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Intelectuais alemães alertam brasileiros: 'democracia pode não resistir'

Publicado terça-feira, 22 de junho de 2021 às 16:24 h | Atualizado em 22/06/2021, 16:40 | Autor: Da Redação
Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Foto: Igo Estrela/Metrópoles -

Um grupo formado por 40 intelectuais alemães avaliam que o temor apontado em uma carta aberta enviada ao Brasil em 2018, antes das eleições presidenciais sobre os riscos à democracia e aos direitos humanos se confirmou com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Acadêmicos alemães ouvidos pela DW Brasil afirmam que as instituições democráticas brasileiras desde a ascensão do atual mandatário brasileiro estão corroídas por dentro, sob pressão crescente e podem não resistir.

"Tinha o receio de que Bolsonaro instalaria uma ditadura, mas isso não ocorreu porque ele está tendo sucesso em sabotar a democracia por dentro", avalia a socióloga Maria Backhouse, da Universidade de Jena. "A estratégia de Bolsonaro pode ser observada em vários países, não é um golpe claro, mas sim uma infiltração", ressalta.

A reportagem cita exemplos do que chama de “método de corrosão” e seu impacto em países como a Turquia, de Recep Tayyip Erdogan, que ocupou o Judiciário e Forças Armadas com aliados e conseguiu assumir o controle destas instituições, ou a Hungria, de Viktor Orbán, que conseguiu aprovar leis que, na prática, impossibilitam a vitória da oposição nas eleições.

Para a economista Barbara Fritz, da Universidade Livre de Berlim, o modo de agir de Bolsonaro já era previsível antes das eleições. "Desde início era previsto que o governo Bolsonaro seria antidemocrático e promoveria uma luta permanente entre Judiciário e Legislativo, que tentam proteger as instituições democráticas. A ameaça à democracia continua existindo", destaca.

Especialista em sociologia constitucional e teoria política, o sociólogo Hauke Brunkhorst, da Universidade de Flensburg, afirma que o tipo "populista caótico fascista", como Bolsonaro ou o ex-presidente americano Donald Trump, dificilmente consegue resistir a um mandato. Mas caso ele consiga manipular o sistema eleitoral, a imprensa e outras instituições democráticas a seu favor, como ocorreu na Hungria e na Polônia, Bolsonaro pode permanecer no poder "legalmente" por vários anos.

Ainda para Brunkhorst, o fim do risco à democracia só ficará claro nas próximas eleições e depende, não somente de uma troca de governo, como também da reação dos militares neste caso. Ele avalia que o cenário não é tão favorável para as Forças Armadas.

"Um fator muito importante é que de repente a esquerda pode voltar a ganhar eleições nas Américas e trazer para a agenda projetos radicais, com os quais ninguém contava, como a mudança da Constituição no Chile, que deixa de lado o mercado e vai de encontro à democracia e novas formas de socialismo, ou o programa político dos EUA, que vai além do New Deal. Pela primeira vez, parece que os militares brasileiros não podem mais contar com o apoio americano no caso de um golpe", disse o sociólogo.

Assim como Brunkhorst, Backhouse estima que a ameaça dependerá da reação de militares a uma eventual derrota de Bolsonaro nas urnas, o que, na visão dela, pode resultar numa escalada de violência no país devido à eventual recusa do mandatário em reconhecer o resultado eleitoral.

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