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LAVA JATO

Lava Jato: "Bolsonaro foi um estelionato no combate à corrupção", afirma ex-procurador

Por Fernando Valverde

16/10/2020 - 9:57 h | Atualizada em 16/10/2020 - 10:09
Carlos Fernando Lima rebateu afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que teria acabado “com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”.
Carlos Fernando Lima rebateu afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que teria acabado “com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”. -

O ex-procurador da República e da Operação Lava Jato, Carlos Fernando Lima, rebateu as falas do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou na última quarta-feira, 7, que teria acabado “com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo”.

Em entrevista ao programa Isso é Bahia, da rádio A TARDE FM (103.9), nesta sexta-feira, 16, o advogado atacou o presidente e o “presidencialismo de coalizão” vigente no atual governo, que segundo ele é uma continuação do modus operandi do PT quando esteve no poder.

“É uma mentira deslavada do presidente, uma forma de tentar esconder o fato de que o governo dele é sustentado pelas mesmas forças políticas que foram reveladas na operação Lava Jato como os principais partidos envolvidos na corrupção, nesse caso o Centrão. São partidos que usam da fisiologia e permanecem em todos os governos do Brasil desde a redemocratização. E isso infelizmente vai levar ao mesmo processo que houve no governo do PT, não há diferença”, afirmou.

Para Carlos Fernando, os ataques de Bolsonaro à Lava Jato são fruto de uma mentalidade populista e eleitoreira, com olho no pleito para 2022 e no enfraquecimento da operação como uma tentativa de “limpar a barra” dos escândalos recentes envolvendo a sua família.

“Ele não consegue deixar o palanque. Jair Bolsonaro efetivamente não governa. Ele vive sempre de manifestações típicas eleitorais e a única preocupação efetiva dele neste momento é salvar sua família e conseguir a reeleição e para isso, a partir do momento que ele foi bastante constrangido pelo inquérito e investigações do supremo, ele se rendeu ao pragmatismo total. Não temos privatizações, não temos um plano de combate à Covid-19, não temos um plano econômico, mas temos um plano para a reeleição dele”, criticou.

O ex-procurador bateu também na aproximação do governo Bolsonaro, que gritava ser avesso ao que chamava de "velha política”, com caciques de partidos envolvidos em escândalos de corrupção e responsáveis por indicações de importantes empresas estatais como Petrobras e Eletrobras.

“Temos espraiado pelo Brasil inteiro uma série de nomeados dos mesmos grupos que nomearam os dirigentes da Petrobrás e estiveram envolvidos em outros escândalos. Ontem tivemos o caso emblemático do vice-líder do governo e vamos ver isso de forma repetida agora. São coisas que continuam acontecendo e irão acontecer independente de Bolsonaro falar ou não. É assim que funciona o nosso presidencialismo de coalizão", afirmou.

Críticas e futuro da Lava Jato

As críticas feitas à Operação Lava Jato, sobretudo após manifestação conjunta de diversos advogados renomados do país, de que a estrutura da operação foi cooptada para o uso político pela base do presidente Jair Bolsonaro foram minimizadas pelo ex-procurador. De acordo com ele, essa narrativa, que ganhou força após a adesão e nomeação do juiz Sérgio Moro ao cargo de ministro da Justiça, deve ser avaliada como algo de caráter individual.

“Não houve uma adesão, e nem caberia haver, da Lava-Jato ao governo Bolsonaro. Boa parte de nós, procuradores, mantivemos um afastamento profilático. É um fato de que alguns candidatos se vincularam à ideia de combate à corrupção, mas isso foi um movimento deles, não houve endosso da Lava Jato. Aconteceu individualmente com Moro, que acreditou no Jair Bolsonaro, houve um equívoco e ele se retratou inclusive de forma muito corajosa ao expor o problema. A Lava-Jato não pretende ser um movimento político. Ela apenas mostrou para a população como funciona a política brasileira”, disse.

Questionado sobre o futuro da operação, já que perdeu o apoio do presidente e do procurador-geral da República, Augusto Aras, Carlos Fernando afirmou que ainda há muito trabalho para fazer mesmo que filiais da operação estejam sendo “mortas” pela atual administração da PGR.

“A operação tem um grande trabalho para fazer. São mais de 75 fases, muitos documentos foram juntados e agora precisamos uma análise de tudo aquilo que não pôde ser analisado nesse tempo todo. No Rio de Janeiro a operação tem muito sucesso e infelizmente as outras operações, tanto em Brasília quanto em São Paulo, acabaram sendo mortas pela atual administração da PGR", afirmou antes de enumerar quais são os impactos e lições que a Lava Jato deixa para as investigações públicas no Brasil.

"Eu espero que esse modelo de investigação, com o uso de força-tarefa, o uso inteligente de negociação, de colaboração e leniência, da comunicação e da cooperação jurídica internacional, se torne um padrão. A Lava Jato antes de tudo é uma revelação de como a política brasileira se financia, mas também de um padrão técnico de investigação por parte dos órgãos públicos. A operação não pode ser culpada dessa morte prematura que estão programando para ela”, pontuou.

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