ENTREVISTA - AUGUSTO VASCONCELOS
‘Precisamos dialogar sobre a redução da jornada de trabalho’
Novo secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte detalha, em entrevista ao A TARDE, os principais projetos da pasta
Por Divo Araújo
O novo secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre), Augusto Vasconcelos, tomou posse no início de janeiro cheio de planos pela frente. Entre suas prioridades estão a ampliação do microcrédito para pequenos empreendedores, com foco nas mulheres, o fortalecimento da economia solidária e a expansão de programas de incentivo ao esporte. Mas também integra sua agenda a promoção de debates importantes para os trabalhadores na Bahia, como a redução da jornada laboral.
Nesta entrevista exclusiva ao A TARDE, o secretário pontua que os avanços científicos e tecnológicos têm aumentado a produtividade no trabalho, mas não beneficiado proporcionalmente os trabalhadores. “Como se explica que, em alguns setores da economia, a lucratividade aumentou e os trabalhadores, apesar da tecnologia, estão trabalhando mais, adoecendo mais e recebendo menos? Essa equação não fecha”, questiona. Ele assegura que a Setre será protagonista nesse debate no estado. Confira a entrevista a seguir.
O senhor acabou de tomar posse como secretário estadual do Trabalho no momento em que a Bahia registra uma taxa de desocupação de 9,7%, a menor da série histórica iniciada em 2012. Uma série de fatores influencia essa taxa, mas de que maneira o senhor à frente da Setre planeja contribuir para que ela caia ainda mais?
Precisamos aproveitar o bom momento da economia brasileira, atraindo novos investimentos e a perspectiva para o nosso Estado é muito boa. No ano passado, geramos mais de 100 mil novos postos de trabalho, uma marca que é a maior dos últimos anos. De modo que temos uma perspectiva muito boa com a chegada de novas empresas e investimentos – a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, o Porto Sul, a BYD, a construção da ponte Salvador-Itaparica, o VLT, obras na área da mineração, o avanço do turismo, as pautas da cultura. Tudo isso gera novas oportunidades de distribuição de renda. Em especial, nós vamos focar nas áreas da economia solidária e popular, visando ampliar a inclusão produtiva dos trabalhadores e trabalhadoras informais e autônomas, através de mecanismos de microcrédito. Já destinamos mais de R$ 730 milhões em empréstimos nos 27 territórios de identidade, para o pequeno empreendedor poder deslanchar os seus negócios e aprofundar a distribuição de renda do ponto de vista regional. Temos uma perspectiva de ultrapassar a marca de 100 mil pessoas beneficiárias desse microcrédito, em especial as mulheres. Mais de 60% das pessoas que obtêm o microcrédito através do CrediBahia são empreendedoras femininas. E vamos fazer uma aposta decisiva para reduzir ainda mais esse índice de desocupação. Como você bem disse, não depende só do esforço do Estado. Tem relação com as questões macroeconômicas. Por isso, defendemos que o Brasil precisa retomar um programa de desenvolvimento, sobretudo na área industrial. Vemos com bons olhos a retomada, por exemplo, da indústria naval. Aqui o estaleiro Enseada do Paraguaçu pode abrir muitas oportunidades na região do Recôncavo, além da perspectiva da geração produtos com maior valor agregado, com intensidade tecnológica, para que a gente possa colocar o Brasil em outro patamar na divisão internacional do trabalho. Claro que a gente tem gargalos a serem enfrentados, como a política de juros altos, que inibe novos investimentos e prejudica a economia. Mas, no que depender do Estado da Bahia, vamos fazer a nossa parte e atuar para que esse bom momento da economia brasileira seja aproveitado ao máximo para que possamos gerar mais oportunidades para baianos e baianas.
Em seu discurso de posse, o senhor destacou a importância de interiorizar as políticas públicas da Setre. Quais estratégias serão adotadas para garantir que ações como qualificação profissional e economia solidária alcancem os territórios mais distantes da Bahia?
Um dia após tomar posse, eu tive uma reunião com três ministros em Brasília. E, no dia seguinte, já estava no interior, reunindo representantes de diversos municípios no extremo sul do Estado. Já estou com agenda recheada de atividades em todos os 27 territórios de identidade. Nosso governador Jerônimo Rodrigues já visitou mais de 300 municípios. É uma marca incrível, porque vários municípios desses ele visitou mais de uma vez. É necessário que a política pública chegue em todos os lugares e o nosso Estado é muito grande em termos de dimensões territoriais. Mas, com planejamento, organização e em parceria com as prefeituras, câmaras municipais e organizações sociais, nós temos buscado levar tanto a pauta do trabalho quanto do esporte para todos os territórios de identidade. Essa vai ser uma das missões mais importantes da nossa secretaria.
A economia solidária foi uma das áreas que o senhor já citou como prioridade de sua gestão. Que tipo de investimentos estão sendo planejados para fortalecer esse setor?
A Bahia é referência na pauta da economia solidária e popular. Não é à toa que vamos sediar este ano o Festival Nordestino de Economia Solidária. Todos os nove estados do Nordeste vão participar. Temos um diálogo muito forte com a Secretaria Nacional da Economia Solidária. Inclusive sempre somos mencionados como um case de sucesso, porque nós temos feito através da economia solidária a inclusão produtiva de muitas famílias, tanto na área da agricultura familiar como dos pequenos empreendimentos. Estamos potencializando esse setor através de arranjos produtivos que fortalecem cooperativas e associações com a sustentabilidade ambiental como marca e o trabalho decente como questão central. Principalmente com a valorização das mulheres, porque grande parte da economia solidária é feita por mulheres. Essa é uma área muito forte da nossa secretaria e vamos aprofundá-la, seja com apoio técnico, seja com o fortalecimento dos Centros Públicos de Economia Solidária. Já temos 17 em funcionamento no Estado. Ontem mesmo eu assinei um despacho que autoriza a publicação de edital para a gente poder colocar novos Centros Públicos de Economia Solidária em seis regiões diferentes da Bahia. Nós pretendemos chegar nos 27 territórios de identidade com esses novos centros. Também fizemos a publicação da revista do CrediBahia, que demonstra o quanto é importante fazer o financiamento através do microcrédito para impulsionar novos negócios. Sou de bairro popular, venho do Cabula 6, e sei o quanto várias famílias vendiam geladinho, bolo, coxinha, pastel, para pagar suas contas,sem qualquer apoio. Agora, essas pessoas têm a possibilidade de ter microcrédito, que na primeira busca de concessão do crédito pode chegar a R$ 5 mil de empréstimo, subindo até R$ 21 mil progressivamente. Se você pagar os boletos em dia, você pode ter a possibilidade de obter até R$ 21 mil em empréstimo para comprar um fogão, uma geladeira, um forno industrial, para desenvolver o negócio. A gente vai apostar muito no microcrédito, na qualificação profissional, na inclusão produtiva, no fortalecimento das cooperativas e associações, que é uma das metas mais importantes da economia solidária e popular.
Outro segmento da economia que é muito importante, sobretudo em Salvador, é a economia criativa. E um dos momentos mais importantes para este segmento é o Carnaval. Como a secretaria vai apoiar esse segmento?
No Carnaval, a nossa secretaria trabalha a pleno vapor, sobretudo com a inclusão de catadores e catadoras. Temos programas relacionados à economia circular, inclusive com a compra de balanças, caminhões, prensas, para que a gente possa impulsionar a atuação desses trabalhadores e principalmente das trabalhadoras. As mulheres também são maioria na coleta de materiais recicláveis. Temos também um projeto chamado Cidade Carnavalesca que, em parceria com o afoxé Filhos de Gandhy, tem desempenhado projetos de qualificação profissional para criação de indumentárias e instrumentos para o Carnaval. Nós criamos, por exemplo, cursos de qualificação para formar roads, que vão atuar na área da música, dos palcos, na organização dos eventos, na produção cultural. A gente tem um foco muito grande nessa área de economia criativa. Já fizemos parcerias com a Pracatum. Temos outras perspectivas também no interior do Estado, fortalecendo a micareta de Feira de Santana e os eventos juninos. Realmente, a nossa secretaria tem uma relação muito forte com a pauta da economia criativa. E a Bahia, por ser esse Estado que produz cultura, precisa aproveitar esse momento para gerar negócios e oportunidades de renda.
Como ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, o senhor possui uma forte ligação com o movimento sindical. De que maneira essa experiência contribuirá para o diálogo com sindicatos e movimentos sociais na formulação de políticas públicas?
