ELEIÇÕES 2024
São Francisco do Conde vive impasse na chapa governista
Prefeito Antonio Calmon tem sido pressionado a ceder vaga de vice para vereador que fez papel oposicionista
Por Da Redação
A cidade de São Francisco do Conde, na região metropolitana de Salvador, tem sido palco de uma disputa política na montagem da chapa encabeçada pelo prefeito Antônio Calmon (Progressistas), que tentará a reeleição no dia 6 de outubro.
Líder absoluto nas pesquisas, Calmon tem sido cortejado e ao mesmo tempo pressionado a ceder a vaga de vice para um vereador que passou todo o seu mandato sendo a principal voz oposicionista. Marivaldo Amaral, vinculado ao deputado estadual e líder do governador na Assembleia Legislativa da Bahia, Rosemberg Pinto, não teve força para levar a Federação Brasil da Esperança (PT, PC do B e PV) a apoiar o atual prefeito e preferiu fazer uma manobra arriscada de se filiar ao PSB e prometer o apoio dos cardeis da esquerda ao projeto de reeleição de Calmon, exigindo a vice.
Sem prestígio
Sob risco de degola em sua vida pública e pendurado no Tribunal Regional da 1ª Região em virtude de condenação por ato de improbidade administrativa e desvio de recursos públicos da prefeitura de São Francisco do Conde, Marivaldo Amaral vem tentando constranger pessoas próximas ao governador para que seu nome seja imposto na vaga de vice de Calmon.
A manobra, contudo, não tem sido bem digerida por alguns cardeais do petismo baiano, que preferem marchar com Ró Valentim, irmã da ex-prefeita Rilza Valentim, falecida precocemente quando exercia seu segundo mandato de prefeita. Ró, que já esteve no União Brasil e é pré-candidata pela Federação Brasil da Esperança, convenceu seus aliados do risco de ter ao lado um vereador condenado pela Justiça Federal por malversação de dinheiro público quando exerceu os cargos de secretário de educação e de fazenda, e desbancou Marivaldo, que teve de se filiar ao PSB e passou a cercar o atual chefe do Executivo da cidade, no intuito de ser seu companheiro de chapa no pleito de outubro.
Veto dos vereadores
Justamente por ter sido a principal voz de oposição, Marivaldo vem tendo seu nome vetado por dez vereadores da base de apoio ao prefeito, encontrando também forte resistência dos movimentos sindicais, das comunidades tradicionais e o que é pior, de comerciantes e de setores do empresariado com forte atuação no município.
“Ele é um político descredenciado, sem lado e murista. Foi oposição o tempo inteiro e agora quer entrar para um governo que tanto criticou”, comentou um colega ouvido por A Tarde mas que preferiu o anonimato.
“Ele deveria ter vergonha, pois o cargo de vice deve ser sempre alvo de convite e Marivaldo tem feito todo tipo de arte para se inserir numa chapa sem ser convidado”, comentou um comerciante que participa da política na cidade.
Prova de sua pífia articulação veio a tona nas últimas semanas, quando a deputada federal Olívia Santana (PC do B) e o senador Jaques Wagner (PT) gravaram vídeos manifestando apoio à candidatura de Ró Valentim. Para pessoas que conhecem o dia a dia da política de São Francisco do Conde, a sinalização de Olívia e de Jaques Wagner, além da inércia do governador Jerônimo Rodrigues em dar gestos de apoio a pretensa chapa Calmon/Marivaldo, demonstram que o vereador tenta vender o capital político e uma relação de prestígio que não detém.
Avante de olho
Tido como um dos principais partidos com musculatura e moral no governo Jerônimo, o Avante, comandado por um dos empresários mais bem sucedidos da Bahia, o ex-deputado federal Ronaldo Carletto, indicou um nome para compor a chapa com Calmon, o do secretário licenciado de Infraestrutura e Meio Ambiente Luizinho Basanez, que possui a confiança do atual prefeito e é bem avaliado por seus projetos em prol da Baía de Todos os Santos, em parceria com empresários e com os municípios de Madre de Deus e Candeias.
Atuação conjunta do então secretário de infraestrutura e meio ambiente de São Francisco, com o prefeito Dailton Filho (PSB) de Madre de Deus, com o Inema e em um pleito conduzido sob a direção da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado, resultou em um aporte de mais de R$ 150 milhões de reais feitos pela Petrobras/Acelen, que já estão disponíveis para a SEMA, visando a consecução de projetos para melhoria no entorno da Baía de Todos os Santos.
Luizinho conta ainda com o apoio do deputado federal Pastor Sargento Isidório, que foi o parlamentar mais votado nas duas últimas eleições na cidade e teria o direito de ser ao menos consultado pelo governador. Com forte atuação em todo o recôncavo baiano pelo trabalho desenvolvido com a Fundação Jesus, Isidório é a favor da dobradinha entre os Progressistas e o Avante.
O parlamentar entende que seu partido possui musculatura suficiente para ter a vice, porém diferente de Marivaldo, não usa da prática de colocar a faca no pescoço. A aliados, Isidório tem afirmado que seu partido é da base do governador e deve ser o escolhido, caso seja essa a vontade do prefeito, que teria a palavra final sobre a indicação. Luiz Henrique foi entrevistado ontem (26) pelo comunicador Jutan Araújo no programa “No Comando da Notícia” que foi transmitido pelas Rádios Sauipe FM e Mix Bahia:
“Sou presidente do Avante, eu não sou candidato a nada, coloquei o meu nome e o credenciei para isso e aqui agradeço ao presidente nacional Tibé, ao vice-presidente Ronaldo Carletto e ao deputado federal Capitão Isidório”. Luizinho afirmou também que “não existe essa questão de forçação de barra, de imposição, [isso] nunca fez parte de meu currículo. Eu me credenciei como uma opção como tem lá várias”.
