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Empréstimo de obras de Frans Krajcberg causa surpresa e revolta

Prefeita de Nova Viçosa diz que não foi formalmente avisada sobre retirada de acervo do artista polonês

Publicado domingo, 24 de abril de 2022 às 19:47 h | Atualizado em 25/04/2022, 15:18 | Autor: Bianca Carneiro
Artista plástico polonês radicado na Bahia, Krajcberg elegeu Nova Viçosa para abrigar sua obra
Artista plástico polonês radicado na Bahia, Krajcberg elegeu Nova Viçosa para abrigar sua obra -

Moradores de Nova Viçosa e admiradores da obra de Frans Krajcberg foram pegos de surpresa com a retirada repentina de peças do acervo do artista plástico polonês naturalizado brasileiro, que residiu no município. A coleção, que está armazenada no Sítio Natura, antiga casa e ateliê do artista na cidade, teve itens levados pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) na manhã deste domingo, 24.

De acordo com um decreto publicado na edição do sábado, 23, do Diário Oficial do Estado da Bahia, o governo estadual autorizou o empréstimo de 106 obras de Frans Krajcberg para compor a exposição “Frans Krajcberg: por uma arquitetura da natureza”, que será realizada no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), localizado no Jardim Europa, na cidade de São Paulo. Conforme o documento, a instalação vai ocorrer de 7 de maio a 7 de agosto de 2022. 

As obras de Krajcberg pertencem ao governo da Bahia desde 2009, quando o artista doou seu acervo de 48 mil itens, entre eles, esculturas, gravuras, fotografias e pinturas, com o objetivo de preservá-los após a sua morte. Krajcberg, que faleceu em 2017, ficou conhecido por utilizar matéria-prima natural para seus trabalhos, a exemplo de troncos e raízes calcinados. Escultor, fotógrafo, gravador e pintor internacionalmente reconhecido, ele também era famoso por seu ativismo ambiental.

Informações preliminares apontam que, por volta das 6h, caminhões saíram do sítio carregados com o material. Em um dos vídeos divulgados pela população, um morador afirma que as obras tinham como destino o estado de São Paulo. No entanto, ele diz que as peças foram levadas sem qualquer autorização legal ou seguro próprio. 

A vigência do empréstimo, que consta na decisão, vai de 22 de abril a 30 de agosto de 2022, e inclui “higienização, conservação e restauro das obras, quando necessário, montagem, exposição, desmontagem e transporte de retorno ao Museu do Recôncavo Wanderley Pinho (MRWP) situado em Caboto, Candeias”. A ordem foi assinada pelo diretor geral do Ipac, João Carlos Cruz de Oliveira.

Indignação

A prefeita de Nova Viçosa, Luciana Rodrigues (PP), protestou contra a retirada das obras, em vídeo publicado no seu perfil do Instagram, neste domingo. Ela manifestou indignação e disse que, embora tenha sido avisada da possibilidade anteriormente, decidiu acionar o setor jurídico da prefeitura para questionar a ação do governo do estado e o porquê do órgão não ter sido comunicado formalmente.

“Isso me deixou muito triste e preocupada porque no dia 17 de abril, eu tive uma reunião com João Carlos, presidente do Ipac, e ele realmente falou que tinha intenção em tirar as obras do museu e levar para um museu em São Paulo. Eu deixei bem claro que era contra, que a minha posição de prefeita era contra essa atitude. Porque não fazia investimentos no museu?”, questionou ela.

A prefeita defende a criação de um museu em Nova Viçosa, a fim de fomentar o turismo cultural. Ela afirmou ainda que já propôs ao Estado uma parceria com a prefeitura para a gestão do equipamento cultural. 

“Sabe como Krajcberg é conhecido na França? Como o homem que morava na árvore, na casa da árvore. Você sabia que a casa da árvore está comprometida?”, diz. “Krajcberg escolheu Nova Viçosa para morar, então estão querendo tirar a nossa história”, reclama. 

Nos comentários da publicação, muitos moradores manifestaram apoio a fala da prefeita e pediram o retorno das obras à cidade. Um dos mais preocupados com a retirada do material é o artista plástico Henrique Falcão, que teme que o acervo não seja devolvido.

“Eu acho um absurdo. Primeiro a falta de respeito com um homem dono de um trabalho como o dele. É um crime, uma vergonha, para classe artística, então…Ele é o maior representante aqui da região. Retirar isso do seu berço de cultura, um lugar que ele quis que deixasse, é algo lamentável. É inaceitável”, declara. 

A equipe de reportagem do Portal A TARDE tentou contato com o Ipac para saber sobre a autorização da retirada das obras junto a Prefeitura de Nova Viçosa, e confirmar o retorno do acervo para o município, mas não obteve retorno até a publicação da matéria. 

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