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ENTREVISTA – ADOLPHO LOYOLA

‘Não cooptamos prefeitos, mas vamos conversar com todos’, diz Adolpho

Secretário de Relações Institucionais fala sobre a relação com prefeitos, partidos aliados e afirma que sua principal tarefa é ouvir todos com atenção

Por Divo Araújo

12/05/2025 - 5:00 h | Atualizada em 12/05/2025 - 7:53
Adolpho Loyola,  secretário estadual de Relações Institucionais
Adolpho Loyola, secretário estadual de Relações Institucionais -

Um dos principais nomes da nova geração de gestores de esquerda, Adolpho Loyola é alguém que gosta de conversar, mas sabe ouvir. Para ele, sua principal missão como secretário de Relações Institucionais do governo Jerônimo é escutar com atenção não apenas a classe política, mas também os movimentos sociais e as entidades de classe.

“A sociedade está carente de debate, de ser ouvida, e a Secretaria de Relações Institucionais existe para isso”, explica ele, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE. Um dos grupos com os quais Loyola mais dialoga são os prefeitos baianos, mas essa aproximação gerou críticas de adversários, que acusam o governo de tentar cooptá-los — acusação que ele refuta.

Durante a conversa, Loyola também abordou as polêmicas envolvendo a fala do governador Jerônimo Rodrigues, que sugeriu que os eleitores de Bolsonaro deveriam ser “levados para a vala”. “Ele teve a hombridade e a dignidade de pedir desculpas. Página virada”, afirmou. Confira mais detalhes na entrevista a seguir.

A Secretaria de Relações Institucionais desempenha um papel fundamental na relação com outros poderes, entes federativos e a sociedade civil organizada. Você diria que a escuta ativa e a capacidade de dialogar com diferentes atores são qualidades essenciais para o exercício dessa função?

Primordial. O poder de escuta, o poder de ouvir mais do que falar é muito importante nesse momento. A sociedade está carente de debate, de ser ouvida e a Secretaria de Relações Institucionais trabalha e funciona para isso. Estou aqui com o intuito de fazer esse diálogo com a sociedade, não só com a classe política, mas também com os movimentos sociais e com todas as entidades de classe que a gente tem na Bahia. A Secretaria foi criada para isso e a gente está colocando isso como linha mestra da nossa gestão.

Nos conta um pouco sobre sua trajetória política, que teve início no movimento estudantil.

Eu comecei no movimento estudantil secundarista, lá em Teixeira de Freitas. Em seguida, vim para Salvador estudar na Uneb, fiz parte do Diretório Central de Estudantes (DCE), fui do Diretório Acadêmico de Análise de Sistemas. Durante a minha trajetória no movimento estudantil, fui convidado por Emiliano José para trabalhar como assessor dele na Assembleia Legislativa. E o que era paixão - eu sempre gostei de política - virou profissão. Me senti muito confortável nisso. Eu sempre gostei muito de política, da política partidária em si. E esse desafio que Emiliano me deu. Fui para Câmara Federal junto com ele, ser chefe de gabinete. Trabalhei com ele também no Ministério das Comunicações. Ele me deu esse norte da política e você ter um professor como Emiliano para mim foi muito importante na vida.

Quando Emiliano saiu do Ministério das Comunicações, fui convidado pelo então ministro Jaques Wagner para trabalhar com ele na Casa Civil. Fui assessor especial dele lá e tive um novo professor de política. Tudo isso foi importante para a minha formação. No retorno de Brasília após o golpe da presidenta Dilma, Emiliano voltou para a Secretaria de Justiça e eu voltei a trabalhar com ele. Em 2018 eu tive a função dada pelo PT de ajudar na campanha dos senadores. Fui ajudar na campanha do Senador Angelo Coronel (PSD). A gente fez aquela interface com o PT, com os partidos de esquerda. E, em seguida, eu fui deslocado para ser da executiva estadual do PT. Fui secretário de comunicação junto com o presidente Éden Valadares e, em 2022, recebi uma nova tarefa do partido e fui para a campanha do governador Jerônimo. Acabei assumindo essa tarefa da coordenação da campanha e daí comecei depois na gestão. O governador me convocou para ser o chefe de gabinete e, em seguida, assumi essa tarefa aqui na Secretaria de Relações Institucionais.

Além da capacidade de diálogo, que outros fatores o levaram a assumir ainda tão novo a Secretaria de Políticas Institucionais, considerada uma das pastas mais importantes do primeiro escalão?

