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Escola quilombola é espaço de luta, resistência e memória na Bahia
Escola Rotary de Quingoma oferece ensino integral a cerca de 100 crianças de comunidade em Lauro de Freitas
Por Rafaela Souza
"Dar de si antes de pensar em si". Esse é o lema defendido e colocado em prática pelo Rotary Club Lauro de Freitas (RCLF), Organização não Governamental localizada na Região Metropolitana de Salvador. Uma das principais realizações da entidade é a Escola Rotary de Quingoma que oferece ensino integral a cerca de 100 crianças da comunidade quilombola. No último dia 1º, o administrador Antonio Rafful assumiu a presidência do Conselho Diretor.
A unidade de ensino infantil reúne turmas do grupo dois até o cinco. Após uma obra de expansão finalizada neste ano, a escola passou a contar com seis salas de aula e dois dormitórios. Criada entre os anos de 1997 e 1998, com o nome de "Oficina Pedagógica", a escola funcionava em um galpão de madeira pertencente à Igreja Católica. A edificação do imóvel atual aconteceu no dia 30 de setembro de 2000.
Em entrevista ao Portal A TARDE, o presidente do Rotary Club Lauro de Freitas, Antonio Rafful, explica que a escola ainda conta com o suporte do Núcleo de Senhoras do Rotary (NSR) e da Prefeitura de Lauro de Freitas. Rafful explica que o Clube participa de todas as campanhas, manutenção das instalações físicas, ampliação predial e apoio na administração.
O NSR atua diretamente no desenvolvimento dos projetos pedagógicos, fornecimento de materiais e fardamentos necessários, além da realização de ações para arrecadação de fundos junto à direção da escola, como a Feira do Livro e a Feira da Pechincha. Já a parceria municipal, que disponibiliza os funcionários, as refeições e os materiais para os alunos, foi oficializada por meio de um convênio firmado com a organização.
“O Rotary é uma instituição internacional com mais de 100 anos, tem 1.400.000 associados no mundo e 46 mil clubes espalhados nos continentes. Nós trabalhamos, ajudamos crianças, ajudamos os idosos, fornecemos cadeiras de rodas. Isso tudo é um trabalho que fazemos em conjunto com o Núcleo de Senhoras, que trabalha para arrecadar fundos e nós usamos esses fundos para contribuir com a comunidade. É um trabalho gratificante, que a gente faz há anos e contamos com a colaboração de municípios, entidades privadas, empresas, prefeitura e a comunidade de um modo geral”, destaca.
Ensino
A diretora da Escola Rotary de Quingoma, Suely Sena, fala sobre a importância da unidade para a comunidade quilombola. Ela ressalta que a instituição de ensino contribui para o aprendizado e cuidado das crianças por meio do ensino integral e serviços odontológicos e pediátricos. Funcionária da Prefeitura de Lauro de Freitas, Suely está à frente da direção desde 2019.
"A gente faz um trabalho de educação integral, onde as aulas iniciam às 8h e as crianças voltam para casa às 17h. Aqui elas tem lanche, almoço, são cinco refeições, tem os dormitórios. Os nossos alunos são cuidados. Nós temos atendimento educacional e o atendimento de saúde com pediatra e dentista. E fizemos essa parceria para que os alunos não tenham dificuldades porque eles ficam o dia todo”
Tendo em vista a inclusão dos alunos, a diretora pontua que a equipe também propicia um ambiente escolar acessível para as crianças. Além disso, a escola desenvolve atividades para promover o sentimento de pertencimento e conhecimento da própria história, já que a instituição de ensino está localizada na comunidade quilombola do Quingoma. A localidade foi certificada como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares (FCP), entidade vinculada ao Ministério da Cultura.
“Temos profissionais para contemplar as crianças com necessidades especiais porque é importante possibilitar o acesso dessas crianças na escola regular. A gente também faz um trabalho para que essas crianças venham conhecer e valorizar o local onde eles vivem. A gente faz tudo para que os alunos venham ter uma educação de qualidade, para que eles avancem”, revela.
Propósito
Criado há 30 anos, o Rotary Club Lauro de Freitas integra a organização internacional de serviços humanitários, Rotary Club, fundada em 1905 pelo advogado Paul Harris, em Chicago (EUA). Ainda segundo Rafful, os Rotary Clubs são compostos por profissionais e líderes empresariais locais, conhecidos como “rotarianos”, que se unem para realizar projetos de serviço comunitário e ajudar a melhorar a qualidade de vida em suas comunidades e ao redor do mundo.
“O Rotary Club Lauro de Freitas tem 30 anos de fundação, ele foi criado no dia 13 de novembro de 2003. E durante esse período já foram realizadas várias ações que dão sustentabilidade ao clube e a comunidade. Nós temos uma ação muito forte que é o Panetone Solidário, contratamos a fabricação de panetones e vamos para a rua vender. E com a arrecadação dos panetones, a gente distribui para a comunidade através de cadeiras de rodas e vários benefícios”
Rafful ainda diz que a diretoria e a presidência da entidade são renovadas a cada ano. O período de mudança acontece, entre 1º de julho até 30 junho, após um processo interno com os membros através de uma comissão.
Há 25 anos como membro da organização, o rotariano Manuel Alegria, da Comissão Novas Gerações, revela que a ideia da direção é oferecer o que cada um faz de melhor em prol da comunidade. Por ter conhecimento e aptidão em atividades criativas e manuais, como a marcenaria, ele desenvolve projetos para a mobília da escola e do clube.
“São coisas que aparecem e a gente percebe que precisam ser feitas. E como eu tenho essa facilidade de mexer com marcenaria, eu consigo vir fazer determinados móveis que a gente recebe em doações que estão com defeito, fazendo o reparo, ou até copio e faço inteiro. Refaço ele para ser utilizado aqui”, afirma.
O rotariano e secretário, Otávio Gaino, também fala sobre a importância da atuação dos membros tendo em vista os avanços e organização das ações desenvolvidas pelo Rotary Club Lauro de Freitas.
“Nosso clube é composto por 30 companheiros e existe uma organização. Tem o presidente, o secretário, o tesoureiro, entre outros. E eu sou secretário. Cada companheiro procura se engajar em uma das diretorias para dar o que ele pode fazer, seja na área de eventos, da imagem pública, da documentação. A ideia do Rotary Club é exatamente essa, ter pessoas com várias atuações na sociedade e cada um pode contribuir de forma diferente para fornecer a sociedade uma qualidade de vida”, diz.
O presidente também ressalta o trabalho desenvolvido pela organização, principalmente na manutenção da escola. A partir disso, Rafful cita a expansão do espaço com a construção de três novas salas. Atualmente, a unidade conta com seis salas, dois dormitórios, cozinha, banheiros e refeitório.
“Eu queria fazer um agradecimento que durante o ano passado, na gestão passada do presidente Valdemar Leal, ele se empenhou em fazer aqui três salas de aula juntamente com Roberto Margalho, que é nosso diretor de patrimônio, eles fizeram um trabalho maravilhoso e construíram essa nova ala e, ao invés de ter três salas, tivemos seis salas e custou R$ 150 mil de arrecadação, de trabalho. Então, esses dois companheiros merecem ser homenageados pelo trabalho que fizeram ano passado”, frisa.
Ações
Responsável por angariar fundos por meio de eventos e doações, o Núcleo de Senhoras do Rotary (NSR) exerce um papel relevante para a manutenção das iniciativas promovidas pelo Rotary Club Lauro de Freitas. Ao Portal A TARDE, uma das integrantes do NSR, Mariana Mateus, pontua que o núcleo é formado pelas esposas dos rotarianos.
"O Núcleo de Senhoras tem 28 anos e nós trabalhamos para arrecadar fundos para as ações do Rotary. Então, a nossa missão é ajudar o Rotary a atingir os objetivos. Há um reconhecimento muito grande da comunidade com o trabalho que é desenvolvido aqui"
Entre as ações desenvolvidas pelo núcleo estão: Panetone Solidário, Feira de Livros, Feira da Pechincha e o Brechó. Mariana reforça a participação da comunidade e a importância do apoio em prol do cuidado com o próximo.
“Quando a gente tem esse apoio, isso beneficia quem compra e o nosso trabalho porque é através das arrecadações que a gente realiza as ações. Temos quatro ações: a Feira de Livros, o Brechó, a Feira da Pechincha e o Panetone Solidário. Com a arrecadação da venda dos panetones, a gente tem a meta de comprar 12 cadeiras de rodas no ano para distribuir para as pessoas que são carentes de recursos e tem dificuldades motoras”, ressalta.
Alta demanda
Sobre a atuação na escola, Mariana conta que as ações dão suporte para a manutenção da qualidade da unidade de ensino. Ela ainda frisa que, em decorrência da alta procura, as famílias interessadas devem ficar atentas ao período de inscrições, que devem ocorrer no mês de dezembro de forma virtual.
“Há uma disputa muito grande, no sentido de conseguirem vaga, tanto que a nossa preocupação é abrir um precedente para priorizarmos as crianças e famílias da localidade quilombola, crianças nativas, porque com a especulação imobiliária já tem muita gente de fora que vê a escola como uma instituição de qualidade”, enfatiza.
Assim como Mariana, a vice-diretora da escola e rotariana, Mayra Virginia Sest, corrobora a “disputa” pelas vagas na instituição entre as famílias da comunidade. Ela ainda antecipa que uma lista de espera precisou ser feita para contemplar as crianças que ficaram de fora deste ano letivo.
"Nós ficamos muito orgulhosos porque a escola já enfrentou dificuldades, já passou por diversas fases e hoje nós estamos em uma fase maravilhosa. Nós temos muito mais procura do que vagas, já temos uma lista de espera. Então, quando começam as inscrições no fim do ano, a gente avisa para as mães que elas durmam em frente ao computador ou do celular para que elas consigam garantir a vaga”
Impactos na pandemia
Mariana ainda relembra os desafios enfrentados durante o isolamento e suspensão das atividades presenciais na pandemia de Covid-19. Ela conta que o momento agravou a condição e rotina de diversas famílias da comunidade escolar.
“Teve distribuição de cestas básicas na pandemia e foi um movimento muito interessante porque as famílias ficaram desempregadas, não tinham alimento. E nós distribuímos para as famílias”, diz.
Já em relação ao aspecto educacional, a vice-diretora da escola, Mayra Virginia Sest, conta que, apesar das dificuldades enfrentadas na pandemia, a escola deu continuidade ao planejamento pedagógico através do envio de materiais e atividades, além de aulas gravadas pelos próprios professores.
“A pandemia foi difícil porque nós somos uma escola pequena e não temos tantos recursos, mas temos professoras maravilhosas que faziam vídeos com um celular para as crianças, com atividades. A escola nunca parou, mas foram anos difíceis. Ainda entregamos os materiais, recebíamos as atividades posteriormente. Os pais que não tinham celular iam à casa dos que tinha para não perder as atividades”, relata.
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