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POLÍTICA

Felipe D'Avila: “A política precisa reconectar com as pessoas“

Pré-candidato considera que “democracia brasileira está em risco”

Por Osvaldo Lyra

09/05/2022 - 6:15 h
Felipe D'Avila, pré-candidato do Partido Novo ao Palácio do Planalto
Felipe D'Avila, pré-candidato do Partido Novo ao Palácio do Planalto -

Cientista político e fundador do Centro de Liderança Pública, Felipe D'Avila tem um novo desafio: ele foi alçado à condição de pré-candidato do Partido Novo ao Palácio do Planalto, em Nossas uma eleição que já se mostra bastante tensionada. Para ele, “a política precisa reconectar com as pessoas“. “Nós estamos desesperançosos, deprimidos e preocupados”. Ao falar dos desafios da economia, D'Avila enfatizou que “o rompimento do teto dos gastos vai afetar a vida do brasileiro”. Sem contar que "temos R$42 bi para investir e R$450 bi para pagar de juros".

Pré-candidato do Partido Novo ao Palácio do Planalto, como tem sido a receptividade de sua candidatura? Como tem sido essa fase inicial da campanha?

Primeiro, a política precisa reconectar com as pessoas. E o jeito de reconectar com as pessoas é andar pelo país. É gastar sola de sapato e conversar. Entender as aspirações, os medos, os sonhos, as aflições do povo brasileiro. A política está muito distante, a política está muito enclausurada demais em palácio, ou nessas bolhas do radicalismo ou da polarização. Então, eu estou tendo uma oportunidade de ouro de conversar com as pessoas. Isso faz toda a diferença. Essa caminhada pelo Brasil todo, estive na Bahia recentemente, isso mostra algo muito interessante, que evidentemente não é capturado em pesquisa hoje, mas certamente será capturado na hora de votar em outubro. Duas coisas que chamam muita atenção: primeiro, o brasileiro em geral não está preocupado com a eleição nesse momento. Ele está preocupado em pagar os boletos, está preocupado em ir ao supermercado e seu dinheiro comprar cada vez menos alimentos. Está preocupado ao encher o tanque do carro e ver que cada vez consegue colocar menos gasolina porque o preço está cada vez maior. Ou comprar um botijão de gás e só ver o preço subir. Então, as aflições do brasileiro hoje são muito mais imediatistas, e com toda a razão. Então, a eleição ainda não entrou no radar. E a segunda coisa interessante é que 65% dos brasileiros dizem que o Brasil está no caminho errado. Isso é um dado importante. Se está no caminho errado, não vejo como votar em dois populistas, um de direita e outro de esquerda, que contribuíram para afundar o Brasil. Porque 20 anos de recessão econômica, 10 anos de desemprego recorde, aumento da miséria e aumento da inflação não são obras de um único governo. São obras de vários governos. Então, isso mostra que o brasileiro está muito desesperançoso. Outra coisa interessante é que o brasileiro está muito deprimido. Aliás, saiu uma pesquisa recentemente que mostra isso. O índice de depressão no Brasil é duas vezes maior do que a média da Organização Mundial da Saúde. Nós estamos desesperançosos, deprimidos e preocupados.

Portanto, não acho que o eleitor votará em pessoas que o colocaram nessa condição muito complicada. Ao meu ver, existe espaço sim para uma candidatura surgir nessa eleição, mas essa candidatura só vai surgir se ela responder à pergunta fundamental: como o Brasil vai voltar a crescer, a gerar renda e emprego? Essa é a grande questão da eleição de 2022.

Antes de a gente falar dos desafios da eleição e dos desafios para o país, eu quero primeiro saber sobre o processo de escolha do seu nome. O Partido Novo tenta construir aí um formato de relacionamento diferente com a política e com a própria população. Como foi que se deu a escolha do seu nome, já que a gente teve Amoêdo como candidato do Partido Novo na última eleição?

Primeiro, o Partido Novo tem um processo muito seletivo de escolha de candidatos. Nós temos que passar por um processo, por entrevistas, por conversas com diretório nacional. Enfim, é um processo elaborado. Isso dá muito conforto não só ao partido, mas também aos eleitores, porque sabem que é um partido que realmente tem um processo seletivo rigoroso. Isso mostra o resultado na ponta, Osvaldo. Nós temos 45 mandatários entre vereadores, deputados estaduais, federais, governadores, prefeitos. E nenhum escândalo de corrupção. Isso mostra que esse processo rigoroso é muito importante. Meu nome surgiu depois da desistência do João Amoêdo. Ele foi sim convidado pelo partido, mas acabou desistindo, e aí abriu-se o espaço, o partido resolveu lançar um candidato à Presidência da República como uma parte importante do seu projeto eleitoral, meu nome apareceu e eu passei por todo esse processo. Então, eu me sinto muito honrado de ser o candidato do Partido Novo, um partido que não utiliza o fundo eleitoral, que tem processo rigoroso de seleção de candidatos, e tudo isso diferencia bastante o Novo dos demais partidos. A gente sabe que existem muitos problemas e muitos gargalos no Brasil.

Você já começou a desenhar o seu plano de governo e que Brasil você projeta para os próximos 4 anos?

Nosso programa de governo está praticamente pronto já. A ideia é ir soltando aos poucos em termos de metas para que as pessoas entendam quais são essas prioridades no Brasil. Mas a primeira prioridade, como a resposta que nós vamos dar ao eleitor é como o Brasil vai voltar a crescer, gerar renda e emprego, evidentemente as nossas principais metas voltam para atingir esse objetivo. Então, a primeira meta é a abertura unilateral da economia, porque todo país que prospera, que melhora a vida das pessoas, que gera renda e emprego, que foi capaz de tirar milhares de pessoas da miséria, foram países capazes de competir no comércio global. Nenhum país ficou rico fechando-se em políticas de reserva de mercado, subsídio e protecionismo. Todos os países que enriqueceram foram países que tiveram sucesso no comércio internacional. E até mesmo os governos mais autoritários, a própria China, que é um país comunista, é um país extremamente capitalista e competitivo em termos de economia. E foi graças a essa inserção no comércio global que permitiu ao país crescer 8, 10% ao ano, e isso foi vital para tirar 800 milhões de pessoas da pobreza. A mesma coisa aconteceu com a Coreia do Sul e tantos outros países chamados de tigres asiáticos. E o Brasil é um país que vive dessa reserva de mercado, fechado, com baixíssima participação no comércio internacional há muito tempo. Então essa abertura da economia é muito importante para o Brasil resgatar sua competitividade internacional e a produtividade. Nós vamos fazer isso de forma responsável, gradual, anunciando todas as medidas de forma a permitir a indústria, o comércio, o serviço a se adaptarem a essa concorrência internacional. Mas isso parece vital. Vai trazer um benefício muito grande, que é organizar o setor privado a pressionar o congresso para aprovar as grandes reformas estruturantes do estado. Por exemplo, como a reforma tributária, a reforma administrativa, e mesmo uma segunda reforma trabalhista. Porque se essas reformas não forem feitas, na hora que abrir a economia, o Brasil vai estar em desvantagem perante outros países, portanto muitas empresas podem inclusive quebrar. Então, essa é uma forma de pressionar o setor privado e a sociedade civil a colocarem mais pressão sobre o Congresso Nacional para aprovar essas reformas tão importantes para o Brasil. Então, essa é nossa primeira meta.

A gente sabe que uma candidatura para se viabilizar tem que ter apoios. Que estratégias o Partido Novo pretende usar para atrair outros partidos ou não interessa firmar parcerias na próxima eleição?

Nos interessa parcerias em torno desse objetivo de como o Brasil vai voltar a crescer e a gerar renda e emprego. Nós desistimos dessa conversa com a terceira via, que eu já chamei de caciquismo político, porque é uma conversa que não trata desse assunto. Trata da história de quantos deputados eu vou eleger, qual o tamanho da minha bancada, como resolver os nossos palanques regionais. Essa é uma conversa importante para os partidos, mas é uma conversa que não interessa ao brasileiro. O brasileiro quer saber como é que nós vamos ter mais emprego, atrair mais investimento e fazer a economia voltar a crescer. Então, quando a conversa é travada em torno dessas questões unicamente eleitorais e partidárias, não faz o menor sentido o Partido Novo participar. Por isso nós nos distanciamos dessas conversas, porque são conversas que não respondem à pergunta que a população quer ouvir. Como é que a Bahia vai atrair mais investimento? Como é que a Bahia vai voltar a crescer? É isso que as pessoas querem saber.

