DIA NACIONAL DO TURISMO
Além de transporte, Elevador Lacerda é símbolo da história de Salvador
Equipamento passará por reformas estrutural, civil, arquitetônica e eletromecânica
Por Matheus Calmon
Além de um meio de transporte que liga as cidades alta e baixa de Salvador, o Elevador Lacerda tem desempenhado papel crucial na vida dos soteropolitanos ao longo dos anos. Nos próximos meses, o equipamento passará por reforma com o objetivo de transformá-lo em uma atração turística de destaque e melhorar seu aproveitamento no cotidiano dos habitantes da cidade.
Embora muitos associem o elevador apenas à sua funcionalidade de transporte vertical, sua importância transcende as fronteiras do meramente prático. O monumento soteropolitano tem raízes profundas na história, desempenhando um papel fundamental na ligação entre as duas partes da cidade. Para além do aspecto cultural, o lado econômico também merece destaque, uma vez que inúmeros trabalhadores dependem do equipamento para facilitar o acesso ao trabalho e o retorno para casa, além daqueles que ganham seu sustento com o trabalho nos arredores.
Apesar de sua importância histórica para a capital baiana e para o próprio estado, há quem enxergue o equipamento de 72 metros de altura como apenas um elevador, como foi o caso de uma turista blogueira que gravou um vídeo dando nota 2 ao equipamento. “Quando me falaram do Elevador Lacerda, eu achei que fosse outra coisa, na real é só um elevador mesmo. Adorei, nota 2”, afirmou. Outras críticas ao equipamento foram escritas em um site de viagens.
"O elevador é apenas um elevador. Não é nada de especial", disse um visitante. “O preço da passagem é muito alto, especialmente considerando que o elevador é apenas um elevador", comentou outro. Atualmente o equipamento transporta cerca de 900 mil pessoas por mês ou, em média, 28 mil pessoas por dia. O ticket custa R$ R$ 0,15.
História
O que hoje é o Elevador Lacerda era antes o “Guindaste da Praça”, construído em 1869 para a construção do primeiro mercado público de Salvador, o Mercado Modelo. Em 1873, o guindaste foi adaptado pelo comerciante Antônio Lacerda para ser usado como um elevador, que se tornou o primeiro elevador público do Brasil.
Em 1927, a empresa responsável pelo Elevador decidiu construir duas cabines, sua segunda e grande transformação. O projeto contou com assessoria da Otis Company, responsável pela reforma deste ano, projeto do arquiteto dinamarquês Fleming Thiesen e realização da construtora dinamarquesa Christiani Nielsen.
O Elevador, atualmente, consiste em duas torres: uma de 1873, escavada em uma falha geológica, e a construída em 1927.
A historiadora Sheyla Klicia, natural de Feira de Santana, conta que quando criança, em suas visitas a Salvador, muitas vezes a família não tinha compromissos no Comércio, mas visitar o Elevador era parada obrigatória. “Imaginava que a gente subia em uma estrutura transparente e todo mundo via. Com o passar do tempo, fui entender que não. É um marco histórico na nossa vida como sociedade”.
Ela revela sentir medo de que o processo histórico da imagem cultural do Elevador seja alterado. “Que venha novidades, restauração, mas deixando ainda a essência”. Sheyla pontua que o equipamento carrega consigo parte da história ancestral da capital baiana e também do estado.
“A historicidade do Elevador vem trazendo tantas histórias, emoções, tantas dores também. Ele conta a nossa história”. A historiadora cita ainda que o equipamento é rodeado geograficamente de casarões que têm o sangue do povo afrodescendente que foi escravizado.
“Quem nunca entrou no Pelourinho e sentiu a energia ancestral que tem ali? Tanto em cima quanto embaixo. Ambulantes vivem e sobrevivem do Elevador Lacerda. Para eles, têm uma conotação, significado muito importante”, avaliou Sheyla, que frisa ainda a ligação direta que o Elevador Lacerda tem com o Mercado Modelo, marco da mercantilização dos povos ancestrais.
Modernização com integração
Segundo o titular da Secretaria de Mobilidade de Salvador, Fabrizzio Muller, o objetivo da reforma do Elevador Lacerda é modernizar toda a parte eletromecânica do equipamento. “A parte elétrica, eletrônica, as cabines serão totalmente requalificadas, além de que toda parte estrutural e arquitetônica serão revitalizadas em um novo projeto que busca um resgate histórico do Elevador, trazendo conceitos originais das partes internas e dos acessos”.
O secretário contou que, com a modernização da parte de bilhetagem e controle de acesso, será permitido integração com o Salvador Card, o que deve facilitar a cobrança.
Muller contou que as obras estão divididas em dois lotes: “Uma parte estrutural, civil e arquitetônica e a outra, a eletromecânica dos elevadores, que será realizada pela Otis, responsável pela ampliação do elevador no início do século XX”. O valor do contrato é de R$ 4.358.627,00.
O secretário estima que as mudanças vão melhorar quesitos, como acessibilidade e climatização. “Além de ser o maior símbolo da nossa cidade, é também um importante equipamento de transporte vertical, já chegou a transportar mais de 30 mil pessoas em um único dia, então traz, de fato, muita facilidade e agilidade para o cidadão soteropolitano que precisa transitar entre esses dois trechos”.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes