ENTREVISTA
“PSDB é patrimônio político do Brasil”, diz presidente do partido
Marconi Perillo, presidente nacional do partido, concedeu entrevista exclusiva ao Portal A TARDE
Por Eduardo Dias e Lula Bonfim
Considerado por seus filiados como patrimônio político do Brasil, o PSDB já teve seus tempos de glória na política brasileira, quando comandou o Palácio do Planalto de 1995 a 2003, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, responsável por implementar uma grande mudança à época no país, que foi a implantação do Plano Real. Hoje, mais tímido e tentando se reerguer, o partido é comandado nacionalmente pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, que tenta resgatar os tempos áureos da legenda e seguir crescendo cada vez mais.
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Perillo destacou os feitos do partido ao longo da história, como as grandes disputas presidenciais, sucessos no comando de governos estaduais e sua perspectiva de futuro para o partido, além da ampliação de frentes municipais nas eleições deste ano.
Perillo tem viajado por todas as capitais brasileiras em busca do fortalecimento do PSDB. Ele já passou pelo Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Santa Catariana e Tocantins. Nesta sexta-feria, 15, desembarca em Salvador, onde se encontra com lideranças locais para definir estratégias para as eleições de 2024, estimular candidaturas próprias e se aproximar ainda mais das realidades regionais.
Confira:
O PSDB já figurou como um dos principais partidos políticos do Brasil tempos atrás, protagonizando grandes disputas com o PT, mas de algumas eleições para cá não tem tido bons resultados nas urnas. Você assume a presidência do partido em 2023, de onde partir para a sigla voltar aos bons tempos na política brasileira?
“Parto do princípio de que o PSDB é um patrimônio político do Brasil. O PSDB foi responsável pela grande mudança que ocorreu no Brasil nos últimos 50 anos, com a implantação do Plano Real, com as privatizações que, dentre outras coisas, colocaram o telefone nas mãos de todos os brasileiros, a implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limitou a gastança e foi um divisor de águas em relação à responsabilidade nos gastos públicos no país. Também foi o partido que criou os genéricos, os medicamentos contra o HIV, o Programa Saúde da Família, o FUNDEF, e criou a Lei Kandir, que garantiu o sucesso do agronegócio”.
“O PSDB é um partido com uma história e um legado inconfundíveis. Para a eleição municipal, já estamos, por meio de uma comissão de prefeitos e ex-prefeitos, elaborando um projeto, especialmente tratando das questões que envolvem as cidades: capitais, grandes, médias e pequenas. Também já começamos a trabalhar no lançamento de candidaturas nas cidades mais importantes, assim como em todas as outras, médias e pequenas. Estou viajando por todo o país, buscando atrair novas lideranças para o partido, com um projeto bastante claro de que teremos um projeto e uma candidatura própria à Presidência da República. Um dos motivos que nos fizeram perder espaço na agenda nacional foi a polarização, que foi quebrada em 2018, à medida que sempre polarizamos com o PT, numa oposição responsável, quebrada pelo bolsonarismo, e depois mantida em 2022, mas sobretudo pela falta de uma candidatura competitiva nossa”.
O PSDB errou muito ao não ter candidato pela primeira vez na história, desde a redemocratização do país, para as eleições de 2022. Portanto, o partido terá, agora, candidatos competitivos em prefeituras importantes, terá candidatos competitivos aos governos estaduais, ao Senado, à Câmara e à Presidência da República.
Recentemente, intrigas e trocas de farpas entre correligionários, como João Doria, Eduardo Leite, marcaram o noticiário do partido nacionalmente. Como está a estrutura tucana atualmente pensando nas eleições municipais e, claro, com as gerais no horizonte?
“O advento das prévias, que é algo extremamente democrático, que ocorre tradicionalmente em países como os Estados Unidos, poderia ter sido uma lição de democracia, um exemplo de democracia interna para o país. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu, nós tivemos reveses bastante duros por conta das prévias, isso dividiu bastante o partido, nós estamos aqui cuidando das feridas e de cicatrizar os problemas que ficaram. Nós aprendemos muito com essa lição e o que estamos fazendo hoje é buscar lideranças novas, valorizar lideranças tradicionais, lideranças históricas e, ao mesmo tempo, trabalhar ideias, projetos”.
