Andrei Roman: "Pesquisas são indispensáveis para a democracia" | A TARDE
Atarde > Política > Eleições 2024

Andrei Roman: "Pesquisas são indispensáveis para a democracia"

Segundo o CEO da AtlasIntel, as pesquisas possibilitam aos eleitores uma atuação estratégica na decisão

Publicado sexta-feira, 15 de julho de 2022 às 00:07 h | Atualizado em 15/07/2022, 07:37 | Autor: Osvaldo Lyra
Andrei Roman, CEO do instituto AtlasIntel
Andrei Roman, CEO do instituto AtlasIntel -

O Instituto AtlasIntel é uma empresa análise de negócios com tecnologias de big data de ponta que fornece insights sólidos, baseados em metodologias científicas testadas. Segundo o CEO do instituto, Andrei Roman, as “pesquisas são indispensáveis para o bom funcionamento da democracia”.

De acordo com ele, a metodologia de coleta web, usada pela Atlas para pesquisas eleitorais, é bastante frequente no contexto internacional”. Inclusive, “o Atlas é o único instituto brasileiro com forte atuação internacional”. Confira:

Andrei, como surgiu o Instituto AtlasIntel e onde vocês atuam hoje?

A Atlas é uma empresa de tecnologia e inteligência de dados, então, além de pesquisas de opinião a gente tem diversos outros produtos de inteligência. A gente trabalha com processamento de dados em formato de texto, com monitoramento de redes sociais, com algoritmos computacionais para modelos probabilísticos... Diversos outros desafios, além da parte das pesquisas de opinião. Sendo que desde o início, a Atlas teve uma forte ascensão para essas metodologias de pesquisa por dois motivos. Primeiro, por conta da minha formação. Eu sou economista e cientista político. Fiz meu doutorado nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, foi lá que conheci o Thiago Costa, nosso chefe de tecnologia. O Thiago também é estatístico em matemática aplicada. Então, a Atlas reúne as trajetórias profissionais de nós dois e, por conta disso, eu como cientista político trago todo um interesse para aplicar os nossos métodos no ambiente político. Em segundo lugar, porque a gente teve uma demanda logo no início das nossas atividades, em 2017, de prover para o mercado financeiro uma ferramenta que poderia antecipar a evolução do cenário político. Em um ano eleitoral, principalmente, os movimentos do mercado são muito impactados pela postura dos candidatos e pela leitura sobre o cenário político como um todo. E pesquisas também de outros institutos, como também as nossas, podem fazer um peso quando elas são divulgadas, têm uma certa repercussão e mostram alguma mudança de tendência ou fortalecimento de um ou outro candidato. Aí a gente essencialmente descobriu que para ter uma frequência tão alta na análise dos números, a única fórmula viável para fazer esse tipo de coleta seria a partir de uma coleta digital, com questionários estruturados em formato web. E foi justamente isso que a gente fez. A gente inovou no contexto brasileiro. A metodologia de coleta web para pesquisas eleitorais e políticas é algo que é bastante frequente no contexto internacional, nos Estados Unidos, na Europa, em quase todos os países da União Europeia, por exemplo, as pesquisas eleitorais hoje em dia são conduzidas principalmente via internet.

Qual o ambiente de pesquisas que vocês atuam hoje no mercado?

O Atlas é provavelmente o único instituto brasileiro com uma forte atuação internacional. Além de atuar no Brasil, temos pesquisas e produtos nos mercados mais importantes da América Latina, na Argentina, Chile, Colômbia, México, todos esses países a gente também conduziu pesquisas eleitorais, inclusive pesquisas recentes. Também temos uma atuação nos Estados Unidos e  em alguns mercados europeus. Então, o primeiro ponto que nos separa de outros institutos é que a gente tem uma ampla experiência de pesquisas políticas. Além disso, além de ter essa abrangência internacional, em comparação com nossos competidores, a gente também tem uma trajetória de precisão e qualidade que é comprovada a partir de resultados recentes nossos em ciclos eleitorais em outros países. 

Para a gente ter um resultado positivo de uma pesquisa, vários elementos devem ser levados em consideração, mas talvez um dos mais importantes deles é justamente a metodologia. Qual a metodologia utilizada por vocês no Instituto Atlas e que diferencia vocês do mercado?

A gente usa uma coleta web através de questionários estruturados que são respondidos por nossos usuários em plena anonimidade, no conforto das suas casas, enfim, no contexto em que eles se encontram quando acham essas pesquisas a partir de anúncios aleatórios disparados pelo nosso sistema de publicidade digital. Então, um usuário que está fazendo qualquer tipo de atividade em uma tela de smartphone, por exemplo, lendo uma notícia, fazendo uma busca no Google, assistindo um vídeo no YouTube, fazendo alguma compra online, conversando com amigos em um aplicativo de mensagem. Em qualquer uma dessas situações, esse usuário pode se deparar com um convite pago pelo Atlas que vai aparecer para esse usuário como sendo um anúncio publicitário para responder o questionário de pesquisa. A gente tem diversos desafios metodológicos no processo de coleta desses dados, e também no processo de calibragem amostral, porque não todas as pessoas têm um smartphone, ou sabem ler, a gente tem também analfabetos no Brasil. Pessoas mais velhas têm uma facilidade menor com o uso de tecnologias, pessoas do interior vão achar esses questionários nossos com uma frequência menor do que outras respondentes. Então, as amostras iniciais que a gente coleta têm um desafio que sistematicamente super representarão algumas demografias. Eleitores mais jovens, com maior escolaridade, provavelmente mais ricos, pessoas talvez mais politizadas também. Então, todos esses padrões, super representações de grupos específicos, eles constituem desafios para a nossa metodologia. Por conta disso, a gente conta com uma metodologia que incorpora um estudo sistemático desses padrões de resposta, principalmente para corrigir a eventual super ou sub representação de grupos específicos. A gente vai saber exatamente quais são os grupos que a gente está de alguma forma super ou sub representando e a gente vai incorporar ajustes metodológicos para lidar com isso.

Temos exemplos que indiquem a confiabilidade desse tipo de pesquisa? Ou a tecnologia chega justamente para suprir eventuais falhas humanas nesse processo de amostragem junto à população?

Em princípio sim, porque existem várias fontes de erro e possível viés também em pesquisas presenciais e telefônicas. Uma fonte muito relevante no contexto atual de se estudar é justamente o impacto da interação humana no processo de coleta por conta de uma eventual reticência, alguns diriam até vergonha de alguns eleitores em termos de declarar sua opção, sua preferência real para um candidato específico. Então, no caso, nem sequer é necessariamente um erro metodológico dos institutos. É o comportamento dos entrevistados a partir de um processo psicológico, em que na tentativa de se estabelecer uma relação mais harmoniosa com o entrevistador, você tende a moderar alguns posicionamentos e esconder outros posicionamentos que você tem de fato. O que as pesquisas presenciais e telefônicas não conseguiam até hoje fazer também é entender como lidar e como corrigir as amostras em decorrência desse fenômeno. Em pesquisas presenciais também existe uma outra questão, me parece, principalmente nas pesquisas em ponto de fluxo, que cada vez está ficando mais difícil você supor que dentro de um ponto de fluxo, no acesso de uma cidade, você realmente vai capturar todo o universo da população que você estuda. Ou seja, que todas as categorias, grupos sociais, grupos ocupacionais, vão estar transitando pelo ponto de fluxo com a mesma probabilidade com a qual você poderia achar eles a partir de uma abordagem realmente probabilística. Por que eu estou dizendo isso? Cada vez mais existe um grupo significativo da sociedade que transita pela cidade apenas de carro, se deslocam da casa até o local de trabalho de carro, depois vai para o shopping de carro, e simplesmente não se encontra mais na rua e nesses pontos mais populares da cidade. E isso também tem implicações sobre o resultado eleitoral, visto que muitas vezes existe uma certa polarização em termos de renda nas preferências eleitorais, os pobres e os ricos de fato votam de maneira bastante diferente.

Como está a atuação do instituto Atlas hoje quanto à realização de pesquisas eleitorais no Brasil?

Atlas ao longo do tempo constituiu um grupo de clientes de pesquisas privadas de alta frequência. No contexto desse ciclo de 2022, a gente conta com um grupo de assinantes que são talvez as maiores instituições financeiras do País que estão assinando o nosso serviço de inteligência. Tanto as pesquisas de alta frequência como também outros grupos de dados que a gente usa para fazer a leitura do cenário político e econômico. Alguns dos nossos indicadores são puramente focados em termos de fazer uma previsão do resultado eleitoral, outras são mais voltadas à previsão e cenário econômico. E ao mesmo tempo, Atlas também tem uma série de parcerias de mídia que foram constituídas ao longo do tempo e a gente também sempre está buscando outros parceiros para fazer a divulgação dos nossos estudos. A gente teve ao longo do tempo uma excelente colaboração com veículos como o El País. A gente também trabalhou com a Band. Também trabalhamos bastante bem com o Valor Econômico. E nossas pesquisas também foram feitas... Algumas pesquisas exclusivas foram feitas para outros veículos, como o Estadão, CNN Brasil. Então, a gente está sempre à disposição de veículos de mídia, alguns deles com uma abrangência nacional, outras com recorte regional para fazer a divulgação dos nossos números.

Até talvez pela condição digital em que o instituto atua, isso acaba gerando e tendo uma operação mais barata, porque você não tem um custo da aplicação do questionário presencial, por exemplo, o que acaba tornando mais caro o produto pesquisa?

Sim. As nossas pesquisas realmente são mais baratas do que as metodologias tradicionais. Para uma pesquisa pontual, realmente a diminuição de custo é significativa. Eu acho que isso é algo muito bom, principalmente levando em conta que a qualidade das nossas pesquisas é muito boa. Então, você consegue ao mesmo tempo ter uma pesquisa de excelente qualidade e reduzir o custo do seu investimento.

Como você enxerga a contribuição das pesquisas eleitorais nesse processo de fortalecimento da democracia? Elas ajudam mais ou atrapalham, como a gente está vivendo agora um ano eleitoral no Brasil? 

As pesquisas são indispensáveis para o bom funcionamento da democracia. São absolutamente indispensáveis porque sem elas a gente estaria completamente no escuro com relação ao ânimo da população, às demandas que a população tem, aos anseios. Seria muito difícil para o candidato construir propostas responsivas às demandas sociais sem qualquer tipo de leitura mais científica sobre o que a população demanda, sobre qual é o pensamento dessa população em relação às políticas públicas, ao andamento do País, às reformas econômicas propostas, a questões absolutamente cruciais referentes à educação, saúde. Mais do que isso, as pesquisas possibilitam aos eleitores uma atuação estratégica. 

Para finalizar, qual a sua expectativa para o início dessa parceria com o Grupo A TARDE e a chegada de vocês à Bahia?

Eu fico muito empolgado com a nossa parceria com o Grupo A TARDE. A Bahia tradicionalmente é um estado onde as pesquisas, vamos dizer, não têm tido um desempenho tão bom, justamente porque o quadro político é bastante volátil. Muitas vezes as preferências se formam no final, o nível de conhecimento dos candidatos em ciclos eleitorais anteriores era muito díspar, alguns com nível de conhecimento muito alto, outros com nível de conhecimento bem mais reduzido. Então, surpresas aconteceram em nível maior na Bahia comparando o resultado eleitoral com as pesquisas. Por isso, ao mesmo tempo é um desafio para a gente e uma oportunidade em termos de mostrar nosso trabalho. Eu acho que a Bahia é um dos colégios eleitorais mais importantes do País, não apenas por conta da sua dimensão em termos de proporção do eleitorado, também porque nessa eleição de 2022, a gente verá na Bahia uma competição muito interessante entre candidatos com altos níveis de popularidade. Espero que a gente consiga fazer uma leitura muito útil dessa eleição. Será uma eleição muito interessante, tudo indica uma eleição bastante apertada até o final. Muito provavelmente a gente vai chegar no segundo turno, e que no segundo turno será uma eleição bastante disputada. Então, nesse contexto, estou bem satisfeito com a parceria, espero que seja apenas o início de uma colaboração de longo prazo entre a Atlas e o Grupo A TARDE.

Publicações relacionadas