O que me coloca nessa posição, além do fato de gostar muito de política, é conhecer a política da Bahia. Conhecer os sujeitos, conhecer os atores da ponta. Isso para mim nunca foi uma tarefa, sempre foi um prazer. Conhecer essas pessoas é importante, conhecer a história da política da Bahia também. Como já disse, para mim não é um fardo, é um prazer estar aqui. Me sinto como um jogador que realiza o desejo de estar no time que ele sempre sonhou. Eu sou realizado profissionalmente por estar onde estou. Gosto da conversa, gosto da política, conheço e tenho afeição por isso, afeição pelas pessoas que trabalham comigo. Essa é a forma que eu me sinto bem, isso ajuda também. É importante estar bem no seu ambiente de trabalho.

Um dos aspectos mais destacados pela imprensa é o diálogo que o senhor tem mantido com os prefeitos baianos, inclusive da oposição, e sua capacidade de aproximá-los do governador Jerônimo. Adversários, no entanto, acusam o governo de atender apenas às demandas de aliados. Como se dão essas conversas com os prefeitos e como o senhor responde a esse tipo de crítica?

A oposição tem uma dificuldade de entender que eles perderam a eleição. Acho que é mais a figura de um líder dessa oposição. Nós não estamos fazendo cooptação de prefeito. Nós estamos fazendo um diálogo com os prefeitos, independente de coloração partidária, de partido político. Para nós é importante isso. O governador governa para 15 milhões de habitantes, não só para quem votou nele. Nós temos que conversar. Não vamos atender só os prefeitos que nos apoiaram ou estão querendo nos apoiar. Nós temos que atender a todos. Como é que a gente governa a Bahia sem conversar com Feira de Santana? Sem conversar com Vitória da Conquista? Como é que a política pública chega na ponta sem um diálogo com os prefeitos? Essa é a tarefa que o governador Jerônimo me deu - de conversar com todos. Falei de dois grandes centros, mas cito também Itagi, uma cidade pequenininha. Ou Aiquara, que é a cidade do governador. O prefeito, a prefeita não votaram na gente, mas não vamos deixar de conversar com eles. Nós precisamos fazer esse diálogo e vamos fazer. Estamos abertos, estamos conversando. A relação política e eleitoral faremos no ano que vem. Se o prefeito se sentir à vontade, se sentir contemplado de marchar conosco, nós vamos trabalhar e serão muito bem-vindos. Mas não podemos deixar de atender os prefeitos, porque outrora votaram contra a gente.

Falando em diálogo, um dos aspectos criticados na gestão do governador Rui Costa, apesar de ter sido bem avaliada, foi o pouco diálogo com os movimentos sociais - críticas feitas até por setores da esquerda. Como está esse diálogo do governador Jerônimo, você que é encarregado disso?

Cada um tem um estilo. O governador Rui tinha um estilo, o governador Jerônimo tem outro. E a secretaria é reflexo da postura do governador. O governador Jerônimo é forjado nos movimentos sociais. Fez sua formação dentro desses movimentos, sindicatos de trabalhadores, de movimentos populares. Então, para nós, é importante. Nós temos a casa aberta. Eu não atendo aqui só prefeitos, vereadores, deputados e lideranças políticas. Nós fizemos uma relação importante, para você ter ideia, com os movimentos de terra, de reforma agrária, o MST sempre teve, com o movimento indígena. A gente faz o acampamento Terra Livre aqui sempre apoiando, sempre no diálogo. E esse avanço, essa escuta desses movimentos nos baliza, dá respostas mais efetivas para os movimentos. É importante escutar isso. Nós conseguimos fazer avanço com o MST, com o MPA, com o próprio Mupoíba e o Miba, que são movimentos indígenas.

Mas também tem o avanço com os sindicatos. A gente discutiu o reajuste deles, fizemos isso com debate aberto. Pela primeira vez nós colocamos as associações de policiais militares, policiais civis, com os comandos gerais deles. É uma coisa inédita. Disse a eles até que fiquei orgulhoso do que a gente construiu, porque nós tínhamos uma proposta, eles retrucaram. Mas na política, com muita sinceridade deles e também com muita honestidade nossa, a gente sentou, foi, voltou e construímos uma saída. A gente fez isso em conjunto. E o movimento sindical nos ajudou nisso. Escutá-los foi importante para a gente chegar a uma solução, em vez de colocar goela abaixo uma imposição do governo. A gente vinha, eu conversava com o governador, ele dizia, vamos lá, vamos conversar com a Fazenda, dá para fazer isso, dá para fazer aquilo. Foi um aprendizado e é uma forma diferente de escutar e de resolver os problemas. Para nós foi muito bom. É um momento de escuta, a secretaria é de relações, é de conversar, é de institucionalmente entender a dor do outro. E dizer, olha aqui eu posso ajudar, aqui eu não posso. Para nós ficou muito tranquilo isso. A secretaria sai vitoriosa, o governo sai vitorioso e o movimento também sai muito vitorioso.

Você considera uma vitória o projeto que foi aprovado agora na Assembleia Legislativa?

Sim, sim, sim, porque foi construído com os sindicatos. Nós fizemos com a APLB, nós fizemos com as ADES, nós fizemos com as associações da Polícia Militar, da Polícia Civil, fizemos com a saúde. Todos avançaram. Está em curso uma conversa com os fiscais da Adab, do Inema, da Agerba. É uma construção. Está certo que está longe do que eles querem, mas é o que é possível, dentro da nossa responsabilidade de manter o salário em dia, de pagar em dia. É isso que a gente tem feito e faz de coração aberto para a gente poder conversar com eles.

Falando um pouco sobre política partidária, começando pelo PDT. O partido passou a integrar a base do governo Jerônimo na Bahia, mas declarou independência em relação ao governo federal. Como trabalha essa aparente contradição?

Eu não sei se é contradição. O ministro Carlos Luppi acabou saindo do ministério, mas quem assumiu foi o Wolney Queiroz, que é um pedetista histórico de Caruaru. Acaba caindo o presidente, mas o ministério continua nas mãos do PDT. A bancada fica um pouco chateada, mas o PDT tem votado com o governo federal sistematicamente. O presidente Lupi ajudou demais nesse retorno do PDT à base do governo. E aí a gente tem que fazer justiça também que o deputado Félix Mendonça nunca colocou óbice nenhum. Muito pelo contrário: trabalhou, ajudou para isso também, junto com os prefeitos do PDT. A bancada federal deles fez esse voto de independência, mas tem conversado. E, na bancada do Senado, os três senadores mantêm o apoio ao governo federal. Tudo isso é da conjuntura da política. Essa tarefa hoje é mais da ministra Gleisi Hoffmann. Aqui na Bahia a gente está pacificado. Nós vamos construir com o PDT junto. O PDT é um partido importante para a construção da sociedade, então trazê-los para cá é muito importante para nós.

Falando em conjuntura, há o caso do PSD, um aliado histórico do PT na Bahia, mas também apontado como a base de uma eventual candidatura do governador Tarcísio de Freitas à Presidência da República. Como o senhor enxerga o futuro da relação entre o PSD e o governo Jerônimo diante desse cenário?

A gente faz conjecturas, vamos ser sinceros. Eu não acredito que o PSD tenha candidato a presidente. Acho que a tarefa do PSD é outra. Gilberto Kassab (presidente nacional do PSD) trabalha mais na perspectiva da reeleição de Tarcísio ao governo de São Paulo. A direita, vamos dizer, ainda está tonta, porque não sabe se chuta Bolsonaro ou se abraça Bolsonaro. Ainda está tonta neste ponto. Mas acredito que Tarcísio será candidato à reeleição e a direita vai buscar outros nomes. Vai acabar se dividindo, colocando outros nomes. Até um pouco tentar atrair o União Brasil com o Progressistas para ver se monta um bloco mais de centro para isso, mesmo assim dividido. Para você ter ideia, esse bloco União Brasil e PP entrega muito mais votos para o governo do que para a oposição. Então, não acredito nisso. Mas eu sempre digo nas entrevistas que a gente não escala time adversário, a gente escala o nosso. E o PSD tem essas dicotomias. Aqui no Nordeste é um partido mais alinhado ao governo Lula. No Sul e Sudeste, é um partido mais próximo ao bolsonarismo. O Kassab, que é um exímio articulador, fica se dividindo nisso. É um problema que a gente vai ter que administrar um pouco mais na frente. Mas vamos trabalhar nisso. O PSD é uma das forças imprescindíveis de nossa aliança. Vamos continuar trabalhando e conversando com o senador Otto Alencar, com quem a gente tem uma relação maravilhosa, como temos com o senador Angelo Coronel e toda a bancada de deputados federais e estaduais

Ainda no campo da política partidária, foi lançada recentemente a federação entre o União Brasil e o PP, batizada de União Progressista. Na Bahia, essa aliança reúne 80 prefeitos e quase 800 vereadores. Na sua avaliação, até que ponto essa federação fortalece o projeto da oposição no estado, e como o governo deve reagir a esse novo cenário?

