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ENTREVISTA – ISABELA SUAREZ

‘Os empresários baianos precisam se reagrupar para ter força e voz’

Nova presidente da Associação Comercial da Bahia quer reforçar o papel da entidade nos debates econômicos e reaproximar o setor empresarial

Por Divo Araújo

28/07/2025 - 5:00 h
Isabela Suarez, nova presidente da Associação Comercial da Bahia
Isabela Suarez, nova presidente da Associação Comercial da Bahia -

Com uma trajetória que une experiência no setor produtivo e defesa da sustentabilidade, Isabela Suarez assume hoje a presidência da Associação Comercial da Bahia (ACB), tornando-se apenas a segunda mulher a ocupar o cargo em mais de dois séculos. À frente da mais antiga entidade empresarial das Américas, ela chega com a missão de reposicionar a ACB como agente ativo nos debates sobre o desenvolvimento econômico do estado. “A gente precisa estar na mesa das discussões”, diz.

Nesta entrevista exclusiva ao A TARDE, Isabela destaca o desafio de reorganizar o setor empresarial e reforçar o papel das entidades independentes, que, segundo ela, foram perdendo espaço nas últimas décadas. “O sucesso da sociedade, e da classe empresarial, só se dará à medida em que a gente tenha mais capacidade de se organizar.”

Entre as prioridades da nova gestão está a revitalização do Comércio, ponto histórico de Salvador onde está sediada a ACB. A proposta vai além da articulação para apoiar a prefeitura na atração de novos negócios: inclui o restauro do prédio da associação e a defesa de incentivos para os comerciantes antigos. “Se queremos ser uma cidade turística e desenvolvida, precisamos saber de onde viemos — e o Brasil vem aqui do Comércio”, resume. Saiba mais na entrevista a seguir.

A senhora é apenas a segunda mulher a assumir a presidência da Associação Comercial da Bahia em mais de 200 anos. Que significado essa conquista tem para a sua trajetória pessoal e para o papel das mulheres no empresariado baiano?

Para a minha trajetória profissional, eu diria que é, sem dúvida, um dos passos mais importantes. Por ocupar esse espaço de poder, na condição de mulher, numa associação que é a representação empresarial mais antiga das Américas. Eu cheguei à Casa a partir de um portfólio de ações realizadas pela Fundação Baía Viva, em que nós mostramos a capacidade do setor produtivo turístico baiano de fazer entregas. Portanto, a gente chega aqui com um portfólio de ações executado. Isso valida, chancela e credencia esse momento pessoal. Em relação à classe feminina, acho que a representatividade é importante em todas as esferas. E é uma demonstração de que a Associação Comercial da Bahia está atenta aos novos tempos. Porque a minha candidatura não foi apoiada apenas pelas associadas femininas, mas sim por todos, inclusive os homens. Esse é um movimento coletivo, uma demonstração de que a gente precisa realmente de mais representatividade. É importante que outras mulheres olhem para cá e vejam que a ocupação desse espaço de poder é possível. Toda vez que a gente coloca um semelhante, isso, de certa forma, impulsiona, motiva e encoraja. Então, espero sinceramente que muitas outras mulheres daqui para frente possam ocupar a mesma cadeira.

Durante o processo eleitoral, a senhora destacou o compromisso com uma atuação ampla e representativa. Quais serão as primeiras ações para garantir que a ACB tenha presença efetiva nos debates sobre o desenvolvimento econômico da Bahia?

A gente já vem, desde 2020, com a eleição de Mário Dantas, recuperando ações históricas. A Associação Comercial da Bahia sempre fez parte dos conselhos. Vamos procurar ampliar a nossa atuação como agente de articulação, sempre ao lado do setor produtivo, identificando as feridas e apontando novos caminhos. Além disso, a gente está se debruçando mais sobre os setores econômicos da Bahia, tentando garantir a nossa presença nas discussões que acontecem. O nosso primeiro compromisso institucional após a eleição, foi uma visita à Bahia Farm Show, dada a importância do oeste baiano. O agronegócio é um segmento econômico que avança a cada dia no estado. Vamos seguir demonstrando e reafirmando a nossa capacidade de articulação e tendo como aliado o peso institucional da Associação Comercial da Bahia que, como disse, é a entidade empresarial mais antiga das Américas. A gente conta com a nossa capacidade de articulação com lideranças atentas aos novos movimentos, mas também sempre valorizando essa tradição que nos colocou nesse lugar.