Eu sou trabalhador, filho da classe trabalhadora, e estou nessa condição agora de secretário de Estado. Mas sou da luta sindical, onde tenho minha origem. Sou da luta popular por defesa de direitos, por pautas de distribuição de renda. No Sindicato dos Bancários nós enfrentamos o setor mais poderoso da economia. É evidente que nós levamos isso tudo para a agenda de um governo que tem a característica de ter um governador também de origem popular e que tem uma ligação muito forte com os movimentos sociais. É evidente que nós vamos conversar com o setor produtivo, com todos os segmentos empresariais, atrair novos investimentos, firmar parcerias, mas temos um compromisso muito forte com a pauta do trabalho decente. Para mim foi uma experiência incrível o Sindicato dos Bancários, assim como o movimento sindical. É uma escola de vida, de formação cidadã. Eu vou carregar esses ensinamentos comigo, claro que numa outra posição, mas sempre em diálogo e em parceria com as centrais sindicais e com as lutas da classe trabalhadora.
Quais são os planos da Setre para ampliar o acesso ao esporte nos municípios baianos, desde a iniciação até o alto rendimento?
Eu tenho uma ligação com a pauta do esporte desde a minha infância. Como disse, sou nascido e criado numa várzea, no futebol, no Cabula 6, em Narandiba. Já atuei no esporte de alto rendimento, como gestor. Tive a oportunidade de ter experiências importantes, e vamos levar isso para dentro da secretaria também. Hoje, o nosso governo é uma referência também nacional na área esportiva. Desde a iniciação esportiva até o alto rendimento, com projetos sociais relevantes e reconhecidos, como é o caso do projeto Esporte por Toda Parte, que leva atividades esportivas para as comunidades. Mas também com os resultados que os nossos atletas têm obtido em Olimpíadas, Paralimpíadas, competições nacionais e internacionais, graças a uma política pública que tem dado certo. Nós vamos dar continuidade e intensificar o programa Faz Atleta, o Bolsa Esporte, os programas de apoio às federações, a agenda das competições esportivas, o apoio no transporte de atletas para disputar competições. Vamos trabalhar no fomento ao esporte no cotidiano. Agora mesmo estou vindo de um programa que estamos executando, que é o Costa a Costa, que leva o esporte para as seis áreas litorâneas desse imenso território da Bahia. Estive na Costa das Baleias, em Alcobaça. Vamos agora para a Costa do Descobrimento. Em seguida, nós vamos para a Costa do Cacau, Costa do Dendê, chegaremos aqui na Costa dos Coqueiros, em Camaçari. E vamos culminar em um grande evento aqui em Salvador, em meados de fevereiro. São agendas importantes que o esporte tem desempenhado. E nós temos um compromisso muito forte, seja com o esporte de participação, o esporte acoplado com a educação. Nós pretendemos lançar um robusto programa de ocupação esportiva das escolas públicas da rede estadual. Temos uma reunião marcada com a secretária Estadual de Educação. Nosso governador está muito dedicado a fazer essa intersetorialidade entre a Setre, a Educação e outras áreas do governo. Vamos lançar em breve um grande programa para que nossos estudantes da rede pública estadual tenham mais oportunidade da prática esportiva, aproveitando esse momento das novas escolas de tempo integral, que são equipamentos incríveis, com piscina, ginásio, quadras cobertas, áreas importantíssimas. E a gente vai fortalecer, sem dúvida, todas essas áreas, sem deixar de considerar o apoio a áreas que se relacionam com o esporte e com a cultura, como é o caso da capoeira, entre outros elementos que integram a nossa agenda de políticas públicas.
O senhor citou alguns programas nessa área, e tem um programa muito tradicional, que é o FazAtleta. Quais são os planos para o programa neste ano?
O FazAtleta é um programa que dá certo. Através do apoio de empresas, o governo concede uma isenção tributária do ICMS. A partir disso, nós temos conseguido apoiar atletas, inclusive do paradesporto, para disputar competições nacionais e internacionais. Não é à toa o bom desempenho dos nossos atletas nas últimas Olimpíadas. A Bahia tem tido um desempenho fantástico, por exemplo, na canoagem e no pugilismo. Nós temos uma determinação de fortalecer esse programa. Em 2024, foram investidos R$ 10 milhões. Para este ano, será solicitado um valor superior, já que a demanda foi maior que esse valor, cerca de R$ 15 milhões. Nós vamos conversar com a Secretaria da Fazenda, com a Secretaria de Planejamento, com o gabinete do governador, com a Assembleia Legislativa, para a gente impulsionar os investimentos que apoiem nossos atletas e também as federações, as competições.