Nós estávamos com conversas avançadas com o PP. Mas, por conta da federação, nós tivemos que retrair, porque o União Brasil será o coordenador da federação aqui na Bahia, e é o principal partido de oposição a nós hoje. Por isso nós retraímos as conversas com o PP, apesar de a bancada estadual votar conosco na Assembleia legislativa. Os seis deputados nos acompanham lá. Nós já tivemos uma conversa com esses deputados e, muito provavelmente, posso te falar aqui, esses deputados migrarão de partido. Vamos tirar, junto com ele, alguns prefeitos também. Então, essa conta de prefeituras da União Progressistas vai ter, vamos chamar assim, um abalo. A bancada estadual vem conosco. Também tínhamos algumas conversas com o deputado Mário Negro Monte e o deputado Cláudio Cajado, mas aí é uma relação nacional deles. Eles têm uma relação umbilical com o PP desde sempre, mas nós vamos continuar fazendo conversas. Do ponto de vista eleitoral nosso da Bahia, não muda nada. A gente perdeu um partido, mas foi o CNPJ, os CPF ficaram.

Você tem repetido que ainda é cedo para discutir as eleições, mas o fato é que as movimentações já estão em curso. Recentemente, o senador Jaques Wagner defendeu uma chapa presidencial formada por três governadores do PT. Na sua opinião, haveria muita resistência por parte dos aliados em apoiar uma proposta como essa? Como essas conversas têm ocorrido?

É um luxo você ter uma chapa com três governadores. Quem começou esse projeto foi o senador Jaques Wagner, com a coragem dele, com a história dele, lá em 2002. Nós perdemos a primeira eleição, depois ganhamos em 2006, e aí oito anos depois, tivemos a eleição do governador Rui Costa, que foi uma surpresa na época, em 2014. E uma surpresa maior ainda, numa das eleições mais duras que nós tivemos, foi a de 2022, com o governador Jerônimo. Então, você tem três grandes players. Você não pode desconsiderar isso. Mas você também tem uma aliança com vários partidos, e nós temos uma característica de respeitar as alianças. Ninguém aqui é chefe de ninguém, todo mundo aqui senta e conversa. A gente tem feito isso. Todo mundo aqui do lado de cá cresce, a gente tem trabalhado nisso. Mas vamos deixar para conversar isso um pouquinho mais na frente, para ver como é que a chapa se forma melhor no ano que vem. Não adianta a gente fazer grandes confusões agora. Nós temos a janela partidária em abril. Voltando aqui um pouquinho, esses deputados do PP só vão poder sair em abril, não tem jeito. Nós vamos ter que conversar, vamos voltar a falar de eleição, mas em 2026. Porque na política o tempo é outro. É como nuvem, parafraseando os mineiros - hoje está de um jeito, amanhã de outro. Nós vamos ter que esperar e deixar maturar um pouco mais isso. Vamos continuar trabalhando. O senador Angelo Coronel tem feito seu trabalho. O PSD é um partido importante, o MDB está na chapa também. A gente tem que ver como articula PCdoB, PSB, PDT agora, Solidariedade, que marcha conosco também, o Podemos. Todos esses atores serão ouvidos e serão consultados à época que a gente for decidir isso.

Em uma entrevista que teve repercussão, o governador afirmou, entre outras coisas, que se “estivesse bem, iria comprar aquela rede, comer uma pinha ou ir lá pro norte”. Mas lembro de uma pesquisa que apontava 65% de aprovação ao governo. Você mesmo já mencionou que pesquisas internas indicam que as coisas estão indo bem. Afinal, o governo está tranquilo quanto à sua aprovação?

Acho que o governador foi mal interpretado. Ele se cobra muito, não gosta de ver o movimento parado. Ele quer trabalhar o tempo inteiro, e tem essa presença no interior muito forte. Nós estamos muito, não digo despreocupados, mas muito tranquilos, porque nós temos trabalhado bastante. Trabalhado de uma forma uniforme pelo Estado. Nós temos obras no estado inteiro, nas áreas da educação, saúde, segurança, mobilidade, principalmente. Temos muito trabalho também em Salvador. Nós vamos organizar o nosso time, nossa infantaria para a eleição. A gente ainda não fez isso, porque estamos cuidando da gestão. Na hora que a gente for cuidar da política partidária, vamos estar muito bem organizados nisso. Sabemos o que a gente tem para poder mostrar. Não somos um pastel de vento, temos muito conteúdo, muito recheio para mostrar à população o que a gente fez, faz e fará. Isso nos dá uma tranquilidade muito boa para a gente poder continuar trabalhando.