A senhora já afirmou que sua candidatura surgiu de um ambiente de responsabilidade institucional e representa a continuidade de uma gestão marcada pela seriedade. Quais elementos da gestão de Paulo Cavalcanti pretende preservar e quais acredita que precisam ser atualizados para enfrentar os desafios atuais do setor produtivo?

O presidente Paulo Cavalcanti implementou ações muito inovadoras. Uma delas são os preceitos da consciência cidadã participativa transformadora, que é um chamado a toda sociedade civil, não só a classe empresarial. Para que as pessoas entendam não só a importância do empresariado, mas também como a atividade empresarial pode ser um grande instrumento de combate às desigualdades - principal problema que trava o desenvolvimento do nosso país. Sem dúvida, daremos continuidade a essa filosofia. E seguiremos com outras ações que vêm sendo implementadas desde o início da gestão de Paulo, que são os serviços oferecidos ao cidadão e à classe empresarial. Falo da emissão de certificados digitais, certificados de origem, declarações de exclusividade, além dos núcleos especializados que funcionam como hub de intermediação de negócios para os novos empresários que querem vir à Bahia. Pretendemos ampliar e modernizar ainda mais essa capacidade de conversar e de atender o setor empresarial que quer instalar a sua atividade aqui, se colocando sempre como ponte. Para isso, a gente está estudando a criação e ampliação de novos núcleos que já funcionavam bem, mas que precisam de mais apoio, de mais voluntários para que consigam atender mais gente. Isso não se resume apenas às atividades empresariais. A gente tem recebido muitos gestores municipais com dúvidas em relação a como executar melhor os serviços no seu município, como capacitar os seus servidores. Tiramos dúvidas em relação à política fiscal e tantas outras coisas para o bom funcionamento e desenvolvimento da nossa economia.

Sua atuação à frente da Fundação Baía Viva e na vice-presidência de Sustentabilidade da ACB revela um compromisso com pautas ambientais. De que forma a sustentabilidade orienta suas decisões como empresária e como ela pode ser integrada às estratégias de desenvolvimento no estado?

Sempre fizemos a defesa do empresário como vetor fundamental na aplicação do conceito de sustentabilidade. É muito comum encarar a sustentabilidade apenas como uma preocupação ecológica. E, desde que passei a comandar o Núcleo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Casa, a gente tem feito esse debate de que é preciso uma visão mais ampla e que a sustentabilidade, por sua essência, é um tripé. Ela tem um pilar social, um ambiental e tem o pilar econômico. E o empresário é fundamental para manter de pé dois pilares que são essenciais para que essa equação seja perfeita, que é o social e o econômico. Porque o empresário atua exatamente na empregabilidade. Ao empregar, movimentar a economia, ao garantir autonomia financeira para as pessoas, ele traz dignidade. Para que se tenha um olhar mais atento aos recursos naturais, as pessoas precisam ter acesso à dignidade. E o que garante a dignidade humana? Autonomia financeira, boa qualidade de vida, acesso ao crédito, acesso ao trabalho de carteira assinada. A gente tem feito um trabalho aqui muito expressivo, chamando a atenção para o nível de informalidade no setor empresarial e nos postos de trabalho de forma geral. Mostrando o quanto isso é prejudicial, porque uma vez que é informal, você não consegue crédito nas instâncias reguladas. Eu vejo muito essa conexão. A Associação Comercial da Bahia foi um braço para reverberar esse conceito que a gente sempre aplicou nos trabalhos da Fundação Baía Viva. É evidente que você precisa ter um olhar mais inteligente e atencioso para os recursos naturais porque o mundo de hoje não é o de antigamente. É preciso um cuidado maior até pela finitude desses recursos. Mas a gente também não pode ignorar que a atividade empresarial precisa ficar de pé e a conservação ambiental não pode ser um entrave. O que precisa existir é uma conversa harmoniosa entre esses dois vetores. A gente vem demonstrando, através das ações principalmente na Fundação Baía Viva, que isso é perfeitamente possível. Mas, para isso, é preciso que todo mundo esteja na mesma página.

À frente da Fundação Baía Viva, a senhora defendeu muito a exploração do potencial turístico da Baía de Todos-os-Santos. À frente da Associação Comercial, pretende seguir destacando o potencial do turismo não só da Baía, mas de todo estado?

