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ENTREVISTA – NIVALDO MILLET

‘O combate à fome também é uma pauta da juventude’

Coordenador de Políticas para a Juventude da Bahia defende escuta ativa para entender que os jovens pensam e querem

Por Divo Araújo

26/08/2024 - 6:00 h | Atualizada em 26/08/2024 - 8:42
Nivaldo Millet é o coordenador-geral de Políticas de Juventude da Bahi
Nivaldo Millet é o coordenador-geral de Políticas de Juventude da Bahi -

Aos 26 anos, Nivaldo Millet assume uma responsabilidade que poderia intimidar muitos veteranos: formular políticas públicas para mais de três milhões de jovens baianos. À frente da Coordenação de Políticas para a Juventude (Cojuve), que hoje tem status de secretaria, esse jovem negro, natural do bairro do Uruguai (Cidade Baixa) e oriundo do movimento estudantil, tem arregaçado as mangas e viajado intensamente pelo interior do estado com um objetivo principal: entender o que essa juventude, tão ampla e diversa, precisa e pensa.

“Tenho dito, em todos os cantos que vou, que precisamos tratar as juventudes em suas diversidades, pois as dinâmicas são muito variadas”, explica Millet, nesta entrevista exclusiva ao A TARDE. Na conversa, ele falou sobre como a transversalidade é uma marca das políticas para a juventude na Bahia e destacou programas como o Mais Futuro, que facilita a permanência dos jovens nas universidades. Confira a entrevista a seguir.

A Bahia já tem, há algum tempo, políticas públicas voltadas para juventude, mas só recentemente o governador Jerônimo Rodrigues deu status de secretaria à Coordenação de Políticas para Juventude. O que essa mudança representa na prática?

Esse é um compromisso da luta da organização da juventude na Bahia, que apontou na época ao então candidato Jerônimo Rodrigues a necessidade de ampliação da capacidade técnica dessa coordenação. Ele prontamente colocou isso no seu plano e cumpriu no início do governo. Hoje temos um órgão gestor mais pujante e estruturado que consegue, enfim, dar conta da dinâmica do que é a Bahia. Porque a Bahia pede um órgão gestor com esse olhar e capacidade técnica ampliada. O status e essa mudança, a partir da reforma administrativa, possibilitaram isso. E possibilitaram também que a gente pudesse sentar à mesa de negociação com todos os secretários, secretárias, procuradoria, todos os órgãos de governo, para tratar no mesmo patamar. Isso é importante para as políticas de juventude.

A transversalidade é uma das marcas das políticas para juventude. Como se dá essa relação com as outras secretarias? Gera algum tipo de ruído essa “disputa” por protagonismo na formulação de políticas para juventude?

A transversalidade tem sido característica fundamental na institucionalização das políticas para juventude. Alguns estados, como o Ceará, têm órgão gestor que consegue de alguma forma executar algumas ações. Mas, em grande parte do Brasil, esses órgãos enfrentam o desafio de articular e trabalhar para que essa transversalidade seja efetiva. Na Bahia não temos problema com isso. Pelo contrário: temos um olhar para compreender que a juventude que hoje ocupa a coordenação é também a juventude que é assistida pelas políticas que a gente constrói. Seja nas nossas universidades, na educação básica, no nível médio. Na Bahia a gente tem conseguido um alinhamento muito grande. É uma característica do governador Jerônimo para todas as pautas. O combate à fome também é uma pauta da juventude. Assim também como é o acesso a água, a infraestrutura, a mobilidade urbana. Muita coisa perpassa por isso. E o governador tem buscado trazer sempre para perto do seu gabinete os despachos e as resoluções disso. Ele trata a pauta da juventude como uma pauta prioritária do seu governo.

Você é muito jovem. Comparado aos outros secretários a diferença de idade é grande. Quais as vantagens e os desafios de ter uma pessoa tão jovem à frente de uma coordenação de políticas para juventude?

Isso não era algo para ser anormal. Não devia trazer espanto. Você não vai botar um homem para conduzir o órgão de políticas para as mulheres. Mas no Brasil isso ainda é um negócio atípico. Eu sou um dos mais jovens gestores da política juventude do Brasil. Eu tenho 26 anos, mas me articulo nesse lugar desde 2014. Estou completando dez anos de articulação a partir da minha escola pública, lá na Cidade Baixa. Fui presidente do grêmio estudantil. Sempre me incomodei de não ver a juventude ocupando esses espaços. São mais de três milhões de jovens baianos e baianas, que têm a minha cara, que parecem comigo, que enfrentam dificuldade no transporte, no acesso às políticas públicas de Estado. Aqui no governo tenho um acolhimento muito grande. É interessante que, todas as vezes que me coloco nesse lugar, eu tenho um acolhimento muito grande dos secretários, secretárias. Alguns já contribuíram outrora para as políticas de juventude ou tiveram uma construção de militância parecida com a minha. Acho também que estar nesse lugar mais do que nunca demarca a necessidade da gente dar oportunidade. Porque não estaria aqui se não tivesse alcançado essas políticas de juventude que hoje o Estado amplia ainda mais.

O fato de você ser mais jovem te dá um olhar diferente no momento de formular essas políticas públicas?

Não tenho dúvida disso. A juventude consegue se aproximar mais fácil das tecnologias, das redes sociais, dos debates que dialogam nesse sentido. De acompanhar as mudanças do mundo, em todos os campos, da diversidade, da sexualidade, de gênero, enfim, do acolhimento às pessoas, da solidariedade. Eu vejo isso. Tenho um cantor que gosto muito, que diz que as pessoas não são más, elas só estão perdidas. Criolo fala isso. Eu gosto disso porque, imagina, a gente nasce, vai crescendo e vai sendo moldado a partir das transformações e das dinâmicas externas. Isso influencia o nosso comportamento. Não tenho dúvida que ser jovem, nesse lugar, colabora muito para esse olhar mais inclusivo, diverso, mais amplo.

Como você lembrou, a gente tem mais de três milhões de jovens na Bahia. É um público muito diverso, vai dos 15 aos 29 anos. Como manter o olhar no geral sem perder o foco nas particularidades de cada segmento?

Eu tenho dito, em todos os cantos que vou, que a gente deve tratar as juventude nas suas diversidades. Porque essas dinâmicas são muito variadas. Os problemas que essa juventude enfrenta não são nada iguais. Cada território, cada cidade tem sua dinâmica. Cada faixa geracional tem sua dinâmica também. E a gente precisa mais uma vez bater na porta da transversalidade para pensar isso tudo. Para pensar que as políticas que alcançam esse povo são políticas oriundas e articuladas por vários outros entes e braços do governo. É compreender a juventude do campo como majoritária nas dinâmicas dos 417 municípios da Bahia. A gente precisa falar da interiorização. Mas também entender que não dá para fazer uma política que é um prato feito, que serve para todo mundo. A gente precisa de políticas específicas, que considerem as necessidades das pessoas. A juventude sabe disso e tem dito isso há muito tempo. E o governo tem se colocado à disposição para escutar.

Você tem falado sobre a necessidade de fazer uma escuta ativa, de ouvir os jovens para a formulação de políticas. Como essa escuta se dá na prática e como essas sugestões são efetivamente aproveitadas?

Nós estamos comemorando 17 anos de política para juventude, 11 anos do Estatuto da Juventude e isso perpassa por escutas que foram construídas. A Bahia não teria um órgão gestor de política para juventude há 17 anos, se a gente não tivesse feito a primeira conferência de juventude da Bahia. Essa conferência apontou que era necessário um órgão gestor. Nós fizemos, no ano passado, a 4ª Conferência Estadual da Juventude da Bahia , a maior conferência de juventude do Brasil. A gente conseguiu trazer uma quantidade muito grande de delegados, delegadas. Fizemos etapas territoriais. Porque não dá para fazer uma conferência em Salvador e achar que a gente alcança todo estado. Outras estratégias precisam ser pensadas para alcançar esse público. E a conferência nos apontou alguns caminhos. Agora, nós estamos passando por outro momento que é lançar e apresentar para sociedade baiana o “SouJuvs”. Que é um movimento que demarca a nossa diversidade, a nossa presença no governo. É um movimento que diz para juventude: a gente não quer só que vocês escutem a nossa palavra; a gente quer construir uma linha mútua de comunicação em que vocês possam nos apresentar as suas demandas. Já, Já, a gente está construindo um ambiente específico para a juventude nas redes, nos espaços institucionais de governo. Nós temos feito muita coisa. São 55 novas escolas de tempo integral. Nosso Ideb avançou e isso é fruto desse trabalho. Mas é fruto também da política de permanência estudantil. Neste ano, comemorando tudo isso, o governador Jerônimo anunciou políticas importantes. A aprovação por unanimidade do programa Agente Jovem Ambiental, que traz a juventude para o centro do debate do meio ambiente, é um exemplo disso.