Todo mundo monitora pesquisas. Eles monitoram, nós também monitoramos. Mas para nós está muito tranquilo. Como disse ainda não apertamos o tom eleitoral, estamos cuidando da gestão. Na hora certa, vamos colocar o time no campo, colocar as coisas que nós temos para colocar. A fala do governador foi isso. É que ele não gosta de descansar mesmo, gosta de trabalhar. Ele sempre diz: fui eleito para trabalhar, eu tenho que fazer uma diferencial, tenho que fazer mais do que Rui e Wagner. E para fazer mais do que Rui e Wagner, eu tenho que correr e trabalhar muito mais. Então ele se cobra isso. As pessoas perguntam de onde é que ele tira força e eu digo que ele tira a força do povo, do que ele tem que responder para o povo. E quando você substitui dois grandes governadores, o sarrafo está lá em cima.

Outra declaração do governador que gerou grande rebuliço foi a de que os eleitores de Bolsonaro deveriam ser levados para a vala. Houve deputado da oposição pedindo impeachment e até recurso ao STF. O governador se arrepende dessa fala? Na sua avaliação, ela pode ser usada contra ele no futuro?

Veja, ele pediu desculpa. Foi uma fala em que ele colocou as palavras erradas. Falou de vala comum, essa coisa toda. Foi uma fala infeliz. Pronto, acabou, vamos embora. Ele pediu desculpas, certo? Não é a característica dele, todo mundo que conhece o governador sabe que ele é um democrata, é um homem forjado nos movimentos sociais, a favor da vida, religioso, católico praticante. Foi uma fala ruim em um momento ruim. Passa a bola para frente, página virada, vamos para frente. Ele teve a hombridade e a dignidade de pedir desculpas. Então, parou por aí, vamos embora. Há repercussão, todo mundo da oposição vai querer ficar explorando isso o tempo todo. O que me surpreende são os bolsonaristas criticando essa fala, pelo estilo do que o líder dele fala. Mas também não vou voltar e ficar alimentando isso. O governador pediu desculpas e, para nós, é fato consumado. Assunto está encerrado.

Um dos principais pontos de crítica da oposição na Bahia são os empréstimos contratados pelo governo do Estado. A população pode ter a garantia de que essas operações não comprometerão o equilíbrio financeiro da Bahia no futuro?

Claro. Pela primeira vez na história, nós somos Capag A (Capacidade de Pagamento). O que é Capag A? É a nossa capacidade de pedir empréstimos pela saúde financeira do Estado. Nós nunca tivemos tão bem do ponto de vista econômico com as contas públicas. Diferente da prefeitura de Salvador que não pode fazer empréstimos porque não tem capacidade de endividamento. Esse dinheiro é para fazer obras de infraestrutura e de manutenção do Estado. Essa é a nossa realidade. É um dever de casa que a gente fez nos últimos 16, 17 anos e agora desencadeou que a gente vai pegar esses empréstimos para poder fazer mais. Nosso poder de endividamento é alto, o que poucos estados têm. O Rio Grande do Sul deve 200% da receita corrente líquida, São Paulo deve 150%, Minas é um estado quebrado. A Bahia tem 20, 30% de endividamento da receita corrente líquida. Portanto, nós temos espaço fiscal para contrair empréstimos. E por que não usá-los? Por que não investir? Você tem obras como o VLT, isso custa. Você tem obras como a Ponte Salvador-Itaparica, que estamos trabalhando. Temos inúmeras obras. Temos ProSus, em que vamos ajudar as unidades básicas de saúde, criando Policlínica, Cras, ainda com esses recursos. São inúmeras obras que dependem desses empréstimos para a gente poder organizar ainda mais a Bahia. Levar infraestrutura, levar saúde para a ponta, custa. Esse investimento é para isso.

Para concluir nossa entrevista, nesta semana, quatro pré-candidatos à presidência do PT na Bahia retiraram suas candidaturas para apoiar Tássio Brito, atual secretário de Finanças do partido. Como o senhor tem acompanhado esse processo? E, aproveitando, como avalia a necessidade de renovação do PT na Bahia e no cenário nacional?

