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Uma vida à sombra de ACM

Publicado terça-feira, 11 de março de 2008 às 23:43 h | Autor: Flávio Oliveira, do A TARDE

O engenheiro César de Araújo Matta Pires sempre viveu à sombra do sogro, o falecido senador Antonio Carlos Magalhães. Homem de personalidade forte, Matta Pires é conhecido nos círculos do poder como uma figura que, embora afável no trato pessoal, é temperamental e vingativo. Impôs à OAS um modelo de gestão caracterizado pela agressividade, com a utilização de forte esquema de lobby para pressionar políticos do Executivo e do Legislativo a defenderem os seus interesses.

Ainda fazia parte da estratégia, a colaboração com campanhas eleitorais de todos os campos ideológicos. Montou a construtora OAS com dois sócios – Durval Olivieri entrou com o O, ele, com o A, de Araújo, e Carlos Suarez com o S. A empreiteira cresceu e ganhou projeção nacional, mudou a sede para S. Paulo e hoje ocupa a quinta posição do ranking da revista Exame das maiores construtoras do País.

Ao longo dos anos, brigou com colaboradores, Olivieri e Suarez montaram empresas próprias. Carlos Larangeira e Nicolau Martins – que entraram na sociedade em substituição aos primeiros – também. Outro que saiu da OAS para ter empreiteira de rápido crescimento foi Zuleido Veras, dono da Gautama, que a Operação Navalha, da Polícia Federal, mostrou usar esquema próprio de cooptação de obras públicas. Hoje, Pires controla a maioria do capital da OAS. Tem um sócio, Adelmário Pinheiro.

Convergentes – O temperamento, o rompimento com antigos aliados que viraram concorrentes e a conquista de espaço destacado fora da Bahia não são os únicos pontos convergentes das biografias de Pires e Antonio Carlos Magalhães.

Ao tempo em que ACM conquistava poder, Pires ganhava serviços. Políticos e empresários opositores deram novo significado à sigla da empreiteira: “Obras Arranjadas pelo Sogro”, ou, “Obrigado Amigo Sogrão”. Paralelamente à ascensão de ACM no cenário político nacional, o nome da OAS aparecia sob suspeita de irregularidades em casos como a CPI dos Anões do Orçamento e a obra de reforma do Aeroporto de Salvador.

ACM e Pires apareceram juntos em denúncia da ex-primeira-dama de São Paulo Nicéia Pitta, de que o senador telefonava para o marido cobrando pagamento de faturas da capital paulista para a OAS. À medida que cresciam, cada um em sua área, o conflito entre sogro e genro era mais freqüente. Um não aceitava interferências do outro.

Matta Pires queria mais comando nas empresas de comunicação, notadamente na TV Bahia e Correio da Bahia. O Estado ficou pequeno para os dois. Pires transferiu-se para São Paulo.

ACM proibiu que a OAS realizasse obras na Bahia e pressionou o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy para não pagar débitos à OAS. O conflito atingiu grau máximo há cerca de cinco anos, quando Pires e a mulher, Tereza, não compareceram ao casamento da sobrinha Carolina, filha de Luís Eduardo Magalhães. ACM só voltou a falar com a filha semanas antes de morrer. O período incluía as eleições de 2006, quando o PFL sentiu falta da colaboração da OAS e apontou a proximidade do sócio Pinheiro com a campanha petista.

César e Tereza acompanharam exemplarmente os funerais de ACM e ensaiaram uma paz. Até ocorrer um alinhamento natural entre dois outros herdeiros do senador, Antonio Carlos Júnior e Luís Eduardo Magalhães Filho – que representa os herdeiros do falecido deputado federal –, o que diminuiu seu comando nas empresas.

O pedido de invasão e levantamento dos bens móveis na residência da viúva seria, segundo familiares, ação de intimidação para dificultar a resolução que se apresenta para o espólio de ACM. Para estes, Matta Pires, no seu retorno, mantém o mesmo estilo que gerou o exílio.

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