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Moradores denunciam prefeitura por negligência na remoção de baleia

População se queixa do forte odor provocado pela decomposição do animal e dos riscos à saúde

Publicado quarta-feira, 14 de setembro de 2022 às 21:20 h | Autor: Rafaela Souza
Baleia foi enterrada na praia de Aratuba, na Ilha de Vera Cruz, mas teve parte exposta após maré alta
Baleia foi enterrada na praia de Aratuba, na Ilha de Vera Cruz, mas teve parte exposta após maré alta -

Moradores denunciam a remoção inadequada de uma baleia jubarte na praia de Aratuba, localizada na Ilha de Vera Cruz, executada pela prefeitura do município. Isso porque o animal, que foi enterrado no dia 4 de setembro, voltou a ter uma parte exposta no local devido à maré alta desde o último sábado, 10. 

A população se queixa do forte odor provocado pela decomposição da baleia e dos riscos que a situação pode causar à saúde. “O odor está insuportável. Alguns moradores estão saindo das suas casas porque não aguentam. Tem gente dizendo que o fedor está chegando na praça principal de Aratuba, que dá um pouco mais de 1 km do local em que o animal foi enterrado”, afirmou o empresário Gilson Nascimento, que tem casa de veraneio na região.

Segundo o empresário, a baleia encalhou no dia 29 de agosto, mas a remoção só foi realizada no dia 4 de setembro. “É um problema que estamos enfrentando há um bom tempo. Fiquei sabendo do encalhe através do grupo de mensagens dos moradores, que tinham acionado a prefeitura, mas nenhuma providência foi tomada. O pessoal do condomínio começou a se movimentar, buscou ajuda de vereador e conseguiu mobilizar a prefeitura, que foi até o local depois de uma semana para fazer a retirada do animal”.

O morador ainda relatou que a prefeitura não seguiu as orientações do Projeto Baleia Jubarte, que esteve no local no dia do encalhe. “O pessoal foi contra as recomendações do veterinário e enterraram em um local com pouca profundidade. Quando veio a maré alta, o animal foi exposto”, disse. Conforme imagens divulgadas pelos moradores, a prefeitura teria utilizado uma retroescavadeira para realizar o enterro da baleia.

 

  

O cabeleireiro Sandro Costa, que também mora na região, criticou a falta de atenção do poder municipal. “A prefeitura não responde e-mail, não atende telefone. É um descaso com os moradores. É muito perigoso a exposição da baleia em decomposição em uma área de banho, o risco de pegar alguma doença. Estamos próximos do verão, muita gente vai frequentar a praia”, pontuou.

Recomendações

De acordo com o médico veterinário do Projeto Baleia Jubarte, Gustavo Rodamilans, que realizou o monitoramento do encalhe, a responsabilidade pela remoção é da prefeitura da cidade onde o animal encalhou. 

“O nosso trabalho é analisar, monitorar o animal e acionar os órgãos responsáveis para fazerem a retirada. Entrei em contato com a prefeitura para saber como eles iriam fazer, se o enterro seria em um aterro ou na praia. A informação que recebi é que seria feito na praia. Alertei que se fosse enterrar na praia tinha que ser acima da linha de maré. É necessário fazer um buraco bem fundo, ou seja, de uma forma que se a maré enchesse não escavasse”, explicou.

Apesar das recomendações, o veterinário contou que a prefeitura enviou uma máquina inapropriada para a ação no dia do encalhe. “Fiquei esperando com a equipe, mas a máquina que chegou no local não tinha o tamanho suficiente para retirar a baleia. O nosso papel é acompanhar o enterro do animal. A gente costuma orientar a prefeitura da melhor forma possível, mas quem vai decidir como vai ser são eles”.

Ainda segundo o especialista, além das orientações dadas à prefeitura, o veterinário ficou acompanhando o andamento da remoção da baleia, que só veio acontecer na semana seguinte.

“Não poderia ficar com mais três estagiários esperando essa outra máquina chegar. Orientei e falei pra entrar em contato comigo em caso de dúvidas. Isso demorou uma semana. E eu sempre entrando em contato para saber se tinham feito o enterro, pois muitas pessoas ligavam para o projeto para falar sobre o encalhe. Uma funcionária da prefeitura disse que a demora era porque não tinha a máquina, acrescentou.

Profundidade insuficiente

Para o veterinário, a baleia pode ter sido enterrada de forma inadequada, em uma profundidade que parece não ter sido suficiente. “Quando a maré chega, principalmente nesses dias de lua cheia, ela é grande e o animal pode ficar exposto. Alguns moradores da região entraram em contato comigo e eu expliquei a situação. A gente não pode fazer mais nada nesse sentido”.

Conforme as análises desenvolvidas pela equipe do Projeto Baleia Jubarte, a baleia era fêmea, tinha 12 metros e pesava em torno de 28 toneladas.

Baleia foi encontrada encalhada na praia no dia 29 de agosto
Baleia foi encontrada encalhada na praia no dia 29 de agosto |  Foto: Arquivo Pessoal

Prefeitura

Em nota enviada ao A Tarde, a Prefeitura de Vera Cruz informou que “o animal foi enterrado na faixa de areia, seguindo orientação dos funcionários do Projeto Baleia Jubarte. No entanto, a maré alta, forte neste período, aliada aos ventos, desenterrou o animal parcialmente”.

Ainda segundo o texto, o animal deve ser enterrado novamente “assim que houver possibilidade e as condições da maré permitirem”. Não foi apresentada nenhuma data específica para a realização da ação.  

Alerta

O veterinário alertou sobre os riscos causados pelo contato dos moradores com a baleia em decomposição. “Esses animais quando morrem apresentam um odor muito fétido, que pode causar náusea e enjoo nas pessoas. É um animal muito grande e acaba concentrando o odor por conta da quantidade de matéria orgânica. Por isso, a recomendação é que não comam a carne da baleia e não toquem no animal”, completou.

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