ENCALHE EM VERA CRUZ
Moradores denunciam prefeitura por negligência na remoção de baleia
População se queixa do forte odor provocado pela decomposição do animal e dos riscos à saúde
Por Rafaela Souza
Moradores denunciam a remoção inadequada de uma baleia jubarte na praia de Aratuba, localizada na Ilha de Vera Cruz, executada pela prefeitura do município. Isso porque o animal, que foi enterrado no dia 4 de setembro, voltou a ter uma parte exposta no local devido à maré alta desde o último sábado, 10.
A população se queixa do forte odor provocado pela decomposição da baleia e dos riscos que a situação pode causar à saúde. “O odor está insuportável. Alguns moradores estão saindo das suas casas porque não aguentam. Tem gente dizendo que o fedor está chegando na praça principal de Aratuba, que dá um pouco mais de 1 km do local em que o animal foi enterrado”, afirmou o empresário Gilson Nascimento, que tem casa de veraneio na região.
Segundo o empresário, a baleia encalhou no dia 29 de agosto, mas a remoção só foi realizada no dia 4 de setembro. “É um problema que estamos enfrentando há um bom tempo. Fiquei sabendo do encalhe através do grupo de mensagens dos moradores, que tinham acionado a prefeitura, mas nenhuma providência foi tomada. O pessoal do condomínio começou a se movimentar, buscou ajuda de vereador e conseguiu mobilizar a prefeitura, que foi até o local depois de uma semana para fazer a retirada do animal”.
O morador ainda relatou que a prefeitura não seguiu as orientações do Projeto Baleia Jubarte, que esteve no local no dia do encalhe. “O pessoal foi contra as recomendações do veterinário e enterraram em um local com pouca profundidade. Quando veio a maré alta, o animal foi exposto”, disse. Conforme imagens divulgadas pelos moradores, a prefeitura teria utilizado uma retroescavadeira para realizar o enterro da baleia.
O cabeleireiro Sandro Costa, que também mora na região, criticou a falta de atenção do poder municipal. “A prefeitura não responde e-mail, não atende telefone. É um descaso com os moradores. É muito perigoso a exposição da baleia em decomposição em uma área de banho, o risco de pegar alguma doença. Estamos próximos do verão, muita gente vai frequentar a praia”, pontuou.
Recomendações
De acordo com o médico veterinário do Projeto Baleia Jubarte, Gustavo Rodamilans, que realizou o monitoramento do encalhe, a responsabilidade pela remoção é da prefeitura da cidade onde o animal encalhou.
“O nosso trabalho é analisar, monitorar o animal e acionar os órgãos responsáveis para fazerem a retirada. Entrei em contato com a prefeitura para saber como eles iriam fazer, se o enterro seria em um aterro ou na praia. A informação que recebi é que seria feito na praia. Alertei que se fosse enterrar na praia tinha que ser acima da linha de maré. É necessário fazer um buraco bem fundo, ou seja, de uma forma que se a maré enchesse não escavasse”, explicou.
Apesar das recomendações, o veterinário contou que a prefeitura enviou uma máquina inapropriada para a ação no dia do encalhe. “Fiquei esperando com a equipe, mas a máquina que chegou no local não tinha o tamanho suficiente para retirar a baleia. O nosso papel é acompanhar o enterro do animal. A gente costuma orientar a prefeitura da melhor forma possível, mas quem vai decidir como vai ser são eles”.
Ainda segundo o especialista, além das orientações dadas à prefeitura, o veterinário ficou acompanhando o andamento da remoção da baleia, que só veio acontecer na semana seguinte.
“Não poderia ficar com mais três estagiários esperando essa outra máquina chegar. Orientei e falei pra entrar em contato comigo em caso de dúvidas. Isso demorou uma semana. E eu sempre entrando em contato para saber se tinham feito o enterro, pois muitas pessoas ligavam para o projeto para falar sobre o encalhe. Uma funcionária da prefeitura disse que a demora era porque não tinha a máquina, acrescentou.
Profundidade insuficiente
Para o veterinário, a baleia pode ter sido enterrada de forma inadequada, em uma profundidade que parece não ter sido suficiente. “Quando a maré chega, principalmente nesses dias de lua cheia, ela é grande e o animal pode ficar exposto. Alguns moradores da região entraram em contato comigo e eu expliquei a situação. A gente não pode fazer mais nada nesse sentido”.
Conforme as análises desenvolvidas pela equipe do Projeto Baleia Jubarte, a baleia era fêmea, tinha 12 metros e pesava em torno de 28 toneladas.
Prefeitura
Em nota enviada ao A Tarde, a Prefeitura de Vera Cruz informou que “o animal foi enterrado na faixa de areia, seguindo orientação dos funcionários do Projeto Baleia Jubarte. No entanto, a maré alta, forte neste período, aliada aos ventos, desenterrou o animal parcialmente”.
Ainda segundo o texto, o animal deve ser enterrado novamente “assim que houver possibilidade e as condições da maré permitirem”. Não foi apresentada nenhuma data específica para a realização da ação.
Alerta
O veterinário alertou sobre os riscos causados pelo contato dos moradores com a baleia em decomposição. “Esses animais quando morrem apresentam um odor muito fétido, que pode causar náusea e enjoo nas pessoas. É um animal muito grande e acaba concentrando o odor por conta da quantidade de matéria orgânica. Por isso, a recomendação é que não comam a carne da baleia e não toquem no animal”, completou.
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