O senhor mencionou a Agenda Bahia do Trabalho Decente. Como sua gestão pretende avançar na erradicação do trabalho infantil e no combate ao trabalho análogo à escravidão, que ainda são desafios no estado?
A Bahia foi o primeiro estado a implementar a Agenda do Trabalho Decente, que é um desdobramento de resoluções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que trata de nove eixos, dentre os quais o combate ao trabalho análogo à escravidão e a erradicação do trabalho infantil. São duas frentes de atuação, nas quais a Setre tem um papel muito destacado, inclusive através dos conselhos que têm a presença do Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, Auditoria Fiscal do Trabalho. Isso numa parceria muito forte com a nossa secretaria, para a gente poder fiscalizar, acompanhar, mas também reposicionar esses trabalhadores. A gente precisa enfrentar o trabalho análogo à escravidão. Mas a gente já viu casos de pessoas que saíram daquela condição e, em algum momento, voltaram. Isso vale também para o trabalho infantil. Por conta da degradação das dificuldades sociais, econômicas, acaba sendo um terreno fértil para essa hiperexploração. De modo que a gente tem discutido, de maneira complementar com outras secretarias e órgãos do governo federal e do próprio Ministério Público, para a gente poder adotar caminhos eficazes para fazer o enfrentamento dessas duas questões. Não é um tema simples,mas conta com uma dedicação muito forte da nossa secretaria, a partir da Agenda do Trabalho Decente.
A criação de empregos verdes e o incentivo à sustentabilidade também são pontos da Agenda do Trabalho Decente. O que podemos esperar de sua gestão no estímulo à geração de empregos alinhados às práticas ambientais?
Nós já temos um papel muito forte nessa área da economia solidária, voltada para a economia circular, com apoio à catadores de materiais recicláveis, à agricultura familiar, uma agroindústria não poluente, com o fortalecimento de iniciativas de organizações da sociedade civil nesta área. A gente deve lançar, por exemplo, um grande projeto relacionado à cultura do sisal, que tem uma relação muito forte com a pauta da sustentabilidade ambiental. Temos questões que se relacionam com a atração de investimentos e indústrias voltadas para energias renováveis. A Bahia atraiu muitos novos negócios na área da energia eólica, energia solar, no desenvolvimento de equipamentos para as placas fotovoltaicas. Estamos muito dedicados a essa missão de atração de indústrias e empresas que se relacionem com essa pauta da energia renovável. Nosso Estado já é o que mais produz energia eólica no país. Queremos nos consolidar ainda mais na área da energia solar e temos perspectivas muito boas relacionadas à pauta da agricultura voltada à sustentabilidade. É um tema mundial. O Brasil sediará este ano a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025). Tem uma decisão muito forte do governo Lula e do nosso governador Jerônimo de colocar esse tema da sustentabilidade no centro. Nós vamos batalhar bastante para que essas perspectivas também gerem oportunidades de renda para o conjunto do nosso povo, seja através do crédito de carbono, com preservação da nossa biodiversidade, seja através da atração de investimentos na energia renovável, seja com o apoio a catadores e organizações que atuam na área da economia circular.
A inclusão de grupos vulneráveis no mercado de trabalho, como mulheres e pessoas com deficiência e jovens, foi mencionada como prioridade. Quais políticas específicas serão implementadas para reduzir as desigualdades nesse âmbito?
Como vocês sabem, eu sou um pai atípico de uma criança que tem síndrome de Down e uma cardiopatia congênita muito grave. Isso, sem dúvida, nos impulsiona a lutar ainda mais pela causa da pessoa com deficiência. Temos programas já em curso, seja na área do esporte, seja na área do trabalho, da qualificação profissional e da intermediação de mão de obra e nós vamos impulsionar esses programas porque acreditamos que todas as pessoas devem ter igualdade de oportunidades. Uma pessoa com deficiência pode dar grandes contribuições à sociedade, seja na dimensão do trabalho, seja na dimensão do esporte. E nós vamos apostar muito nesses sonhos com políticas públicas integradas com outras áreas do governo, a exemplo da educação, da saúde, da cultura, do turismo, das questões de investimentos na área industrial que tem perspectiva também nessa área da acessibilidade. E na política pública do esporte que, sem dúvida, é uma ferramenta importante de inclusão. Na pauta das mulheres, a gente tem desenvolvido programas super relevantes, a exemplo do Credibahia Mulher que apoia com microcrédito empreendedoras femininas. Não é à toa que mais de 60% do microcrédito concedido pelo Estado tem sido destinado para mulheres. Mulheres chefes de família, mães solo, a gente vai impulsionar ainda mais essa área. Também desenvolvemos programas na área de qualificação profissional voltado para mulheres, numa perspectiva de ampliar as oportunidades de geração de renda para as mulheres. A gente sabe que, na divisão do trabalho e na distribuição da renda, as mulheres são as mais penalizadas. Se a gente olhar o mapa da pobreza, ele tem gênero e cor. As mulheres negras são as que mais sofrem com as desigualdades sociais e isso tudo tem impacto. Óbvio que a nossa política pública vai na contramão. Não é à toa que quando a gente faz, por exemplo, o edital de seleção de um projeto a ser desenvolvido pela Setre, colocamos lá como um dos critérios de análise a inclusão de gênero e racial. São pautas na nossa Agenda do Trabalho Decente e são compromissos na implementação da política pública que nós vamos intensificar.
