POLÍTICA
Parlamentares ampliam pressão para saída de Ernesto Araújo de ministério
Por Raul Aguilar

A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de manter no cargo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está indo de encontro ao pensamento majoritário de Congresso Nacional.
A avaliação generalizada entre parlamentares dos vários espectros políticos, inclusive de membros do bolsonarismo, é de que a gestão do chanceler está trazendo inúmeros prejuízos ao Brasil. Após seguidos ataques dele contra China, o país asiático passou a negociar com o Brasil através de interlocutores, sem a tutela do Ministério das Relações Exteriores.
Na última quarta-feira, 24, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fez um duro discurso contra o chanceler brasileiro da tribuna, chegando a falar de "remédios amargos" e "fatais" do parlamento caso não exista, do lado do governo, a "flexibilidade de ceder", em referência à demissão de Araújo.
O líder do PSD no Senado Federal, Otto Alencar (PSD), pontua que Ernesto Araújo está sendo “avalizado pelo presidente e pelos filhos”. E, em tom de ironia, pontua que tudo que “envolve a família do presidente” conta sempre com uma “fiadura bem sólida”.
“Ernesto é um chanceler que não vai deixar marcas de sucesso na diplomacia, pelo contrário, só criou problema em todos os países. O governo chinês, por exemplo, não quer conversar com o Brasil enquanto ele continuar. Bolsonaro terá que avaliar o que é bom para ele, para o entorno dele e o que é importante para o Brasil. Se optar por uma decisão familiar, ele vai colher prejuízo” avaliou Otto
Para o senador baiano será difícil encontrar uma saída honrosa para ele. “ Ernesto não tem vaga nos países que ele criou problema. Na embaixada dos EUA, não tem vaga com Biden. Na China, muito menos. Na Europa também não tem, ele está sem lugar para ir”.
O deputado Marcelo Nilo (PSB) acredita que Ernesto Araújo, como aconteceu com Eduardo Pazuello, será demitido em um curto espaço de tempo, junto com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Agora, eles são os dois alvos prioritários do centrão.
“Quem conhece a política, sabe que Bolsonaro está entregue ao centrão, que já demitiu Pazuello, vai demitir Ernesto e Salles, que são os considerados ideológicos. O Centrão sabe que 2022 já está na porta e não vão querer segurar a alça de caixão, vão querer comandar, disse Nilo, que é coordenador da bancada de deputados federais e senadores.
Para ele, as declarações de Arthur Lira, direcionadas ao presidente, são duras e buscam enfraquecer o governo. “Bolsonaro já era, sabe que ninguém vai tirar da testa dele a palavra genocida, sabe que vai comandar por pouco tempo. Daqui a pouco o centrão pede a cabeça de Paulo Guedes, Onix Lorenzini, para eles indicarem. O governo hoje é o centrão, eles vão querer os dedos e os anéis”, brincou Nilo.
Outro a avaliar que Ernesto Araújo está com os dias contados é o deputado Afonso Florence, vice-líder do PTna Câmara,. Ele sinaliza que Ernesto está conduzindo o ministério de forma irresponsável cita o diálogo com a China, principal parceira comercial do país e uma das maiores fabricantes de vacinas contra o novo coronavírus e de insumos no mundo: “A China tem que aturar Bolsonaro, por ser o presidente, mas Ernesto eles não aturam. Hoje diversos interlocutores falam com a China, inclusive Lula, mas o chanceler não fala”.
Em uma analogia, do deputado afirma que Ernesto Araújo teve está como um membro gangrenado, apodrecendo e que deve cair de forma abrupta. Ele afirma que a decisão de Bolsonaro de mantê-lo cargo é uma forma de “prorrogação de um prazo de validade vencido”.
Tese estranha
O economista e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia (Ufba), com doutorado em História Econômica pela USP, Marcos Guedes Vaz Sampaio, aponta que o presidente Bolsonaro e o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, no primeiro momento da crise sanitária, fizeram uma “aposta negacionista em relação à pandemia”, marcado por um “forte conteúdo ideológico” e de aproximação “com os Estados Unidos e com um bloco de nações de governos fortemente reacionários”.
“Uma tese estranha que o Ernesto Araújo defendia e que não encontra sustentação nos centros de pesquisa ao redor do mundo, que é a tese de um suposto Marxismo Cultural amplificada em escala global e que, portanto, o governo do Jair Bolsonaro e de Donald Trump era uma reação a esse Marxismo Cultural disseminado em escala global. Não há sustentação em nenhum centro sério de pesquisa no mundo de uma tese dessa natureza”, destacou Guedes.
O professor de Relações Internacionais elenca que, com uma derrota de Trump, Joe Biden assume o governo com uma postura “respaldada nos melhores estudos científicos sobre o controle e enfrentamento da pandemia”, gerando um “redirecionamento” na nação mais importante do mundo “nas ações de combate à pandemia”, o que acabou provocando um “isolamento do governo Bolsonaro e de Ernesto Araújo, que naturalmente precisa realinhar o discurso para estar em sintonia com os novos ventos que sopram do Hemisfério Norte, dos Estados Unidos”.
Marcos Guedes lembra que, ao contrário de Donald Trump, o Brasil negligenciou os contratos com os fabricantes para compra de vacina contra o coronavírus e lembra que “Ernesto Araújo sequer era a favor do Brasil entrar no consórcio Covax Facility”, e que o Brasil terminou entrando com uma participação muito pequena.
“Em um momento tão grave da pandemia, o Brasil vai ter uma quantidade muito pequena de doses neste consócio, que o Brasil entrou com uma participação muito baixa”. O economista destaca que, no momento em que a pandemia se agravou, na segunda onda, o presidente da República começou a reagir, “assinando tardiamente contratos”, que, “se cumpridos”, poderão “imunizar toda população” até o final do ano.
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