PREGAÇÃO ELEITORAL
Bolsonaro pede votos ao vivo durante culto evangélico em Salvador
Deputado próximo ao presidente revelou que ele tem "carinho" por ACM Neto e apoia a sua candidatura na Bahia
Por Dante Nascimento
O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu votos de forma explícita a fiéis que acompanhavam um culto evangélico na noite desta quarta-feira, 19, em Salvador, prática proibida pela legislação eleitoral.
O candidato à reeleição falou durante cerca de cinco minutos, por meio de chamada telefônica de vídeo, feita pelo deputado federal Otoni de Paula, do MDB do Rio de Janeiro, que participou presencialmente de encontro na Igreja Batista Filadélfia, no bairro da Caixa D'Água. A reportagem de A TARDE acompanhou o evento, que também foi transmitido nas redes sociais da igreja.
Bolsonaro destacou que a Bahia é o quarto maior colégio eleitoral do Brasil e classificou como "monumental diferença" a distância que Lula (PT) conseguiu imprimir no estado, ao conquistar quase 70% dos votos no primeiro turno.
"A diferença de votos foi enorme. Três milhões e meio de votos a mais para o PT. Eu espero, aqui, que reduza essa monumental diferença. A Bahia está praticamente decidindo o futuro que quer para o Brasil. Peçam aos irmãos aí, aos amigos, que trabalhem, convençam pessoas que votaram do outro lado, mostre a verdade pra eles, o nosso João 8:32, se faça presente, pra gente reduzir essa diferença e compensar no restante do Brasil, para que a gente possa obter a vitória" disse o presidente, enquanto sua imagem era retransmitida num telão, no interior da igreja.
"Não queremos a volta ao passado, de corrupção, de descaso, e desgaste, corrosão para com as nossas famílias. É o que eu peço a vocês: empenho, trabalho pra gente diminuir essa diferença na Bahia", cobrou o presidente, que vai visitar o estado na próxima terça-feira, 25.
Durante o culto, lideranças evangélicas traçaram como estratégia reverter entre 500 mil e um milhão de votos na Bahia a favor da campanha bolsonarista.
Bolsonaro não fez nenhuma avaliação sobre o cenário eleitoral em torno da disputa pelo governo baiano. Coube ao deputado Otoni de Paula, que também é pastor, revelar que ainda esta semana deverá ser feita uma “convocação nacional de uma guerra cívica única contra o mal iminente de uma possível vitória na esquerda nos estados que ainda têm segundo turno".
Carinho e apoio de Bolsonaro a ACM Neto
Segundo o parlamentar, Bolsonaro vai se posicionar a favor de todos os candidatos que tenham adversários do campo da esquerda, mesmo aqueles de quem não tenha recebido ainda apoio oficial, como é o caso de ACM Neto (União Brasil), que desde o início da campanha se diz neutro em relação à disputa presidencial. O ex-prefeito de Salvador terminou em segundo lugar no primeiro turno, atrás nove pontos percentuais de Jerônimo Rodrigues (PT), que lidera as pesquisas de opinião para o dia 30 de outubro.
Otoni de Paula, figura vista com frequência no Palácio do Planalto e que faz por vezes a função de conselheiro presidencial, destacou que ACM Neto só não declarou apoio público a Bolsonaro "por uma questão política", mas que os dois estão do mesmo lado. "Bolsonaro tem um carinho muito grande pelo ex-prefeito ACM Neto, já manifestou isso publicamente muitas vezes. Já tinha uma admiração pelo seu avô, ACM, e transferiu esse carinho para o seu neto, o ex-prefeito ACM Neto", revelou.
O deputado ainda justificou que a necessidade de "derrotar a esquerda na Bahia" une ACM Neto e Bolsonaro. "A única forma que temos hoje, já que o candidato João Roma não chegou ao segundo turno, é a aliança com ACM Neto. Se ela não se der de forma imperativa, de forma incisiva por nós, a neutralidade significa voto na esquerda. Portanto, quem optar pela neutralidade nesse momento, entenda, está declarando apoio a Jerônimo, está declarando apoio ao PT".
Ataque à campanha de Lula e defesa do governo
Durante a fala aos fiéis, Jair Bolsonaro procurou estabelecer uma divisão radical entre as duas candidaturas presidenciais, no universo da chamada pauta de costumes.
"Nós vamos escolher a forma de governar o nosso Brasil. O que nós queremos. Se é liberdade, se vai ter ideologia de gênero, se vai ter aborto, liberação das drogas, desrespeito à propriedade privada. Se o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] vai voltar a emprestar dinheiro para outros países. Ou seja, quem vai ser a primeira-dama. Tem duas aí", disse.
O culto ainda contou com a participação do deputado estadual eleito Leandro de Jesus (PL), que, assim como o pastor e presidente da Igreja Batista Filadélfia, Jorge Bezerra, também defendeu o voto em Bolsonaro durante discurso no púlpito, inclusive citando a facada sofrida pelo então candidato em 2018.
A participação da família Bolsonaro em cultos religiosos tem sido cada vez mais comum neste segundo turno, onde o voto é solicitado de forma explícita, assim como os ataques contra a campanha de Lula, acusada, por exemplo, de querer fechar igrejas num futuro governo.
Para combater fake news no campo religioso, Lula lançou também nesta quarta uma carta aos evangélicos, por meio da qual se compromete em continuar respeitando a liberdade de práticas religiosas e o estado laico.
Igrejas não podem pedir votos
O ato de pedir voto dentro de igrejas configura irregularidade, prevista na legislação eleitoral. A lei 9.504, de 1997, proíbe propaganda de qualquer natureza em espaços classificados como "bens de uso comum", e que são objeto de cessão ou permissão do poder público. É o caso de templos religiosos, cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada.
A proibição também se estende quando a ataques a adversários, a chamada campanha negativa, e a multa estabelecida é de R$ 2 mil a R$ 8 mil.
Juristas ouvidos pela reportagem acreditam que o máximo que esses espaços podem fazer em relação ao processo eleitoral é "conscientizar o eleitor da importância do voto", sem indicar preferências.
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