A Bahia possui um grande potencial turístico. Como a Setre atuará para atrair novos investimentos e fomentar o desenvolvimento econômico nesse setor, ao mesmo tempo em que promove a geração de empregos de qualidade?
A área do turismo é fundamental e temos uma relação muito boa com a Secretaria do Turismo. Temos projetos importantes na área do fomento ao artesanato, que se relaciona muito forte com o turismo. A própria pauta da economia solidária também se relaciona com o turismo. Quem não gosta de chegar naquela casa do artesanato, no Porto da Barra, aquela casa lindíssima de frente para o mar, para adquirir um produto feito à mão. Com inclusão produtiva, porque não é só um produto que você está adquirindo. Você está adquirindo uma história, uma experiência. Isso tudo nós vamos apostar, inclusive realizando mais uma vez o Festival Nacional do Artesanato da Bahia. Dezenove estados já estão confirmados para expor seus produtos aqui. A Bahia tem se tornado referência no fomento ao artesanato. Na área do turismo também nós vamos impulsionar nessa área da economia criativa mais investimentos para qualificação profissional e inclusão produtiva, com fortalecimento de cooperativas e associações nessa área. Recentemente, estivemos com o governador no lançamento de mais três voos regionais para Guanambi, Barreiras e Lençóis. A gente vai buscar, em conjunto com a Secretaria do Turismo, trazer novos voos pro nosso estado. Eu estive agora em Teixeira de Freitas. É uma reivindicação da população do extremo sul a retomada das linhas diretas de voos entre Salvador e Teixeira de Freitas. Nós estamos muito dedicados a isso porque aproxima pessoas e mercadorias. Nós estamos agora, por exemplo, desenvolvendo Costa a Costa, como eu citei. E esse programa tem a ver com esporte, mas tem a ver com turismo. Lá em Alcobaça, uma multidão de turistas aproveitou os shows musicais, a Feira da Economia Solidária, as práticas esportivas, muitas crianças participando. Isso atrai turismo. Nós vamos agora para Porto Seguro, que é outro polo turístico da Bahia, que vai ganhar mais uma edição do Costa a Costa. Tem muita coisa para gente fazer nesta área do turismo e certamente nós vamos impulsionar. Sem falar na área de qualificação profissional. Você tem mão de obra qualificada para atuar nos aeroportos, na aviação, nos portos. Nós temos agora um calendário recheado de chegada de cruzeiros aqui. O Porto Sul, com o seu desenvolvimento em Ilhéus, também pode ser um polo importante nessa área turística. A gente está discutindo, conversando de maneira intersetorial para fortalecer o turismo. E a partir disso gerar mais oportunidades de renda para nossa população.
Como vereador em Salvador, o senhor defendeu a volta das torcidas mistas nos clássicos Ba-Vi. À frente da secretaria, pretende retomar essa discussão?
