POLÍTICA
Nuzman é preso em operação que investiga escolha do Rio 2016

Por Marco Antônio Jr | A TARDE SP

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 5, a segunda parte da Operação Unfair Play (jogo sujo). Os principais alvos da operação foram Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016, e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do comitê Rio 2016.
Nuzman é suspeito de envolvimento com compras de votos na escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada ano passado. O motivo da prisão, segundo os procuradores é a tentativa de obstrução da justiça, que resultaram em ações nacionais e internacionais como a regularização de patrimônio em ouro.
A operação, que contou com 20 policiais federais, cumpriu os dois mandados de prisão temporária e seis mandados de busca e apreensão, decretadas pelo juiz Marcelo Bretas e expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal/RJ, na cidade do Rio de Janeiro. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O Ministério Público Ferderal (MPF) decidiu pedir a prisão dos empresários após a tentativa de ocultação de patrimônio notificada pelas autoridades internacionais. Segundo os agentes, Nuzman escondeu bens em espécie e 16 quilos de ouro em um cofre na Suíça, após a PF cumprir um mandado de busca e apreensão em sua residência. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa de Nuzman e de Gryner. Os bens de ambos foram bloqueados. A PF apreendeu relógios, joias, armas e dinheiro.
A primeira parte da investigação, deflagrada há um mês, não resultou no afastamento de Nuzman e Gryner de suas funções junto ao COB. Para os agentes, dessa forma eles continuaram tendo acesso ao dinheiro público, documentos e informações importantes para as investigações e, por meio de aliados, tentaram regularizar e pulverizar os recursos na Suíça. Por isso, as prisões temporárias dos executivos eram imprescindíveis não só como garantia da ordem pública, como para bloquear o patrimônio e impedir que ambos continuem cometendo crimes e ocultando provas.
Para realizar a investigação, o MPF precisou da cooperação jurídica internacional de quatro países diferentes. “Trata-se de um esquema altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta", afirmou a procuradoria.
Unfair Play - Primeira parte
A investigação conjunta do MPF do Brasil com o Ministério Público Financeiro de Paris, apurou a relação entre viagens de Nuzman e Gryner à África, em 2009, e transferências bancárias para o Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF).
O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), também é apontado como envolvido no esquema. O dinheiro teria vindo do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, conhecido como Rei Arthur, que está foragido. Segundo as provas colhidas nessa etapa, Gryner e Nuzman foram os responsáveis por ligar o esquema de propinas de Cabral e membros africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI), por meio de Arthur Soares. Assim, o Comitê comprou votos do grupo africano, para manter o Rio como sede dos Jogos Olímpicos. As visitas dos empresários foram admitidas pelo próprio ex-governador durante depoimento à Justiça Federal na Operação Eficiência.
O MPF aponta que “neste grande esquema ganha-ganha” o Rei Arthur passou os valores ilícitos, que seriam destinados à Sérgio Cabral, para Papa Massata Diack. O objetivo era “garantir mais um voto na escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016”.
“Cabral determinou que Arthur Soares realizasse pagamento de US$ 2 milhões a representante da Associação Internacional de Atletismo, como forma de obter votos para a eleição da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016”, afirmou a procuradoria na época.
“Carlos Arthur Nuzman, como presidente do COB (e, posteriormente, também do Comitê Rio-2016), foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares”, acrescentou a procuradoria.
Na época das investigações, o MPF bloqueou cerca de R$ 1 bilhão do patrimônio de Carlos Arthur Nuzman, do "Rei Arthur", e da Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia do empresário, com o objetivo de reparar os danos causados pelo trio.
Outra funcionária do COB, Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso, também foi intimada a depor na sede da Polícia Federal. Os agentes procuram uma quebra de sigilo telefônico de Maria, que é suspeita de ter trocado e-mails com Papa Diack.
Quando interrogado, Nuzman se reservou ao direito de permanecer em silêncio, mas a defesa afirmou que, durante o depoimento, "foi esclarecido e reiterado que toda a jornada da Olimpíada da Cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação".
Defesa
Nélio Machado, advogado de Nuzman, afirmou em nota que a medida de prisão foi "fora do usual": "Vou me inteirar dos fatos agora. Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida, que é dura e não é usual dentro do devido processo legal."
Já o COI afirmou que coopera com a operação e pediu às autoridades brasileiras mais informações para realizar uma investigação interna da comissão de ética do Comitê. Segundo os empresários da organização, a comissão pode tomar medidas provisórias contra Nuzman.
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