PRAIA DO FORTE
Prefeitura de Mata de São João 'vende' colônia de pescadores
Pescadores denunciam entrega da área ocupada há décadas a um restaurante e prometem ir à justiça
Por Alan Rodrigues
Depois de um ano e meio de obras e três adiamentos a prefeitura de Mata de São João entregou no final do ano passado a requalificação da Alameda do Sol, em Praia do Forte. Mas a intervenção que deveria melhorar as condições de trabalho dos pescadores nativos só causou revolta.
A área, localizada à frente do projeto Tamar, local de grande visitação turística, foi cedida ao restaurante Maré e a colônia Z-38, que por 80 anos ocupou o local, além de ter seu espaço reduzido, viu o estabelecimento invadir seu espaço, a ponto de obstruir a entrada da sede.
Caio de Zezé é neto de pescador e possui, ele próprio, uma embarcação. Ele conta que a antiga sede da colônia foi demolida em junho de 2022 e, desde então, a associação não tem como funcionar em sua plenitude. E não foi apenas a colônia q1ue sofreu prejuízos com a obra.
Segundo Caio, os quiosques, que também foram demolidos, foram entregues sem sanitários, obrigando clientes a buscar as lojas do entorno e os funcionários a se deslocar até suas residências para fazer suas necessidade. Outra distorção do projeto da prefeitura aconteceu na casa de farinha.
Havia uma chaminé, com um duto para dissipar a fumaça e a madeira que abastecia os fornos para fabricação de tapioca era adicionada pelo lado de fora. Na casa entregue pela prefeitura, as chaminé tem um duto muito menor e o reservatório da madeira fica dentro da casa. “Deixou de ser casa de farinha para ser casa de fumaça”, indigna-se Caio.
Estratégia
O presidente da colônia Z-38, Luciano Nascimento, lembra que o próprio ex-prefeito João Gualberto (PSDB) esteve na colônia para apresentar o projeto de requalificação e garantiu que o espaço seria melhorado e aumentado.
“Agora a gente se vê de frente para um restaurante e tem que tirar as cadeiras para abrir as portas da associação”, lamenta Luciano. Além da área destinada ao empreendimento, mesas e cadeiras ocupam a frente e as laterais da sede da colônia e o local onde seria o escritório da entidade foi transformado em depósito.
Para Luciano, o grande valor do terreno, devido à sua localização, é o motivo da cessão do terreno a um empreendimento privado. “Quem poderia ajudar parece ter interesse em extinguir a associação”, dispara o presidente, que vê na ação da prefeitura uma ação coordenada.
“É uma estratégia para apertar os pescadores e vencer pelo cansaço. O pescador é humilde, fecha negócio só pela palavra, mas a gente está lidando com gente mal intencionada”.
Luciano já esteve com a secretária de obras Samella Martins e aguarda uma audiência com o prefeito Bira da Barraca (União Brasil) para tentar reverter a situação. Do contrário, o caso deverá ser judicializado. O presidente da colônia questiona a licitação que cedeu a área ao restaurante por 10 anos, ao custo de R$ 1,68 milhão. A empresa vencedora, Boia empreendimentos, tem apenas 3 anos de criada e capital social de R$ 120 mil, 14 vezes menor que o valor do contrato.
Repúdio
No instagram, a associação Praia do Forte enunciou o absurdo com uma nota de repúdio e recebeu o apoio dos seguidores que demonstraram sua indignação. Confira a postagem e os comentários:
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