Falando um pouco de questões mais específicas como a dificuldade de grande parte dos estudantes conseguir permanecer nas universidades. O governo tem programas para atender esses jovens?

Eu sou estudante universitário. Passei três semestres no Prouni, mas eu queria estudar na universidade pública. Queria fazer ciências sociais. Sou gestor público, mas sou também um jovem trabalhador que tem dinâmica de horário, tudo isso. A gente precisa compreender que às vezes é um desafio ingressar na universidade. Não tenho dúvida. Colocar na cabeça desses três milhões de jovens baianos que eles também podem é um desafio. Mas depois que você ingressa na universidade entra a pior parte. Que é conseguir ter um rendimento positivo e trabalhar. É exaustivo, trabalhar, pegar buzu, conviver com essas dificuldades que também são dificuldades que estão ligadas diretamente à juventude. A gente tem feito um trabalho muito firme desde 2017. Inclusive, na época, eu dirigia uma entidade de movimento estudantil. E a gente apresentava para o governo a necessidade de pensar uma política estadual de permanência estudantil. Hoje nós temos o “Mais Futuro”, que teve agora reajuste da bolsa. E nós estamos trabalhando firme porque queremos apresentar mais oportunidades para esse povo. Inclusive, o período de inscrições para vagas no Mais Futuro ainda estão abertas. Temos também o Partiu Estágio, que é uma política importantíssima de estágio na Bahia. Nós também fizemos reajuste e lançamos o edital. Temos ainda, a nível de ensino médio e educação básica, o Bolsa Presença. Inclusive é uma política que o governo do presidente Lula se inspirou para criar o Pé-de-Meia. Nós temos hoje caminhos para que a gente possa colaborar para permanência desses estudantes tanto nas universidades como nas escolas. Porque se você não permanece na escola o sonho da universidade não chega.

Como você falou, há 11 anos foi criado o Estatuto da Juventude no Brasil. A Bahia também já tem seu Plano Estadual da Juventude. De que forma essas duas legislações dão sustentação às políticas públicas?

Se a política de juventude não for institucionalizada ela não vai ser tratada como prioridade em lugar nenhum. São marcos que colaboram ativamente para essa institucionalização. Agora, vamos precisar atualizar o plano. Ele já comemorou aniversário e a gente precisa desta atualização a nível de estado e a nível federal. Todos os entes da federação vão fazer a atualização dos seus planos. A gente vai cobrar e vai trabalhar também para que os prefeitos e prefeitas que serão eleitos neste ano possam institucionalizar as políticas de juventude nos seus municípios. Porque, senão não funciona. Se a gente não tem a política juventude estruturada nos municípios não funciona. Mas nós entendemos que esses são os nossos guias. A gente não faz nada sem revisitar e sem pensar no que esses documentos nos apresentam. Sejam os eixos que pensam segurança pública, que pensam em inclusão sócio-produtiva, que pensam ciência, tecnologia. A gente aqui na Bahia está trabalhando firme, e o A TARDE está ajudando nesse sentido, de a gente conseguir dizer para o jovem que ele pode ser cientista. Observe que absurdo, a gente precisar ainda dizer isso. São marcos que a gente não comemoraria isso hoje se a gente não tivesse feito esses movimentos lá atrás que possibilitassem a gente ter uma linha. Porque o governo passa e a institucionalização da política para juventude precisa permanecer. Porque senão vem outro governo que acha que a juventude ameaça. E aí acabou. São marcos legais muito importantes para contribuir para que a gente possa efetivamente dar força para juventude vencer.

Dentro dessa questão de políticas de longo prazo, nós temos o Plano Plurianual (PPA). Como se deu o debate sobre a inclusão das políticas da juventude no planejamento do Estado para os próximos anos?

Pense no desafio que foi explicar para juventude o que é o PPA. Foi aí que eu percebi que tem uma tarefa gigante de nossa parte conseguir ocupar esse espaço, distensionar essa comunicação é apresentar isso de forma mais aprofundada. Nós trabalhamos pela primeira vez na Bahia para ter o programa especial do PPA, que é o Programa Juventude Mais Bahia. Esse programa tem iniciativas que perpassam por todas as secretarias de governo. Se a Secretaria de Educação tem como norte tal ação, isso também é uma coisa que nos pertence e acaba sendo transversalizado. O governador tem trabalhado nesse sentido. A gente tem conseguido cada vez mais ampliar os mecanismos de acompanhamento e monitoramento dessas informações. Esses mecanismos de monitoramento, acompanhamento em tempo real do que está sendo executado colaboram muito. Porque a burocracia do Estado é grande. E isso dificulta que a gente faça as coisas na velocidade que precisa. Mas pela primeira vez nós conseguimos fazer um plano que teve escuta de juventude nos territórios, nas plenárias, regionais, territoriais, que teve envolvimento dos conselhos que fazem essa escuta social de forma mais efetiva. Para nós é um norte e hoje eu chego em qualquer lugar do Brasil me achando porque a Bahia tem um programa especial do PPA que estabelece quais são as nossas construções do próximo período. Isso é muito importante.

