POLÍTICA
Novo ministro da Saúde mostra alinhamento com Bolsonaro, avaliam parlamentares baianos
Por Raul Aguilar
Após confirmar que aceitou o convite para ser ministro da Saúde, o médico cardiologista Marcelo Queiroga deu declarações que deixaram parlamentares receosos de como atuará na pasta.
Em demonstração de alinhamento ao governo federal, Queiroga descartou um possível lockdown nacional e garantiu que seguirá as diretrizes do presidente Jair Bolsonaro. Ele também defendeu o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que retribuiu o gesto.
Durante cerimônia para entrega de 500 mil doses de vacinas da AstraZeneca/Oxford, Pazuello disse que Queiroga dará continuidade ao seu trabalho. “A diferença é que eu vou entregar pra ele um ministério organizado, estruturado, funcionando. Como médico cardiologista, com conhecimento técnico, vai poder navegar nessas ferramentas em prol da saúde do Brasil”, disse Pazuello.
O deputado federal Marcelo Nilo (PSB), coordenador da bancada baiana no Congresso Nacional, lamentou a posição do novo ministro. “As declarações dele, elogiando o trabalho de Pazuello, mostra que foi uma troca de seis por meia dúzia. A culpa do desastre que estamos vivendo não é de Pazuello, mas de Bolsonaro. Ele não está atrás de um ministro, mas de um subordinado. Se quisesse um ministro, teria escolhido a Dra Ludhmila [Hajjar] que trabalha com foco na ciência”, disse Nilo.
O senador Jaques Wagner (PT) foi outro a criticar o discurso em tom de continuísmo do novo ministro da Saúde, no momento em que o país bate recorde em número de mortos por causa de complicações provocadas pelo Covid. “É triste que, diante do desastre humanitário que estamos vivendo, com mais de três mil brasileiros morrendo todos os dias, alguém fale em continuidade. Continuar, neste caso, é seguir no caminho de uma tragédia cada vez maior”, criticou Wagner.
Critérios
O vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Cláudio Cajado (PP), defende o nome de Queiroga, quem define como um “médico conceituado”, uma “pessoa da área” de Saúde. “Bolsonaro queria um médico, acredito que seja alguém que esteja dentro dos critérios que o governo desejava”. Cajado acredita que o foco de Marcelo Quiroga será na vacinação e avalia que faltou mais tempo para Pazuello, apesar de admitir que sua gestão no comando do Ministério da Saúde foi “ruim”.
“O Pazuello, se tivesse mais tempo, poderia entregar mais. Ele entregou menos do que o esperado. Não sei se as condições que ele encontrou no MS, as dificuldade no conjunto do governo, mas acredito que a saída dele tem haver com a pouca entrega. Ele poderia ter criado meios para entregar mais”.
Para Cajado, a questão de Manaus foi emblemática [caos gerado pela falta de oxigênio]. “Ele não atuou como deveria, retardou um pouco a presença dele no estado. Também deu informações e prazos para o Congresso que não foram cumpridos; aí juntou tudo, teve muito ruído e o presidente achou melhor trocar”, explicou Cajado.
Esperançoso
O deputado e presidente do Podemos na Bahia, Bacelar disse estar “esperançoso” de que o médico cardiologista faça uma gestão melhor do que a de Pazuello na pasta, que definiu como um “catastrófica”
Bacelar avalia os elogios ao presidente e as manifestações contra o lockdown como uma demonstração de “habilidade política” do novo ministr. E questiona quem, ao assumir um emprego, resolve criticar o patrão ou quem, ao assumir um cargo em uma gestão de continuidade, decide atacar o antigo ocupante do espaço.
Por outro lado, Bacelar lamentou o discurso com ênfase eleitoral do presidente . Ele afirma que, “como tudo que vem de Bolsonaro”, a declaração é “lamentável”, porque fere “princípios republicanos, princípios de educação doméstica, civilidade e de solidariedade”: “ é realmente estarrecedor saber que nosso país é governado por uma pessoa cujos princípios são estes”.
Para o deputado Jorge Solla (PT), Queiroga “começou mal”. “Eu não posso falar a trajetória dele, mas posso dizer que, em apenas um dia, ele causou preocupações grandes acerca da condução que vai tomar no ministério. É óbvio que a expectativa era de que, com uma mudança de ministro, mudasse também a política de enfrentamento, mas até o momento, não é isso que está sendo sinalizado”.
Para a deputada Alice Portugal (PCdoB), é lamentável” ver um “profissional da área de saúde, médico, fazer remissão de opinião científica”. Alice avalia que isso “demonstra que o Bolsonaro não quer um ministro”, mas uma "ordenança de platão”, já que Pazuello foi “desmoralizado” por ter sido um desastre. “sairá respondendo processo e terá que prestar contas da responsabilidade dessa inércia, falta de comando, incompetência de logística”.
Alice lamentou que o Brasil tenha perdido “milhões de doses” de imunizantes porque “não soube ou não quis negociar”, ao se referir aos contratos não assinados em 2020 com os laboratórios que produzem vacina contra Covid-19.
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