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Entregador relata racismo e agressão em lava-jato de Lauro de Freitas

Jovem contou que sofreu ataque racista e recebeu soco de funcionário do estabelecimento enquanto trabalhava

Publicado sábado, 29 de abril de 2023 às 17:38 h | Atualizado em 30/04/2023, 21:05 | Autor: Da Redação
Wesley contou que sofreu agressão enquanto trabalhava na sexta
Wesley contou que sofreu agressão enquanto trabalhava na sexta -

O entregador Wesley Israel, de 19 anos, que trabalha em uma loja de conveniência, denunciou ter sido vítima de racismo na última sexta-feira, 27, em um lava-jato próximo à Praia de Buraquinho, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ao Portal A TARDE, Wesley contou que, além do ataque racista, ainda foi agredido fisicamente com um soco desferido por um dos profissionais do estabelecimento, identificado como Ricardo Barraza.

Segundo Wesley, as agressões começaram quando ele precisou ir ao galpão recolher os galões de água mineral para fazer as entregas. O depósito fica no mesmo terreno do lava-jato. Inicialmente, o entregador relatou que Ricardo teria deixado ele preso no portão de forma proposital. Ainda de acordo com ele, o comportamento violento do acusado vinha se repetindo desde quando começou a trabalhar no local há três meses.

“Não é de agora que ele vinha tendo esse tipo de comportamento comigo. Dessa vez, eu fui para o galpão da loja que é compartilhado com eles. Estava no meu ambiente de trabalho e quando fui entrar com a moto ele fechou o portão e eu fiquei prensado. Aí eu perguntei porque ele fez isso. Eu falei: ‘Como você faz isso? É uma sacanagem’. Aí ele abriu os braços como se não tivesse nada com aquilo. Aí eu me expressei naquele momento, em nenhum  momento xinguei ele, mas a situação. Aí falei: ‘Que desgraça. Como você faz isso?’. Eu saí do local, mas depois precisei retornar porque tinha outras entregas para fazer e fui buscar os galões de água. Nesse momento, ele começou a me agredir verbalmente. Começou a falar quem eu era para falar com ele e me chamou de preto, de neguinho. Que eu não era ninguém perto dele. Começou a me agredir com diversas palavras e eu fiquei constrangido. Não entendia o porquê. Falou até que se eu queria que ele me matasse ali”, desabafou .

Em entrevista ao Portal A TARDE, uma fonte, que preferiu não ser identificada, contou que recebeu uma ligação de Wesley e ouviu uma parte dos xingamentos e as ameaças sofridas por ele durante a discussão com Ricardo.

“Ele me ligou na hora e tava muita gritaria. Eu comecei a ficar nervosa. Ouvi o cara falando: ‘Sai daqui seu neguinho, não sei o que você está fazendo aqui’. Ele disse que era lutador de MMA. E Wesley falando para ele que só queria trabalhar. A ligação desligou e eu comecei a ficar nervosa. Ele me ligou uma segunda vez e eu não sei se foi antes ou depois da agressão, mas eu ouvi o homem ameaçando Wesley novamente”, contou.

Surpreendido por soco

Em meio aos ataques, Wesley revelou que só queria trabalhar e não queria confusão no ambiente de trabalho. No entanto, Ricardo teria continuado com os xingamentos e aproveitado para agredi-lo quando estava de costas pegando os produtos para fazer as entregas.

“Ele foi tão covarde que esperou eu virar para pegar a água para me agredir. Ele me deu um soco muito forte que na hora eu fiquei tonto. Ele continuou vindo para cima de mim e perguntou se eu queria mais. Ainda me mandou sair de lá depois de ter me agredido”, acrescentou.

Após as agressões, Wesley afirmou que ficou assustado ao ver seu rosto todo ensanguentado, mas buscou ajuda com os proprietários da loja onde trabalha. Ele conta que foi ao hospital, além de denunciar o acusado na 23ª Delegacia Territorial de Lauro de Freitas. Por conta dos ferimentos, o profissional precisou levar quatro pontos na região do supercílio direito.

“Eu fui em busca dos meus direitos, fui no hospital. O soco que ele me deu atingiu meu supercílio e eu precisei levar quatro pontos. Ainda estou sentindo muita dor de cabeça desde ontem. Estou tomando três tipos de medicamentos. Além disso, estou completamente arrasado pois nunca passei por nada parecido. Eu saí com o rosto todo ensanguentado. Fui ao Instituto Médico Legal, na delegacia registrar o boletim de ocorrência. Estou de repouso, mas já conversei com meu advogado para processá-lo e irmos na delegacia na terça-feira. Há muito tempo eu vinha engolindo essas atitudes, mas dessa vez foi a gota d’água. Isso não pode ficar impune e eu vou correr atrás dos meus direitos. É um momento muito difícil”, disse. 

Além da busca por medidas judiciais em relação ao caso, Wesley declarou que planeja um ato em repúdio ao racismo e às agressões sofridas no lava-jato. A ação está prevista para acontecer na próxima terça-feira, 2, na região do estabelecimento. “Eu espero que a Justiça seja feita e ele pague pelo que fez comigo. Foi um ataque de ódio pela minha cor. Não era questão de briga, era questão de ódio pela minha cor, minha raça. Pretendo fazer cartazes de combate ao racismo porque isso é inaceitável”, frisou.

Procurada pelo Portal A TARDE, a Polícia Civil informou que há dois registros referentes ao caso na 23ª DT de Lauro de Freitas. No primeiro, um homem relatou ter sido agredido com um soco pelo dono de um lava-jato. Já no segundo, o comunicante informa que apenas reagiu à ação do primeiro e que está sendo ameaçado por ele. A unidade vai apurar as denúncias.

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