Sem tecer qualquer crítica ao concorrente Marivaldo Amaral, que vem sendo acusado de disseminar agressões em perfis falsos e em aplicativos de mensagens contra pessoas que discordam de seu ingresso na chapa governista, Basanez viu suas chances crescerem ainda mais ao afirmar que “lá tá como uma opção, acho que é de foro íntimo a escolha dele, pessoal e familiar, acho que essa escolha passa pelo eco das ruas, pelo eco da Câmara de Vereadores e das lideranças, mas a prerrogativa da indicação é dele [do prefeito] e não sou eu que vou dizer que sou candidato, mesmo porque não acredito na candidatura de vice, acredito é na indicação do vice”, o que agradou os membros da Câmara Municipal.
A colocação foi um recado indireto porém duro ao vereador Marivaldo, que tem se colocado como vice intransigentemente sem ser indicado. “O que esteve inicialmente acordado era Marivaldo ser vice pela federação do PT/PC do B e PV e ele falhou nessa missão. Depois ele foi para o PSB numa espécie de barriga de aluguel e continuou insistindo que garantiria o apoio do governador, o que também não aconteceu até agora”, afirmou uma fonte da Câmara Municipal.
Outro político da região que tem defendido o nome de Basanez é o prefeito de Madre de Deus, cidade vizinha e comandada por Dailton Filho, do PSB, também integrante da base governista estadual.
Postura conflagrada
Além de todos os atributos negativos de Marivaldo Amaral, dentre eles a condenação por desvio de dinheiro público e seu perfil então agressivo à gestão de Calmon e aos vereadores da base, outros mais graves vem cada vez mais inviabilizando uma parceira com o atual gestor.
Nas últimas semanas Amaral teria divulgado textos anônimos criticando empresários e ameaçando pessoas que pretendem apenas uma formação de aliança entre o governo estadual e o prefeito. Jerônimo Rodrigues, de perfil conciliador, não esconde que pretende aumentar o arco de prefeitos para fazer frente a um novo embate com Acm Neto (UB), que fez um duro discurso na convenção de Bruno Reis, no último dia 25 no Centro de Convenções.
A contundência das críticas ao governo e ao governador deixou claro que Neto não irá abrir mão do que chamou de “sonho de governar a Bahia”. Segundo apurou A Tarde, é quase unânime na cidade o entendimento de que ter o Avante na chapa é muito mais razoável do que ter um vereador que sempre destilou rancor ao atual prefeito. Para o entorno da base, Calmon, que sempre apoiou o deputado estadual Rosemberg Pinto e tem como secretária de educação a irmã do ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, jamais mereceu o tratamento dado por Marivaldo.
Apesar de ter sua irmã à frente de uma das mais importantes pastas na cidade, Rui Costa teria externado a pessoas mais próximas que sua posição no município será de neutralidade, já que todos os postulantes, inclusive o próprio Calmon, foram parceiros de sua gestão até 2022. O prefeito ainda não foi recebido para uma conversa de olho no olho com o governador para tratar de apoio e de problemas institucionais do município, que poderão ser resolvidos facilmente se a parceria der certo.
Outro partido que integra a base do governador e que tem musculatura para interceder no entrave é o PSD do deputado federal Paulo Magalhães. Segundo informações, Magalhães já teria avalizado pelo nome de Luizinho e teria afirmado que se trata “de um cidadão de bem e que possui todas as credenciais políticas e de caráter para ser vice de Calmon”.
Posição de Calmon
Habilidoso, o atual prefeito disse que pode vir a dobrar com Marivaldo, mas desde que seja realizado o tão prometido apoio ou aval do governador. Ao seu grupo, tem afirmado que a política é feita para construir relações em prol da população e o fato de Marivaldo ter sido seu duro opositor não o impede de estar na chapa, desde que a vontade da parceria com o governo do estado seja recíproca.
A convenção para sacramentar o fechamento da coligação do atual prefeito será realizada amanha (28) a partir das 09:00 horas e segundo apurações feitas por A Tarde, caso o governador ou seus principais aliados, dentre eles o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil Rui Costa, não ratifiquem o apoio prometido por Marivaldo, suas chances de ser vice ficam reduzidas a zero.
Problemas com inegebilidade
Além de todo o entrave político, a condenação de Marivaldo, que hoje depende apenas de um julgamento no TRF1 para corroborar a suspensão de seus direitos políticos já ordenada pela Justiça Federal de Salvador, é mais um ponto de extrema tensão na equipe jurídica de Calmon. Se o tribunal, com sede em Brasília, confirmar a sentença condenatória antes do dia 6 de outubro, toda a chapa, mesmo vitoriosa, deverá sofrer um recurso contra expedição de diploma e tanto o vice quanto o prefeito podem ser cassados pela TRE-BA. A legislação exige que a substituição de candidatos deve ocorrer 20 dias antes da eleição, porém existe dúvida se a substituição depende da anuência do candidato ou não, fator que tem atrapalhado a inclusão de Marivaldo na chapa de Calmon.
A TARDE vem tentando, sem sucesso, ouvir as assessorias do senador Jaques Wagner e do governador Jerônimo Rodrigues para saber se apoiam a reeleição do prefeito ou caminham com a candidata da Federação Brasil da Esperança, Ró Valentim. O espaço está aberto para emissão de nota ou esclarecimentos.
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