Fux "descredita STF" e age como justiceiro, diz Marco Aurélio Mello
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, ao derrubar liminar que dava liberdade ao traficante do PCC André do Rap, "descredita" a Corte e tenta agradar a população em "busca desenfreada por justiçamento". As falas são do ministro Marco Aurélio Mello, responsável pela decisão que libertou o traficante ontem, 10, e acabou sendo revertida pelo colega. As informações são do Uol.
De acordo com Aurélio, Fux aproveitou dos "tempos estranhos" vividos no Brasil para agir com "hipocrisia" e agradar o desejo da população por "justiçamento".
"É a prática da autofagia, que só descredita o Supremo", afirmou o ministro ao Uol. "Evidentemente ele [Fux] não tem esse poder, mas, como os tempos são estanhos, tudo é possível." Vinga a hipocrisia e não a ordem jurídica.
"[Vinga] o que atende mais a população no rigor da busca desenfreada por justiçamento", citou.
Ao ser questionado pela reportagem do Uol se a intenção de Fux era "jogar para a plateia", o ministro disse não ter "a menor dúvida".
"Prevalece também nas palavras do governador João Doria [PSDB] a busca de atender ao reclamo público", disse Marco Aurélio. O governador de São Paulo, ontem, 10, parabenizou Fux pela decisão em publicação em uma rede social.
O ministro afirmou que a decisão foi baseada no artigo 316 do pacote anticrime (Lei 13.964), aprovado em dezembro do ano passado pelo Congresso. O texto orienta que, a cada 90 dias, as prisões preventivas sejam revisadas "sob pena de tornar a prisão ilegal".
"No Brasil, se busca dar à sociedade uma esperança vã: primeiro prende e depois apura. Se não me engano, esse é o caso de 50% da população carcerária", diz Marco Aurélio.