prestigie nossas iniciativas, que nos acolha. Até porquê ele é governador como fruto de um esforço conjunto, coletivo. Se ele fosse governador pelo esforço exclusivo de um partido, do PT, por mais que seja o maior partido da esquerda brasileira, certamente não teria condições de chegar. Para ele chegar foi necessário a participação de todas essas forças políticas, do PC do B, do PSB, do Podemos, do Avante, de todos os partidos que hoje compõem a base aliada dele e a reciprocidade é uma necessidade da política. Acredito na grandeza do governador e ele saberá prestigiar, sim, chegar junto nas várias candidaturas que não são a candidatura do seu partido.
Entrando um pouco no aspecto nacional, o STF deve julgar, já com um ministro indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, a suspeição do ex-juiz Sergio Moro na Lava Jato. Qual é a expectativa da Sra. em relação a esse julgamento?
O ex-juiz Sergio Moro agiu abertamente de maneira a garantir os seus interesses políticos menores e isso põe em risco o sistema democrático, o Estado Democrático de Direito. O Judiciário não pode atuar fazendo perseguições políticas a adversários para abrir caminhos a projetos políticos outros se viabilizarem no poder. A maneira como a Lava Jato procedeu abriu caminho para Bolsonaro estar aí hoje, porque foi uma verdadeira perseguição que foi feita ao presidente Lula e a outros expoentes desse campo da política. Essa colagem da corrupção, da tolerância com setores que interessavam ao Sergio Moro e, ao mesmo tempo, a manipulação aberta dos procedimentos legais para mais facilmente chegar ao alvo maior que foi o presidente Lula. O propósito da Lava Jato sempre foi tirar Lula da disputa eleitoral porque se sabia que, se ele fosse candidato, seria hoje o presidente da República e não o Jair Bolsonaro. E nós estamos pagando um preço terrível porque esse presidente que aí está hoje é um presidente que é exatamente o contrário do que nós precisamos nesses tempos de pandemia. No que diz respeito aos interesses nacionais é um presidente que se coloca como vassalo dos interesses dos Estados Unidos, ao invés de afirmar a soberania nacional, um projeto de nação. Portanto, eu espero que Sergio Moro pague dentro do que a lei estabelece, espero que se faça justiça. O combate a corrupção é uma necessidade, mas não se pode fazer dessa maneira como ele fez.
Esse julgamento pode abrir a possibilidade do ex-presidente Lula voltar a ser candidato daqui a dois anos. A Sra. acha que ele ainda é nome natural da esquerda para concorrer a presidência?
Eu sou plenamente a favor da recuperação dos direitos políticos do ex-presidente Lula, considerando tudo o que ele sofreu. Agora, entendo que o presidente Lula é uma grande nome da política nacional, mas temos também outros nomes. O Flávio Dino, por exemplo, é um nome muito forte.
O governador Flávio Dino é maior expoente do PC do B no Brasil hoje? Ele seria o candidato natural do partido?
Sim, na minha avaliação Flávio Dino vem fazendo um trabalho brilhante não só na condução do governo do Maranhão, onde ele derrotou a oligarquia Sarney, que não é pouca coisa, e implantou um governo desenvolvimentista no estado. Hoje ele é uma grande liderança nacional, que discute o Brasil, que pauta um projeto para o país. Então penso que, alem de um nome do PT, temos também o nome de Flávio Dino e de outras lideranças políticas que também certamente até 2022 estarão com seus nomes na cena.
Com todas essas diferenças de visões da política, de mundo, se eleita, como a Sra. pretende se relacionar com o governo federal?
Vou me relacionar com o governo federal buscando aquilo que é direito da cidade de Salvador, que é direito constitucional. Do mesmo jeito que faz o governador Rui Costa, do mesmo jeito que faz o governador Flávio Dino e demais governadores do Nordeste, que são perseguidos e pensam diferente do que pensa o presidente, mas que lutam , que trabalham e fazem valer o direito de seus estados, como procurarei fazer na cidade de Salvador. Eu tenho experiência política, já fui vereadora por dez anos, hoje sou deputada, já fui secretária por três vezes, então eu conheço o lado Executivo e o lado do Legislativo e o lado dos movimentos sociais. São essas as três eleições da política e, portanto, quero sim usar essas experiência para garantir os direitos que a capital baiana tem. Além da experiência internacional com a participação em diversas conferências mundiais. A Conferência do Clima, em 2001, eu fui uma das três oradoras do Brasil, representando os movimentos sociais. Em 2015, a conferência sobre a situação da mulher, atualizando a conferência de Bejin, eu estava lá como secretaria de Políticas para as Mulheres do governo da Bahia. E ano passado, em dezembro, a conferência de populações eu estava também. Fiz palestras em três línguas, fiz debates e, portanto, penso também em atrair, em buscar esforços internacionais. Todos os caminhos serão por mim trilhados pra garantir o êxito de nossa presença na prefeitura de Salvador. E não há mal que sempre dure. Eu acredito que em 20222 a população brasileira fará uma escolha do campo democrático, popular, para retomada de um projeto democrático na presidente da República.
Mudando um pouco de assunto, os protocolos policiais vêm sendo alvos de questionamentos em todo mundo, sobretudo após os últimos casos de violência nos Estados Unidos. Como a Sra. vê essa questão, sobretudo a abordagem policial da população negra?
A violência policial, tendo como alvo a população negra, já é um problema crônico no Brasil e no mundo. O racismo estrutural fundamenta esse descaso, essa autorização tácita da violência contra corpos negros. E nós precisamos sair disso, precisamos repensar, refundar a instituição policial reconhecendo a cidadania de todas as pessoas. A estrutura de segurança pública não pode operar com cuidado em relação aos brancos e ricos, seguindo protocolos legais, e com violência bruta contra as pessoas negras e pobres. Esse é um debate que sempre fiz em minha trajetória de luta contra o racismo. Uma trajetória de mais de 30 anos de militância. E acredito que o que está acontecendo nos Estados Unidos é um alerta que ganha muito peso porque nós nos reconhecemos também naquelas situações. Olha, somente em 2019, a polícia estadunidense matou 259 pessoas negras. Aqui no Brasil foram 4.353 pessoas negras mortas pela ação da polícia. Há inclusive parte do sistema de comunicação que acaba criando uma narrativa que legitima esse tipo de violência. Mas nós não podemos tolerar, não podemos suportar. Temos que trabalhar pela humanização do sistema de segurança pública e pela eliminação do racismo institucional, que resulta do racismo estrutural das forças policiais.
Para concluir, essa campanha, por conta da pandemia, além dela ser mais curta, tem a questão do distanciamento social. Como a Sra. espera convencer o maior número de eleitores para que seja o nome da esquerda no segundo turno?
Vamos percorrer os bairros fazendo pequenas reuniões. Já fizemos um protocolo para nossos pequenos encontros presenciais, dentro do que diz a legislação, a própria convenção do partido, mesmo sabendo que podia reunir até 100 pessoas, reunimos 20 pessoas. Vamos continuar usando as redes sociais, que é um instrumento fantástico e importantíssimo para chegarmos na população e os programa de televisão que vão ganhar um peso muito grande nesse processo eleitora. Nós temos que nos adaptar a nova realidade porque o principal é a segurança e a vida das pessoas.
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