Você falou de alguns programas da Cojuve. Quais outros você destacaria?

A Bahia tem hoje mais de 45 políticas, programas e ações específicas para a juventude. Eu tenho um carinho muito especial por todas elas. Como te disse, estou aqui porque fui alcançado lá atrás no início da escola de tempo integral. Isso me permitiu fazer teatro, curso de informática e me envolver nessas coisas. Tenho muito carinho pelo Projeto Primeiro Emprego. A gente hoje oferece educação profissional que é referência na Bahia. Depois, a gente dá a oportunidade para esse povo e democratiza o governo. Porque no elevador você encontra meninos e meninas que saíram de escolas estaduais e que hoje estão aqui colaborando na administração, na comunicação, logística, em várias áreas. Nos nossos hospitais, nós temos técnicos de enfermagem, nutricionistas, técnicos de nutrição que vieram da educação profissional da Bahia. Tenho um carinho muito grande também pelas políticas de permanência estudantil. O Mais Futuro, Partiu Estágio, Bolsa Presença. O Educar Mais Bahia que hoje você possibilita que várias outras artes e dinâmicas culturais possam estar presentes na escola a partir da monitoria. Também tenho um carinho muito especial por outras políticas como o Corra Pro Abraço, que tem um recorte específico para juventude e vulnerabilidade e já é uma referência em âmbito nacional. Estamos apresentando para sociedade o comitê institucional de política para juventude, que ajuda mais na gestão. Para que a gente possa efetivamente ter essa colaboração das pessoas destacadas nas secretarias para conseguir também transversalizar de fato essas construções. Nós temos o Qualifica Bahia, que tem uma perna específica para capacitação de jovens. Temos no âmbito na promoção do Esporte, e é bom falar disso porque a gente trouxe um monte de medalhas para a Bahia e, se você for ver, a juventude tem uma presença muito firme nisso. A gente tem a partir da Sudesb políticas específicas que colaboram para que o atleta tenha um suporte, tenha uma bolsa para que ele consiga competir, porque não é fácil.

Por conta da passagem do Dia Internacional da Juventude aconteceu uma série de eventos em agosto. Qual balanço você faz dessa programação?

Salvador é uma cidade tão diversa que colabora tanto para a construção da cena cultural do país, e às vezes não consegue apresentar uma programação específica para sua juventude. Com respeito a toda sociedade, mas é nossa juventude que tem uma disposição maior de viver essas coisas. A partir disso, a gente falou, oh, nós vamos também celebrar a vida dessa juventude. Porque o órgão gestor de política para juventude só existe a partir da vida dessa juventude. Da manutenção desse direito básico. Nós preparamos uma programação diversa, daquele jeito que a juventude gosta. Baianasystem, Raquel Reis, Atoxxa com participação de Belly, os blocos afros, Ilê Ayiê, Malê Debalê, e foi um sucesso. A gente percebeu que é preciso fazer mais e tem a tarefa de interiorizar isso. Mas foi uma celebração bastante importante na Arena Fonte Nova. Nós estamos fazendo também um trabalho de grafite importante. A gente produz telas de grafite que retratam a partir de artistas jovens do estado a juventude e essas intersecções com ciência, tecnologia, atravessamento cultural, fome. A partir disso tudo, a gente está preparando, no final do ano,uma exposição para contar essas histórias. Estamos muito felizes. O festival "SouJuvs" veio para ficar. O governador Jerônimo ficou muito feliz com a realização. Foi uma forma de a gente apresentar esse novo momento da política para juventude. Esse órgão gestor que estamos construindo, mas também o Movimento SouJuvs, que perpassa não somente pelo festival, mas por entrega de políticas concretas para a juventude.