“Vamos fazer um seminário nacional em breve com o Instituto Teotônio Vilela, nosso órgão de formação política, nós vamos aprofundar ainda mais o projeto realizado pelo Eduardo Leite como presidente do partido, nos Diálogos Tucanos. Então, a partir desse seminário, nós vamos apresentar ao país um conjunto de ideias, uma carta ao país, que vai nortear todos nós tucanos daqui para frente”.
A Bahia conta com um deputado federal tucano e outros três estaduais. Como tem sido a relação de diálogo do diretório nacional com estes parlamentares, no intuito de ampliação de bancadas na Bahia?
“A relação com o líder Adolfo Viana tem sido excepcional, e ele é um quadro muito importante. Falo com ele praticamente todos os dias, tomando decisões não só em relação à Bahia, mas também aos outros estados. É um líder bastante atuante, inteligente, firme e habilidoso. Tenho aprendido muito com a relação que temos, e tenho certeza de que, pela liderança dele e de outros companheiros históricos na Bahia, e também com o apoio dos nossos três deputados estaduais, vamos avançar nessas eleições municipais em cidades importantes, e também na capital, com chapas de vereadores, prefeitos e vices. Vamos chegar às eleições de 2026 com bastante musculatura para elegermos mais deputados, e inclusive para participarmos ativamente de chapas majoritárias, da composição de uma chapa majoritária”.
O PSDB está federado com o Cidadania. É algo novo no pensamento do eleitor. Qual a perspectiva de crescimento da sigla estando entrelaçada com outra e o que o senhor pensa sobre as federações partidárias para o futuro?
“Nossa relação com a Cidadania é muito boa, convergente e sinérgica. Temos conversado permanentemente e acredito que nossa federação é muito bem-sucedida. Ela deu certo e trouxe resultados. Afinal, elegemos 18 deputados em nossa bancada, na nossa federação, aliás. Acredito que, à medida que avançamos em um bom diálogo, é possível até mesmo que, lá na frente, haja uma fusão. Diria que os poucos conflitos que poderemos ter nessas eleições serão superados com diálogo. Acho que essa iniciativa da federação é algo novo, mas bastante interessante, sobretudo para os partidos não ficarem isolados. Penso que o PSDB e a Cidadania ganharam com essa aliança, e vamos continuar buscando avanços daqui para frente”.
No passado, o senhor teve diversos embates políticos com os petistas em Goiás. Agora, tanto o PSDB quanto o PT tendo o atual governador como adversário, há alguma possibilidade de aliança entre petistas e tucanos para tentar derrotar o candidato de Caiado em 2026?
“O PSDB, não só em Goiás, mas no Brasil, sempre foi antagonista ao PT e vai continuar sendo porque nós temos conceitos, princípios, valores, ideais e programas que são diferentes daquilo que o PT defende e representa. Claro que o PT tem valor, como outros partidos também têm, mas o PSDB é diferente e vai continuar fazendo oposição tanto em Goiás quanto no Brasil”.
Os dados da economia brasileira terminaram em 2023 melhores do que o que estavam previstos por analistas. Por outro lado, há críticas ao posicionamento do governo federal acerca do conflito na Faixa de Gaza. Qual é a avaliação que você faz hoje da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
“O governo federal tem cometido equívocos graves em sua política externa. O mesmo Brasil que não condena a destruição da Ucrânia pela Rússia, que não se manifesta pela democracia quando mais um líder opositor ao regime russo morre em circunstâncias misteriosas e dá declarações controversas em relação à guerra entre Israel e Palestina. Na mesma linha, o governo brasileiro segue calado contra as violações aos direitos humanos aqui mesmo na América do Sul, na vizinha Venezuela. É imprescindível que o governo promova uma abordagem mais ética e alinhada com os princípios democráticos internacionais. Essa postura é essencial para contribuir com a paz e com os direitos humanos. Lembrando que alinhamentos equivocados tendem a causar graves prejuízos à nossa já frágil economia”.
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