ENTREVISTA EXCLUSIVA
Lula: "Povo brasileiro pediu nas urnas união e reconstrução"
Presidente estará em Santo Amaro, nesta terça, onde participará do relançamento do 'Minha Casa, Minha Vida'
Por Luiz Lasserre
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca em solo baiano, nesta terça-feira, 14, onde participará do relançamento do 'Minha Casa, Minha Vida'. Na cidade de Santo Amaro, serão entregues empreendimentos do programa na Praça da Igreja Nossa Senhora da Purificação.
Em entrevista exclusiva, concedida ao A TARDE, o atual chefe do Poder Executivo brasileiro falou sobre a importância de retomar o programa social no início do seu terceiro mandato e ainda explicou o motivo de ter escolhido o estado da Bahia para o momento simbólico.
Durante a conversa, ele criticou a gestão nacional dos últimos quatro anos, onde o país foi governado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fez uma rápida avaliação dos primeiros 40 dias do ex-governador Rui Costa (PT) como ministro da Casa Civil. Confira:
P - Qual a dimensão dentro das prioridades sociais do governo deste, digamos, relançamento do programa Minha Casa, Minha Vida?
R - Em primeiro lugar, relançar o Minha Casa, Minha Vida mostra que estamos colocando o povo, especialmente as pessoas mais pobres e necessitadas, novamente no Orçamento. A ideia é retomar a construção de moradias, em especial para as pessoas mais carentes, com valores subsidiados, para que essas pessoas consigam realizar o sonho da casa própria. Governar é cuidar das pessoas, em vez de deixá-las morando em condições precárias ou endividadas para o resto de suas vidas. Relançar o Minha Casa, Minha Vida também simboliza a reconstrução deste País. Minha obsessão é acabar com a fome e a miséria, retomar aquilo que tínhamos conseguido a duras penas até 2016. Mas não basta garantir que as pessoas façam três refeições por dia. Elas também precisam morar com dignidade. Elas também precisam de empregos, e para isso é necessário que a roda da economia volte a girar. Além de combater o déficit habitacional, o Minha Casa, Minha Vida fortalece a cadeia de materiais de construção e a própria construção civil, um dos setores que mais empregam trabalhadores neste País.
P - Por que a escolha da Bahia para este ato de grande força simbólica, administrativa e política?
R - Uma coisa importante é que a solenidade de relançamento do Minha Casa, Minha Vida ocorre aqui na Bahia, mas, no mesmo momento, estaremos entregando o total de 2.745 moradias não só na Bahia, mas também em João Pessoa, na Paraíba; Contagem, em Minas Gerais; e Aparecida de Goiânia, em Goiás. E anunciando a retomada de obras de 5.562 moradias em Alagoas, no Maranhão, em Minas Gerais e no Pará. O caso específico das moradias de Santo Amaro ganha simbolismo maior porque os imóveis estavam praticamente prontos no final do governo da presidenta Dilma, mas não foram concluídos. Enquanto isso, as pessoas tiveram que continuar morando em casas precárias, e, em muitos casos, foram obrigadas a escolher entre pagar aluguel ou comprar comida. Esse descaso e essa crueldade acabaram.
P - A Bahia é um estado que vive a expectativa de ter o desenvolvimento econômico e social alavancado por grandes obras que precisam de atenção federal, a exemplo da Ferrovia de Integração Oeste-Leste e o Estaleiro de Maragogipe, entre outras. O que os baianos podem esperar do seu governo?
R - Em primeiro lugar, o povo baiano pode esperar muita atenção, muito respeito e, especialmente, muita disposição para o diálogo. O Brasil chegou ao lamentável ponto em que chegou no dia 8 de janeiro último porque viemos de quatro anos em que não se conversava, em que não se debatia, em que a única coisa que se fazia em Brasília era cultivar o ódio e o conflito. Não houve, por exemplo, em mais de 1.400 dias de mandato, uma única reunião entre o ex-presidente e o conjunto dos governadores brasileiros. Com isso, não havia espaço para iniciar grandes projetos de infraestrutura. Não sobrava tempo ou disposição para se iniciar e conduzir qualquer tipo de obra. O que o governo anterior fez foi paralisar as obras que nós iniciamos. São 14 mil obras paradas pelo País afora, entre as quais quatro mil na área da Educação. Em pouco mais de 40 dias de governo, já tive duas reuniões com os 27 governadores de todo o País. Na última dessas reuniões, combinamos que durante o mês de fevereiro, com base nas necessidades que cada um desses governadores apontar, selecionaremos as obras de infraestrutura que deverão ser retomadas, ampliadas ou aceleradas. Com essas definições, vamos com certeza colocar toda a força e a capacidade do Governo Federal nos empreendimentos.