Nós temos trabalhado. O senador Jaques Wagner sempre foi um entusiasta da renovação. Eu aqui, onde estou, é uma característica de renovação, é um passo da renovação. Mas isso começou quando ele patrocinou e nós trabalhamos para Éden Valadares virar presidente do PT. Não é desfazendo dos outros, mas é preparando o partido para a frente. Isso começou com o senador Jaques Wagner lá atrás. Vamos fazer uma lembrança aqui na campanha do Senado de Walter Pinheiro, quando nós tínhamos a candidatura de Valdir Pires, posta por uma parte do PT. E eu com Valdir, naquela época, junto com o Emiliano. Mas o governador disse: precisa preparar o partido para a frente. Quando o governador lança Rui Costa, é uma mudança de renovação. Foi preparando uma nova liderança para cima. Hoje o ministro Rui Costa pode ser candidato ao Senado, mas é um presidenciável. A gente não pode tirar isso se o presidente Lula não for candidato, mas ele será. Mas Rui é um presidenciável. Você prepara o partido para a frente. E quando a gente coloca o nome do governador Jerônimo também, quando o senador Wagner retira a candidatura e fala que o candidato tem que ser Jerônimo, é mais uma fase de renovação do partido. E nas direções partidárias também. Nos partidos de esquerda é difícil você fazer esse movimento. Não é uma linha hereditária que resolve. É a luta social, é a luta do diálogo com as forças políticas. É importante ter essas renovações e nós vamos continuar renovando.

Tássio é o candidato que conseguiu aglutinar mais forças, mas devem ter outras chapas. Mas nós vamos ter que ter essa questão da renovação. É um ponto importante para nós. Nacionalmente, o presidente Lula também vem renovando, por exemplo, lançando o nome do Edinho, que é um ex-prefeito de Araraquara, que é uma liderança mais nova. Isso choca um pouco com alguns interesses de outras correntes, mas no PT é assim, é um partido plural. Nós não temos problema com isso, não tem vida fácil ali. É a força do diálogo. A democracia lá é vivida na ponta mesmo. Para nós não muda muita coisa, nós vamos continuar trabalhando nisso. Acho importante esse processo de renovação que temos feito. O governo do governador Jerônimo é um quadro de renovação. Temos eu, temos Felipe (Freitas), temos Eduardo (Sodré), temos Larissa (Gomes), a própria Angela (Guimarães), da Sepromi, e Augusto (Vasconcelos) também na Secretaria de Trabalho. Tudo isso é renovação. Estou falando de renovação do ponto de vista geracional. Todo mundo aí com 40, 40 e poucos anos. Acho que eu sou o mais velho dessa turma aí, com 45 anos. Dudu e Felipe nem nos 40 anos chegaram ainda. Para nós é importante. Essa energia, essa vontade nossa de brilho dos olhos, de deixar a marca para o governo do Estado e é a vontade do governador Jerônimo que nos move.

E como você se enxerga nesse processo de renovação? Tem vontade de concorrer a cargos eletivos?

Não, não tenho. Eu acho que a política é carente de gente que gosta de ficar na cortina e nada contra quem gosta de colocar a cara na tela. Mas sempre gostei mais dos bastidores. Gosto de fazer isso aqui. Me dá muito mais mobilidade, abre mais portas e fica desse jeito. E eu gosto disso, não preciso estar nessa vida parlamentar. Gosto de ajudar os deputados. Meu foco aqui agora é a reeleição de Lula, a reeleição de Jerônimo e a eleição do Senado. E os deputados a gente vai ajudar aqueles que nos ajudam aqui. Para mim, essa situação me dá muito mais abertura com eles por não ficar disputando espaço. Zero mosca azul para candidatura. Zero mosca azul para o poder. Estou aqui desempenhando uma tarefa que o governador me deu e quero retribuir isso com muita confiança e com muito trabalho.

Raio-X

Natural de Itanhém, Adolpho Henrique Almeida Loyola iniciou sua carreira política no movimento estudantil e, posteriormente, se destacou como dirigente do PT, atuando também como secretário de Comunicação do partido. Passou por órgãos como a Secretaria de Assistência Social de Belmonte, Adab e a Assembleia Legislativa da Bahia. No governo federal, foi diretor na Secretaria de Comunicação Eletrônica e assessor especial na Casa Civil. De volta à Bahia, assumiu a Coordenação Executiva da SJDHDS e, em 2018, foi assessor da presidência da ALBA. Atuou na eleição do governador Jerônimo Rodrigues e, em 2023, foi nomeado chefe de gabinete. Em 2024, assumiu a Secretaria de Relações Institucionais do Estado da Bahia.

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