Com toda certeza, defendo que o segmento turístico deve ser o primeiro, dadas as condições e as vocações naturais do nosso Estado. A gente tem feito um debate muito firme defendendo a Baía de Todos-os-Santos e mostrando que hoje a gente só não aponta em primeiro lugar no turismo por um problema de falta de infraestrutura. É preciso uma melhor execução das políticas públicas para que a gente faça valer a verdadeira vocação do nosso Estado. Não estou dizendo que os outros setores não são importantes. Mas existem vocações que são naturais e o turismo é uma vocação natural da Bahia. Mas, para que o Estado consiga viver dessa vocação natural, é preciso ter políticas públicas eficazes, principalmente em relação à infraestrutura, segurança pública, estradas, infraestrutura aeroportuária. Na Associação, temos um núcleo específico e vamos fortalecê-lo para que a gente aponte caminhos concretos. A Associação Comercial da Bahia estará ao lado do setor turístico, que tem tudo para ser o nosso primeiro segmento econômico. Em tudo aqui, a gente faz um esforço enorme para privilegiar os produtos do Estado, para indicar os empresários do turismo que são da Bahia e que estão iniciando negócios novos. A sinergia é total e absoluta. A gente vai ter uma agenda bastante expressiva no que envolve o turismo.

A senhora já destacou a importância de fortalecer o associativismo empresarial, mencionando que ele enfrentou dificuldades nas últimas décadas. Quais são os principais desafios para revitalizar essas representações?

O principal desafio é a gente fazer esse reagrupamento. Durante muito tempo, as representações das entidades empresariais independentes ficaram completamente alijadas do processo. A defesa da indústria e do empresariado encontra respaldo nas unidades federadas, responsáveis por capacitar, oferecer recursos técnicos, melhorar os serviços de forma geral para que o segmento possa se desenvolver. Por outro lado, as feridas e discussões necessárias para a existência do empresariado sempre ficaram sob responsabilidade das entidades empresariais independentes, que com o tempo foram se perdendo. O que aconteceu foi uma fragmentação para clubes de relacionamento. Mas o sucesso da sociedade, e da classe empresarial, só se dará à medida em que a gente tenha mais capacidade de se organizar. Como a gente vai fazer isso? Fazendo um bom trabalho de comunicação, com a ajuda da imprensa, que sempre esteve ao lado da Associação Comercial da Bahia, trazendo personalidades para promover debates. As pessoas precisam entender o quanto é importante esse reagrupamento para que os pleitos tenham eficácia. Caso contrário, fica todo mundo falando sozinho. As principais decisões, por exemplo, do poder público nos últimos tempos, não vêm dialogando com o segmento. E os empresários são responsáveis por executar muitas medidas. A gente precisa estar na mesa das discussões. Claro, tudo isso sempre com base no bom diálogo, na civilidade, no respeito ao Estado Democrático de Direito. Mas a gente só vai ser lembrado se tiver força. Por isso, conclamo a todo segmento empresarial da Bahia, esse reagrupamento. Que eles tenham a Associação Comercial da Bahia como instância mãe, já que é a entidade mais antiga das Américas.

O associativismo é uma herança familiar e parte da sua formação desde cedo. Como essa vivência influenciou sua trajetória profissional e sua forma de entender o papel do empresariado na sociedade?

Influenciou significativamente. É uma história que começa com meu avô, imigrante espanhol, que chegou no Brasil numa situação de pobreza. Começou a trabalhar nos bares e restaurantes aqui do Comércio, e teve nessas instâncias, durante muito tempo, um círculo de relacionamentos que permitiu que ele viesse a ser empresário. Essa minha preocupação, sem dúvida nenhuma, guarda uma relação muito familiar. Além disso, a gente carrega aquela responsabilidade social que sempre foi inerente a muitos empresários. Eu não acho que ela tenha se perdido com o tempo. Existem muitos empresários que são filantropos, que têm a responsabilidade social na sua veia. O que a gente precisa, talvez, é chamar mais atenção é a importância da continuidade desse papel. Isso vai ajudar na compreensão da sociedade da importância do empresário. Todas essas instituições, principalmente a Associação Comercial da Bahia, têm uma história disso. Não se trata apenas de um clube de relacionamento. Os empresários que sempre fizeram parte da casa estão comprometidos também com os problemas sociais. A Associação Comercial da Bahia não vai deixar esse braço morrer, tendo em vista todos os problemas que nós temos enfrentado aqui. Respondendo a sua pergunta, esse amor pelo associativismo, guarda, sim, uma relação familiar. E é a continuidade de um processo que sempre existiu e que precisa ser refrescado na memória de muitas pessoas que também têm essa herança e só precisam voltar a fazer parte dela.

