Tasso diz que PSDB tem de ser mais nacional
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, admitiu ontem à noite que os tucanos não souberam defender a privatização durante a campanha presidencial, e que nas discussões que o partido organizará, em 2007, terá de ficar mais nacional. Fez também uma forte crítica ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter mandado cortar o fornecimento de gás a siderúrgicas do Ceará, para cumprir acordos feitos com a Bolívia.
"Me dói na pele, disse o líder tucano, ver o Lula levar pancada do Evo Morales e ela ser redistribuída para nós, cearenses. Tasso chamou Lula de omisso e observou que, em questões de Estado, de soberania, você tem que se impor e ele tratou a coisa como brincadeira de companheiro.
Numa avaliação dos erros cometidos pelos tucanos na campanha presidencial, Tasso afirmou que, durante a campanha eleitoral, o PSDB não soube defender a privatização, diante de um PT que levou adiante as privatizações do Banco do Estado do Ceará, do de Santa Catarina, e a maior de todas as privatizações, que são as PPPs. Sobre a rediscussão do partido, no ano que vem, disse que serão postos na mesa alguns temas como o que somos hoje?, ou que tipo de capitalismo e papel do Estado queremos? O tucano disse também estar convencido, hoje, de que o presidente Lula sabia de tudo durante as denúncias de corrupção de 2005.
Para o senador, a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas regiões pobres do interior, deveu-se a um conjunto de fatores - o grande aumento do Bolsa-Família, a expansão do crédito consignado, e o programa do Pronaf que criou um sistema de empréstimo rural pouco divulgado.
Por esse sistema, um microprodutor levava um empréstimo de R$ 1.000, por exemplo, para pagar só daqui a dois anos, e com abatimento de 30%. Essas pequenas cidades viveram um clima econômico de euforia, afirmou, e pagaram com o voto.
Tasso afirmou ainda, no Roda Viva, que o País atravessa uma grande crise de valores, criada com ajuda do governo do PT. Houve um momento em que denúncias de corrupção foram se banalizando e a saída do governo foi colocar o fato como coisa intrínseca da vida nacional. Isso foi absorvido pela sociedade e deu-se então uma quebra total de valores, comentou. Tal fenômeno até estimulou outros hábitos das pessoas, segundo o senador, de desobedecer leis do trânsito, levar pequenas vantagens - e assim se cria um momento perigosíssimo na vida nacional. Desse cenário fazem parte coisas como os aumentos propostos no Judiciário ou a queda da cláusula de barreiras no Supremo Tribunal Federal.
Tasso avisou ainda, na entrevista, que em breve começará a aparecer um sério problema entre os nordestinos: eles terão de pagar os empréstimos consignados. As parcelas serão retiradas automaticamente dos seus benefícios, como o Bolsa-Família, e a renda de todos eles vai se reduzir. Isso vai levar o Nordeste a uma grande crise, advertiu.