Elas não querem saber outra coisa. E aí é fundamental nessa estratégia que nós temos aqui de abertura econômica que cada estado foque na sua vocação econômica que é particular de cada estado brasileiro. A Bahia é um espetáculo de estado em vários aspectos. O oeste da Bahia, a região ali de São Desidério, de Luís Eduardo Magalhães, de Barreiras... Ali é o epicentro da produção de soja, de algodão, é a agricultura mais produtiva e moderna do Brasil. Ali está o Brasil que dá certo. Porque eu quero ver quem produz soja e mantém 35% de reserva do cerrado. Quero ver quem é capaz. Os Estados Unidos não têm uma árvore lá no plantio de soja. É tudo máquina grande. Se você estiver um dia lá com calor, querendo uma sombrinha, não tem nada para ficar na sombrinha. A gente mantém 35% de reserva legal aqui no cerrado brasileiro e planta soja com uma eficiência gigantesca. Então isso é o Brasil do futuro. O Brasil das energias renováveis. Também a Bahia, outro grande exemplo trabalhando nessa área de eólica, solar, ali na região de Guanambi, Caetité, várias outras áreas da Bahia crescendo nesse polo que o Nordeste será o maior produtor de energia renovável do mundo. Então isso tem um enorme futuro, expansão dos negócios, investimento internacional nisso, e vai ajudar a mudar a matriz energética no Brasil. Não só mudar a qualidade da matriz com uma energia mais limpa, como também descentralizar a distribuição de energia e permitir que nós tenhamos a geração distribuída, que é fundamental. Aliás, quais são os problemas que a gente tem hoje lá no oeste da Bahia? Primeiro, a energia que está faltando. Vira e mexe você liga pivô, o pivô tem que parar porque não tem energia. A Coelba não consegue entregar energia. Então, tem que ter a geração distribuída que é muito importante. Segundo, as redes sociais que não chegaram ao campo. Ou seja, o que nós precisamos? Internet no campo. Porque essas máquinas gigantescas que nós usamos hoje em plantio direto, em produção, não funcionam se você não tiver internet boa e de qualidade no campo. Então, essas coisas precisam chegar para que a agricultura possa ganhar ainda mais produtividade.

Felipe, você disse recentemente que as pessoas já entenderam que o radicalismo piorou a vida delas, aumentou a pobreza, aumentou a inflação e fez a renda do país cair. Mas por que há tanta dificuldade de viabilizar uma candidatura de terceira via que possa romper esse antagonismo que a gente vive hoje na política do Brasil?

Por duas razoes. Primeiro, porque a terceira via passou a ser o “nem, nem”. Nem Lula, nem Bolsonaro. Com esse slogan, nunca vai ganhar a eleição e nunca vai furar a bolha do radicalismo. Pois qual a resposta que as pessoas querem ouvir? Como é que vai ter mais dinheiro no meu bolso? Como vai ter mais emprego na minha casa? Por isso que eu estou dizendo, é uma terceira via que não tem um mote. Um mote conecta a política com as pessoas. Por isso que nós nos distanciamos dessa conversa. A segunda coisa é que essa bolha do radicalismo, esses males que o populismo de esquerda e de direita causaram certamente virão à tona durante a campanha. Ninguém começou ainda a atacar o Lula e lembrar as pessoas dos escândalos de corrupção, do Mensalão, do Petrolão, do presidente que disse que ia amordaçar a imprensa, do ex-presidente que quer rever a reforma trabalhista, que diminuiu de 4 milhões para 1 milhão de processos só para voltar o imposto sindical, que é tirar nosso dinheiro. Então, essas coisas virão à tona. E a mesma coisa o Bolsonaro. O maior desastre na educação do país, uma figura desumana que durante a pandemia não mostrou nenhuma sensibilidade com o número de mortes, que havia 53 e-mails no governo da Pfizer sem receber uma resposta do governo brasileiro no início da pandemia, quando a Pfizer queria transformar o Brasil no primeiro país a iniciar o processo de vacina porque o presidente é antivacina. E fora romper o teto do gasto, estourou as contas públicas, está repetindo a Dilma Rousseff. Quase a gente pode chamar agora de Bolsodilma. É igualzinho. Destrói agora as contas públicas, aumenta de forma irresponsável o preço dos alimentos e do gás. Então, essa irresponsabilidade do rompimento do teto dos gastos não é uma coisa apenas de economista fictício. Vai afetar a vida do brasileiro. Nós vamos pagar nesse ano R$450 bilhões só de juros sobre a dívida brasileira. E sabe qual o orçamento do Brasil para investimento esse ano? Dez vezes menos, R$42 bilhões. Ou seja, no orçamento temos R$42 bilhões para investir em tapar buraco de estrada, investir em saneamento, e vamos pagar R$450 bilhões para pagar de juros sobre a dívida do tesouro. Isso é o custo da irresponsabilidade na gestão das contas públicas. E finalmente o presidente que está querendo desestabilizar a democracia, criticando a legitimidade das eleições limpas no Brasil, criticando o Supremo Tribunal Federal. Então não é assim que se faz democracia. Por isso que eu digo que a democracia brasileira está em risco, sim. Aliás, no seu maior risco desde a redemocratização em. E o populismo, seja ele de direita ou esquerda, tem sim como seu objetivo final debilitar a democracia no Brasil, porque eles se arvoram o direito de ser o único representante legítimo da vontade popular, o que não é verdade.

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