A Associação Comercial da Bahia manifestou interesse em participar do processo de revitalização da região do Comércio. Quais são os principais desafios para atrair investimentos à região, e de que forma a questão da segurança pode afetar esse esforço?

A gente tem se debruçado bastante sobre essas possibilidades novas de revitalização do Comércio. Há um pacote anunciado pela prefeitura de Salvador faz um tempo, que é o Projeto Renova, que dá incentivos àqueles novos empresários que querem se instalar na região. E a gente quer participar dessa revitalização, olhando para dentro e fazendo com que a Associação Comercial da Bahia seja protagonista. Não apenas exercendo o papel de um grande articulador, mas começando pelo restauro do próprio palácio onde está a Associação Comercial da Bahia. Então, quando você pergunta sobre as atividades que darei continuidade, o presidente Paulo já vem fazendo algumas reformas estruturais no Palácio, e a gente quer ampliar isso para manter viva a história do Comércio. História que começa com a sensação de pertencimento. Essa sensação de pertencimento passa pelo restauro para que a sociedade entenda a importância da preservação do bairro. Se nós queremos ser uma cidade desenvolvida, turística e bem visitada, a gente precisa saber de onde a gente veio. E o Brasil vem aqui do Comércio. Além disso, nós precisamos de soluções básicas para poder manter o comerciante na região. O comerciante que sempre esteve aqui também precisa ter incentivos para continuar. A gente entende que não tem que haver incentivos apenas para os novos. Os que fazem parte, sempre fizeram parte do comércio, precisam ter condições para continuar. E, sem dúvida nenhuma, a gente sabe que a segurança pública é muito impactante. Muita gente deixa de vir ao Comércio porque foi um bairro historicamente programado para funcionar até 5h da tarde. Funcionando após às 5h da tarde, quais serão os desafios para que toda essa área econômica que hoje se deslocou para outro lugar volte ao Comércio. Isso passa por reforço na segurança pública, modernização dos prédios, incentivo do poder público a trazer cada vez mais os seus órgãos públicos para o Comércio, porque assim você incentiva novos negócios. E a gente volta a dar vida ao bairro. E uma grande estratégia é a conservação e o restauro dos prédios antigos que estão por aqui e são uma marca de nossa cidade. Portanto, fazer um programa de subsídios para incentivar o restauro desses imóveis é muito importante para revitalização do bairro. E a gente vai começar mostrando todo esse potencial a partir da recuperação do Palácio da Associação Comercial. Para manter viva a história desse bairro que eu diria que é o coração econômico de Salvador.

Quais outras medidas podem ajudar a revitalizar a região?

A revitalização do Comércio não acontecerá apenas pela ocupação de novos negócios. É importante um olhar mais especial para o segmento náutico. Essa revitalização econômica se dá também através do mar. Já está demonstrado que todas as cidades e regiões que fizeram a infraestrutura para o seu segmento náutico, tiveram a sua parte histórica absolutamente revitalizada. Não só com esforço do poder público, mas também com esse novo convite para que a iniciativa privada se interesse. Esse seria um vetor muito importante de reforço para manter o bairro vivo, no momento que o Comércio sofre com a saída da Justiça do Trabalho. É preciso ter um olhar especial para essa pauta náutica, já que nós estamos em frente à Baía de Todos-os-Santos. Nós temos aqui uma grande costa e infinitas possibilidades para fazer infraestrutura náutica e atrair esse segmento que ainda é muito subestimado aqui na Bahia. Isso ajudaria muito na revitalização do nosso bairro.

Raio-X

Advogada, Isabela Suarez atua no setor empresarial e na promoção do desenvolvimento sustentável. É presidente da Fundação Baía Viva, onde lidera ações concretas de requalificação urbana e ambiental nas ilhas da Baía de Todos-os-Santos, com destaque para programas como o Bandeira Azul, que concedeu a primeira certificação do Norte e Nordeste do Brasil à praia de Ponte de Nossa Senhora de Guadalupe. Atual presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB), ela já ocupou o cargo de vice-presidente do Núcleo de Sustentabilidade da entidade e é integrante do Rotary Club da Bahia.

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