O PERIGO MORA AO LADO
Tronox: impacto no condomínio Interlagos é sentido há décadas
Residencial é vizinho da fábrica de pigmentos e convive com resíduos tóxicos desde os anos 80
Por Alan Rodrigues

A relação dos moradores do condomínio Parque Interlagos, situado às margens de Arembepe, Camaçari, com a empresa Tronox, sempre foi de tensão e vigilância permanente. O residencial, primeiro do litoral norte da Bahia, foi implantado no final da década de 60, poucos anos após a chegada da Tibrás.
A fábrica de pigmentos mudou várias de nome em mais de meio século de existência. Já foi Millenium, Cristal e, hoje, se chama Tronox. Apenas uma coisa não mudou. A liberação de gases e resíduos com alta concentração de metais pesados.
Contaminação atestada por laudos da secretaria de saúde de Camaçari, de 2014, que são apontados como causa da grande incidência de câncer e doenças respiratórias na comunidade de Areias, principal atingida pelo descarte de substâncias tóxicas.
Foi por causa disso que o Ministério Público (MP) celebrou, em 2013, um Termo de Ajustamendo de Conduta (TAC) com a empresa, a fim de monitorar as emissões de poluentes e instalar barreiras hidráulicas para impedir a contaminação do lençol freático.
Devido à ausência de laudos comprovando o cumprimento do TAC, o MP notificou a Tronox e o instituto estadual do meio-ambiente (Inema) e aguarda, há meses, pelo envio da documentação.
Ácido sulfúrico
Separado da Tronox apenas por um muro, o condomínio Interlagos também sofreu por décadas com à poluição. Mas, os moradores do local receberam tratamento diferenciado. O engenheiro Mário Gordilho, ex-presidente da Conder e ex-Superintendente da Sudene, possui imóvel em Interlagos desde 1975 e foi síndico do condomínio por18 anos, entre os anos 80 e 90.
Ele conta que, nesse período, os moradores tiveram um "problema de poluição grande no lençol freático". Num tempo em que a legislação ambiental quase não existia, Gordilho lembra como os resíduos da Tronox se infiltravam no solo.
"A empresa jogava a borra de enxofre nas dunas (vizinhas ao condomínio) e, em contato com a água ela se transformava em ácido sulfúrico. A chuva infiltrava no lençol freático e a água descia para a lagoa", conta o engenheiro.
A lagoa em questão fica às margens das vias de circulação do condomínio, à frente das casas, e é formada pela água que vêm do rio Joanes e desagua no rio Capivara, em Arembepe. Devido ao acúmulo de matéria orgânica, a água da lagoa sempre foi escura, mas, com a contaminação do lençol freático, foi ficando mais clara.
Certa vez, ao limpar a piscina, Mário Gordilho usou a água da lagoa e percebeu que a mesma tinha "cor de chá". Fez a coleta e encaminhou para análise, onde foi constatada a acidez da água.
Um dos diretores da empresa era morador de Interlagos e notificiou o Centro de Recursos Ambientais (CRA), equivalente ao Inema na época, Foram instalados piezômetros, equipamentos para coleta de água em grandes profundidades, que confirmaram a acidez.
Gordilho lembra que houve uma mortandade de peixes. Diante disso, a empresa passou a encaminhar os resíduos para a central de efluentes líquidos (Cetrel) do pólo petroquímico de Camaçari. As dunas foram impermeabilizadas e passaram a escoar o resíduo para uma área de descarte dentro do terreno da Tronox.
Durante algum tempo, a fábrica forneceu água tratada aos moradores do condomínio e, pelo menos duas vezes ao ano, devido à mudança de vento, a produção era suspensa para evitar que os gases se concentrasem na área do residencial.
Falta gestão
Com o tempo, essa assistência aos moradores foi cessando, "Hoje a água vem da Embasa, caríssima, quando a gente poderia retirar do subsolo", reclama Gordilho. O ex-síndico questiona o descumprimento de algumas cláusulas da convenção do condomínio e cobra da gestão uma atuação mais efetiva junto à empresa e ao MP, para cobrar esclarecimentos acerca do TAC ora em questão.
"Hoje a gestão do condomínio não é muito boa, nem incomoda a Tibrás (Tronox) para saber do TAC, para nos defender e defender os vizinhos", acrescenta o engenheiro que questiona a falta de monitoramento da água da lagoa. "No meu tempo, tinha uma pessoa só para coletar a água e avaliar o PH".
A TARDE tentou contato com a síndica, Mariluz Cabral, para que ela respondesse às críticas de omissão no monitoramento da água e interlocução junto ao MP e a Tronox, mas não houve retorno.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes