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ELEIÇÕES

Apenas 4 dos 39 deputados federais da Bahia se declararam pretos

Apesar disso, lideranças políticas comemoram votação expressiva em candidaturas com este perfil racial

Por Dante Nascimento

04/10/2022 - 12:40 h | Atualizada em 04/10/2022 - 21:43
Deputado Valmir Assunção (PT) foi reeleito deputado federal
Deputado Valmir Assunção (PT) foi reeleito deputado federal -

Dos 39 deputados federais eleitos pela Bahia, apenas quatro se declararam pretos, um a menos do que em 2018. São eles: Valmir Assunção (PT), Márcio Marinho (Republicanos), Antônio Brito (PSD) e Pastor Sargento Isidório (Avante). Já o número de pardos aumentou de 14 para 17 nesta eleição.

Num ano em que candidatos pardos e pretos passaram a ter direito a recursos do Fundo Eleitoral, o cenário expressa uma grave contradição. Esses dois grupos raciais representaram cerca de 78% das candidaturas registradas no estado junto ao Tribunal Regional Eleitoral da Bahia.

“O racismo estrutural faz com que a população negra diminua sua participação em cargos e posições de destaque na vida social, de modo geral. Não é só um problema eleitoral. E quando chega a hora das eleições, o povo negro já entra numa posição desfavorável. A pouca participação não diz respeito apenas a algum tipo de bloqueio eleitoral, já vem de antes”, explicou o cientista político Jorge Almeida, professor da Universidade Federal da Bahia, ao Portal A TARDE.

Segundo ele, os candidatos brancos já têm acúmulo de capital político e saem em vantagem na corrida eleitoral.

“A própria possibilidade de disputar espaços na direção dos partidos, nas candidaturas, nas assessorias partidárias, nas lideranças da sociedade civil, já traz uma diminuição de potencial de disputa nas eleições”.

Votações expressivas

Apesar de estatisticamente o número de candidatos pretos eleitos ainda ser baixo, lideranças políticas comemoraram votação expressiva que algumas candidaturas com este perfil conquistaram nestas eleições. Reeleito deputado federal, Valmir Assunção (PT) destacou a força do voto racial e feminino na Bahia.

“A votação que houve, principalmente, em mulheres negras, em Salvador, com Vilma Reis, Maria Marighella e Marta Rodrigues, foi muito expressiva. O que também ocorreu na disputa para a Assembleia Legislativa da Bahia, com Olívia Santana, uma referência para todos nós, a exemplo de Lucinha, que é uma mulher negra, mostrou também uma votação expressiva. Isso revela a força da população negra no nosso estado também”, avalia Assunção.

A vereadora Marta Rodrigues (PT) alcançou mais de 53 mil votos na disputa por uma vaga na Câmara Federal. De acordo com ela, candidaturas “negras de esquerda da Bahia” fizeram um “belíssimo trabalho”, levando às ruas o debate e identidade do povo negro.

“Por mais que o resultado não tenha sido esperado, deixamos uma marca positiva muito grande na sociedade, pois pautamos as questões que realmente são pertinentes à população: não subimos para as cadeiras, mas colocamos o debate em voga e em evidência mais uma vez. Ainda temos uma longa caminhada para conquistarmos equidade de gênero e racial nos espaços de poder, inclusive no Congresso Nacional, onde apenas 15% são mulheres e apenas 2.6% são mulheres negras”.

Marta considera que o Brasil vive uma onda conservadora e reacionária, onde o racismo persiste. “Há uma dificuldade em eleger pessoas negras para os espaços de poder que é consequência dos resquícios da colonização que sofremos, dos resquícios da escravidão”, opina.

Autodeclaração causa polêmica

A identificação racial dos candidatos, feita por meio de autodeclaração, causou polêmica este ano. A determinação da Justiça Eleitoral para que parte dos recursos do Fundo Eleitoral fosse destinada a candidatos negros, como forma de combater a desigualdade na política e o racismo estrutural, gerou situações atípicas.

Casos curiosos como o do deputado federal reeleito Elmar Nascimento (União Brasil), que alterou a condição racial entre as duas últimas eleições gerais. Há quatro anos, ele disse ser branco, mas em 2022 alterou para pardo.

Mas a polêmica em torno da autodeclaração ganhou repercussão nacional mesmo após ACM Neto (União Brasil) informar ser pardo no registro da sua candidatura ao governo da Bahia. Houve muitas críticas de adversários e entidades negras, que entenderam que o ex-prefeito de Salvador distorceu a informação racial para se beneficiar dos recursos públicos.

“É preciso fazer um grande debate na sociedade, o debate que houve em Salvador, sobre o prefeito que se tornou chacota nacional e internacional. Fazer com que as pessoas possam refletir e entender o que é o racismo no país. Isso ajuda as pessoas a terem consciência”, frisa Valmir Assunção.

O deputado federal alerta que não se vence o racismo por “decreto” ou “do dia para a noite” e que é preciso investir em conscientização e dar início a um debate amplo sobre a questão racial no Brasil, inclusive dentro do processo eleitoral.

“Temos que levar em consideração se eles [candidatos que se declararam pardos ou negros] são socialmente negros ou não. Esse é um debate que nós temos que fazer na sociedade. Temos que reaver esse debate, sobre como participar da política de cotas pessoas socialmente brancas e que querem se caracterizar como pardos para se beneficiar das políticas raciais no nosso país”.

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