O Ba-Vi é o maior clássico da região Nordeste e um dos maiores do país. Aliás, um dos maiores do mundo, classificado internacionalmente. Ele integra a cultura do nosso povo. Meu pai me levava para ver o Vitória na Fonte Nova em torcida mista e eu me lembro desses Ba-Vis. Claro que é difícil voltar a esse tempo. Eu entendo o novo momento que a gente vive. Mas a violência não pode ser a marca do futebol. Infelizmente, a gente sabe que existem conflitos. Mas é necessário que a gente tome medidas. Eu acredito que uma sinergia entre forças de segurança, clubes, as próprias torcidas, o Ministério Público, e a nossa secretaria, por lidar com a pauta do esporte, também participando, podemos construir planejamentos, operações que inibam esses conflitos. E que a gente possa ter o retorno das duas torcidas porque, sem dúvida, o nosso clássico integra a nossa identidade. É muito mais do que futebol. Tem a ver com geração de renda, lazer, cultura, mas também com a possibilidade das famílias terem essa oportunidade de ver os dois maiores clubes do nosso estado nesses duelos. A paixão tem que ser no campo, mas fora dele a gente tem que preservar a paz. O futebol é instrumento de integração, não pode ser instrumento de separação. Por mais que a gente seja apaixonado por nossos clubes, isso não pode significar pretexto para a violência. Aqueles que usam o pretexto do futebol para prática da violência não são verdadeiros torcedores. Com certeza, a nossa secretaria, através da Sudesb e da nossa coordenação de esportes, vai atuar para que a gente possa, quem sabe, voltar a ter as duas torcidas num futuro próximo. Eu ainda sonho com isso.
Outro ponto que o senhor defende também é a redução da jornada de trabalho. Dá para trazer esse debate também para Bahia?
O avanço científico e tecnológico aumentou a produtividade. Como se explica que, em alguns setores da economia, a lucratividade aumentou e os trabalhadores, apesar da tecnologia, estão trabalhando mais, adoecendo mais e tendo renda menor. Essa equação não fecha. Nós precisamos fazer um diálogo de maneira firme sobre a questão da redução da jornada de trabalho. Outras experiências do mundo demonstram que a redução da jornada aumenta a produtividade, pois diminui o absenteísmo, reduz o número de afastamentos por doença, inclusive mental, que tem sido uma verdadeira epidemia. Depressão, síndrome do pânico, síndrome de Burnout, em razão da sobrecarga e do tempo excessivo dedicado ao trabalho. Inclusive agora com as telas, com o whatsApp, com essas ferramentas, a gente acaba trabalhando muito mais. Praticamente não há separação entre tempo livre e o dedicado ao trabalho. É necessário que, enquanto humanidade, nós pensemos em caminhos para reduzir a jornada e termos mais tempo para cuidar da nossa família, da nossa saúde, praticar um esporte, ter um lazer e ter o ócio criativo. Ninguém nasce só para trabalhar. A gente quer que todas as pessoas tenham oportunidades de trabalho. Mas o trabalho é parte de nossa vida. Temos outra parte, que precisa ser assegurada e que também é direito constitucional. Isso tudo, com essa jornada estafante, principalmente nas categorias que ainda tem a escalar seis por um, em que você trabalha seis dias e só folga um, muitas vezes não é nem no domingo e você não tem acesso nem ao seu filho, que durante a semana está na escola. Não convive com a família. Isso é ruim para sociedade, para humanidade. Temos que repensar, sim, essa situação. Esse projeto que tramita no Congresso Nacional tem o grande mérito de reabrir essa discussão, que é antiga, mas que ganha uma nova roupagem. A gente precisa discutir: a tecnologia aumentou a produção. Quem vai se beneficiar dessa tecnologia? Apenas os acionistas da empresa? Entendo que isso é injusto. Precisamos fazer com que a classe trabalhadora também se beneficie dos avanços científicos e tecnológicos. Só para dar um exemplo. Você sabe que sou bancário da Caixa. No setor financeiro, um banco hoje consegue produzir seis, sete vezes mais do que produzia na década de 1980. Porque os trabalhadores estão trabalhando e adoecendo mais? Não se explica. É um setor, por exemplo, que caberia uma redução de jornada. Para gente assegurar a possibilidade de uma inclusão através do tempo livre para dedicação à família, ao esporte, ao lazer, ao turismo. Isso impulsionaria a própria economia, porque teria outras possibilidades de desenvolvimento econômico. Essa é uma discussão que nossa secretaria com certeza vai continuar a fazer.
Raio-X
Augusto Vasconcelos é advogado, professor universitário e mestre em Políticas Sociais e Cidadania (Ucsal), com especialização em Direito do Estado (Ufba). Vereador licenciado de Salvador, foi Ouvidor-Geral e presidiu a Comissão do Trabalho, Emprego e Renda da Câmara Municipal. Milita nos movimentos sociais desde os 16 anos, com passagens pela UNE, Conselho Nacional de Juventude e União da Juventude Socialista. Presidente licenciado do Sindicato dos Bancários da Bahia, é empregado de carreira da Caixa Econômica Federal há 20 anos. Desde janeiro, é secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia.
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