P - Os últimos quatro anos foram de retrocesso em áreas como Cultura e combate ao racismo. Qual a avaliação que o senhor faz da presença de quadros baianos, a exemplo da ministra Margareth Menezes e do presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, para restabelecer um panorama democrático e progressista nesses setores?
R - A Bahia tem uma riqueza cultural extraordinária. As ações na área da cultura são sempre muito inclusivas, elas representam de fato a diversidade do povo baiano. E essa mobilização, essa energia que nasce das ruas e deságua não apenas nas festas, mas durante o ano todo, produz grandes lideranças culturais, como é o caso da Margareth Menezes e do João Jorge. Mais do que a cara da Bahia, eles representam a cara do povo brasileiro, capaz de criar, imaginar, sentir e viver a arte, sem nunca deixar de lado a luta pelos direitos e pela vida digna. Eles têm a tarefa de atuarem para recompor a cultura, esse setor tão atacado pelo governo anterior. Eu quero comitês de cultura em todos os estados.
P - O ex-governador da Bahia Rui Costa foi escolhido pelo senhor para atuar em uma pasta de grande importância na estrutura governamental. De que forma o senhor avalia o trabalho de Rui nesses primeiros 40 dias de mandato?
R - O Rui está fazendo um trabalho excepcional. Os primeiros dias de qualquer governo costumam ser extremamente corridos. É muito difícil fazer a máquina pegar a velocidade de cruzeiro. E mais difícil ainda fazer com que as equipes que acabaram de entrar consigam andar na mesma direção, compartilhando informações e fazendo ações conjuntas, sem bateção de cabeças. Como pegamos uma máquina estatal destruída pelo presidente anterior, essa dificuldade só aumenta. O Rui é uma pessoa de minha inteira confiança e está conseguindo trazer harmonia às ações dos 37 ministérios, dialogando e orientando os vários ministros e gestores para que nossos programas prioritários saiam do papel e se transformem em conquistas para a população.
P - O senhor considera que a ameaça golpista já é um assunto superado no País?
R - Infelizmente, nos últimos anos a extrema-direita se estabeleceu como força política internacional, com braços em diversos países importantes e capilaridade nas redes sociais. Guardadas as devidas proporções, seus métodos violentos de recusa ao Estado de Direito e às instituições democráticas mostraram sua face tanto na invasão do Capitólio quanto na tentativa de golpe de 8 de janeiro no Brasil. Esse é um fenômeno global, possibilitado pelo alcance ilimitado da internet e alimentado pelas fake news. Na minha visita recente aos Estados Unidos, indiquei ao presidente Joe Biden a importância da defesa da democracia contra a violência política, o discurso de ódio e a desinformação. No Brasil, trabalharemos por normas que garantam a liberdade de expressão em um ambiente digital democrático e livre de descaminhos. Faremos isso com muito debate com a sociedade, com os especialistas, com os empresários e com o parlamento. Esse não é um papel apenas do governo, cabe às grandes empresas do setor fazerem a sua parte, valorizando a inovação, o conhecimento científico, os negócios e o entretenimento sadio em vez do ódio, da desinformação e do extremismo.
P - Que mensagem pode deixar ao povo baiano, que deu ao senhor uma das votações mais expressivas no pleito de 2022?
R - O povo baiano pode ter a certeza de que o Governo Federal voltou a fazer aquilo que nunca deveria ter deixado de fazer, que é cuidar das pessoas. E cuidar, em especial, das pessoas pobres. Das vítimas da fome, do desemprego e do preconceito. Das crianças que ficaram para trás na aprendizagem após a pandemia do Covid. E faremos isso com base no diálogo, na busca de parcerias com governadores e prefeitos, não importando se eles são da base do governo ou da oposição. O que o povo brasileiro pediu nas urnas foi união e reconstrução. Foi um basta no ódio e na violência política. Este País precisa de paz, porque tudo que o povo brasileiro quer é trabalhar, estudar, namorar, ter acesso à cultura e ao lazer, cuidar da família e ser feliz.
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