ELEIÇÕES 2024
Ser negro não determina voto, diz vice de Mário Kertész

Por Biaggio Talento
Administrador de empresas, Nestor Neto, 31 anos, é presidente da Juventude do PMDB e ficou conhecido por ser um dos líderes da revolta do buzu, ocorrida em 2003 em Salvador, quando estudantes fecharam as ruas para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus. Ele disse que será um vice participativo e quer influenciar nas políticas de governo.
A TARDE - Para que serve um vice?
Nestor Neto - Tem um papel fundamental numa administração. Primeiro porque se deturpou ao longo dos anos o papel do vice, que era a de compor representativamente o grupo político que estava organizando estrutura de poder. Hoje cumpre papel de orientar o prefeito naquilo que se faz necessário nas políticas públicas, nas áreas da educação, saúde, mobilidade. Não só apto para assumir numa eventualidade, mas participar da gestão.
A TARDE - O vice pode ser incômodo quando tem divergências com o prefeito, como ocorreu com o prefeito João Henrique e seu vice Edvaldo Brito, de competência comprovada, mas que foi subaproveitado na administração. Teme que isso possa ocorrer com você?
Nestor Neto - Não. Nas composições de chapas em 2008, o que permeou (as alianças) foram partidos que pudessem alavancar as eleições. O pleito deste ano é diferente. O vice foi uma escolha pessoal do candidato a prefeito, baseado um pouco na história política dele (Mário Kertész), que teve, quando jovem, oportunidade de ocupar uma secretaria de Estado importante na época (Planejamento) e que pôde desenvolver seu trabalho. Acho que Mário viu em nós a possibilidade de oportunizar os jovens soteropolitanos que não tinham perspectiva, esperança. Ele trazendo um vice jovem está dizendo a essas pessoas que haverá oportunidade, um governo que vai pautar a juventude como agenda número-um.
A TARDE - O senhor pensa em assumir uma secretaria caso o PMDB chegue ao Palácio Thomé de Souza?
Nestor Neto - Minha preocupação muito clara é com a cidade, com a inclusão dos mais pobres, que é ver a periferia de Salvador ter respeito, atenção do poder público.
A TARDE - E o senhor se acha com força para, como vice, ter esse tipo de influência de direcionamento das políticas públicas?
Nestor Neto - Sem dúvida. Agora é evidente que, se o prefeito determinar nossa escolha para ocupar uma secretaria de ação social, educação, nós estaremos aptos para desenvolver o trabalho e contribuir para a cidade.
A TARDE - Como o senhor vê essa estratégia de os candidatos a prefeito escolherem vices negros. Isso lhe incomoda, acha que é um uso indevido...
Nestor Neto - Alguns partidos tentaram iniciar esse debate na perspectiva de delimitar o espaço político do negro. A nossa avaliação é que o PMDB não pautou isso como crucial para a escolha de um vice. Buscou alguém que tem a cara da cidade, alguém que conhece os problemas das pessoas, que convive na periferia, que sabe os grandes gargalos, as dificuldades que não só os jovens enfrentam, mas os velhos. Ou seja, as pessoas que têm essa dificuldade causada pela ausência do poder público. Talvez o DEM tenha procurado pautar o vice a partir de uma política de gênero, tentar fazer um link com uma presidente da República, mas uma ideia folclórica. Já o PT compôs uma chapa com uma vereadora negra, militante, para dar uma resposta àquilo que já estava posto, porque a vice não seria Olívia Santana. Primeiro se prometeu ao PSD, depois ao PDT, ao PSC, depois direcionada a Alice Portugal para que ela abrisse mão da candidatura. E aí, no apagar das luzes, surge Olívia Santana tentando construir um discurso, mas a sociedade não é boba, sabe que isso foi mais uma resposta àquilo que já estava dado como certo.
A TARDE - Não seria uma ingenuidade dos grupos políticos imaginar ser possível sensibilizar o cidadão negro a votar numa chapa pelo fato de haver nela um afrodescendente?
Nestor Neto - O que está em xeque não é o fato de ser negro, branco, pardo, amarelo. O que está em xeque são os gargalos da cidade. Se pautarmos a campanha com debate de quem é negro ou branco, a gente não vai construir uma cidade para todos.
A TARDE - O que o senhor achou da declaração de Olívia Santana que todo movimento negro só apoiava ela?
Nestor Neto - Uma bobagem. Os negros não têm donos, são livres para votar. Não posso me arvorar a dizer que todos os negros de Salvador vão votar em mim. Isso é um debate menor. O fato de sermos negros não determina que vão votar em nós.
A TARDE - O senhor foi um dos líderes da revolta do buzu. Nesses próximos quatro anos, se o PMDB vencer não vai poder fomentar esse tipo de manifestação. Vai ter que enfrentar o aumento da passagem de ônibus...
Nestor Neto - A gente vai liderar, mas num caminho diferente. A revolta do buzu surgiu pela ausência do diálogo do poder público não comprometido com as pessoas. Vamos aproximar a vontade dos estudantes do poder.
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