Saíram recentemente dados do panorama de violências letais e sexuais contra crianças e adolescentes no Brasil mostrando que Bahia, em números absolutos, tem mais mortes de crianças e adolescentes do que São Paulo e Rio de Janeiro juntos. Como a Cojuve pode contribuir para redução dessas estatísticas?

Eu sou um jovem sobrevivente, sou do bairro do Uruguai. E fico muito feliz de que eu não tenha também sucumbido a uma dessas estatísticas. E eu falo isso porque muitas coisas são atravessamentos da vida da juventude na Bahia, no Brasil e no mundo. Todas essas dinâmicas nos tocam. E mais uma vez a gente volta a demarcar a transversalidade das nossas demandas e das nossas necessidades. A gente precisa trabalhar cada vez mais firme no Estado e o governador tem cobrado muito para que a gente possa apresentar entregas que garantam esse direito básico à vida. Perpassam por entregas de lazer, no campo da educação, da segurança. Nós temos feito isso. Tem o processo de formação com os profissionais da segurança pública, de sensibilização, de entendimento de como é que a juventude se comporta e quais são os atravessamentos ligados à juventude. Mas é fato que a gente tem uma desigualdade no nosso país muito latente, atravessamentos que dialogam sobre o local de permanência das comunidades periféricas. A falta do acesso ao lazer dessas comunidades, que nunca foram pensadas para que a gente fosse ocupar. A cidade não foi concebida de uma forma na qual se pensou onde é que esse povo preto, pós-escravidão, iria viver. Eu sou estudioso das pautas raciais, atuo no movimento negro há muito tempo e sempre as minhas pautas e o meu debate se colocaram nesse sentido. Porque nunca compreendi como, desde sempre, a gente nunca teve oportunidade. É um susto ver Nivaldo Millet, jovem preto do Uruguai, ocupando um órgão gestor do governo. O povo às vezes pergunta: é você mesmo? E eu tenho que me reafirmar disso. Acho que existem atravessamentos que são muito mais profundos e que precisamos combater. Nós estamos lançando um programa na Bahia ,que já foi aprovado na Assembleia Legislativa, que tem a nossa presença na construção dele, que é o Bahia pela Paz. O programa Bahia pela Paz se coloca para que a gente possa enfrentar de forma firme a letalidade contra a juventude da Bahia, contra a juventude negra majoritariamente, contra as crianças e adolescentes, para que a gente possa garantir o direito à vida. Por que o Bahia pela Paz se coloca dessa forma? Porque dessa vez a gente pensa o Bahia pela Paz de uma maneira transversal. Pela primeira vez, o órgão gestor da política para juventude senta as mesas de negociação e faz parte desse espaço que articula e conduz os caminhos. Nós já temos feito isso. Nós já temos contato direto com as organizações coletivas, movimentos sociais, entidades, ONGs que se articulam nas comunidades periféricas que mais apontam esses dados para nós. Para que a gente possa de fato fazer o enfrentamento real, colaborando, ampliando, impulsionando a ação dessas organizações. O enfrentamento à segurança pública virá também com enfrentamento à fome, a evasão escolar, a falta de posto de trabalho e oportunidade para juventude. É por isso que lançamos o Primeiro Emprego, porque ninguém dava oportunidade de emprego para quem precisava da primeira oportunidade. Nós temos uma população majoritariamente negra, os nossos policiais são majoritariamente negros. Então, a gente precisa enfrentar isso com firmeza e nós estamos fazendo isso. Eu acredito que o Bahia pela Paz vai se colocar de forma muito firme nesse sentido. Mas nós não fugimos dos dados. Nós estamos vendo o que está acontecendo. Eu tenho felicidade também de comemorar os avanços que nós temos tido no âmbito da segurança pública. Uma segurança pública mais cidadã. Nós incorporamos nas fardas dos policiais da câmara. Era um pleito antigo da sociedade, dos movimentos sociais. Nós vamos debater a manutenção do direito básico à vida de nossas juventudes.

Raio-X

Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba, Nivaldo Millet é o atual coordenador-geral de Políticas de Juventude da Bahia, pasta reformulada pelo governador Jerônimo Rodrigues durante a reforma administrativa de 2022, quando adquiriu status de Secretaria. Ele também é membro do Fórum Nacional de Gestoras e Gestores Estaduais de Juventude (Fonajuve) e do Comitê Interministerial da Política Pública de Juventude (Coijuve). Ex-secretário da Juventude do PT baiano, eleito por unanimidade, Millet militou no movimento estudantil e foi assessor de Juventude da Liderança da Maioria na Assembleia Legislativa.

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