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Turismo movido pela fé e devoção cresce na Bahia

Por Claudia Lessa

29/03/2018 - 11:24 h
A Gruta da Lapa é um verdadeiro reduto de devoção
A Gruta da Lapa é um verdadeiro reduto de devoção -

Cresce cada vez mais o número de pessoas que viajam por cidades baianas, motivadas pela fé e devoção. O chamado turismo religioso encontra mesmo na Bahia um grande potencial. Municípios com vocação religiosa, como Bom Jesus da Lapa, Serrinha, Monte Santo, Cachoeira, Maragojipe e Rio de Contas, recebem esses visitantes especialmente nos períodos de suas romarias e nos feriadões da Semana Santa ou de Corpus Christi, quando milhares de devotos aproveitam para visitar templos, santuários e igrejas históricas, bem como assistir às celebrações, levando energia de paz, orações, geração de empregos e renda a essas localidades.

De acordo com estimativa da Igreja Católica – responsável pela grande maioria dos eventos religiosos que acontecem no interior do Estado –, a Bahia movimenta cerca de cinco milhões de pessoas por ano com o turismo religioso, incrementando a procura por hospedagem, alimentação e artesanato. O crescimento do seguimento na Bahia, inclusive, motivou a Pastoral do Turismo da Arquidiocese de Salvador (PASTUR) a trazer o Congresso Brasileiro de Turismo Religioso, que ocorrerá de 9 a 12 de maio, para Salvador.

“O turismo movido pela fé também leva o visitante a conhecer outros atrativos, beneficiando o entorno do destino principal. Por esta razão, a Secretaria Estadual do Turismo (SETUR) atua em vertentes, como a da capacitação profissional, a fim de contribuir para a excelência dos serviços neste segmento”, disse o secretário do Turismo, José Alves, durante o lançamento da programação do congresso, em janeiro último. O coordenador científico do congresso, Padre Manoel Filho, destacou que, além do olhar de evangelização que proporcionam aos fiéis, os eventos turísticos de cunho religioso “são uma potência de crescimento humano e social, com uma prática de turismo que gera emprego e renda com paz, preservação humana e ambiental”.

Qualificação

Com o objetivo de dinamizar o turismo religioso, a Secretaria Estadual de Turismo vem atuando na qualificação da mão de obra do seguimento para que os municípios reconhecidos por sediar manifestações de fé ou peregrinação possam oferecer serviços de excelência. Neste sentido, o secretário José Alves ressalta que a SETUR cumpre uma extensa agenda anual de cursos nessas cidades, a exemplo de Curaça, Jequié e Itanhaém, onde recentemente a sua equipe técnica esteve para oferecer fortalecer a cadeia produtiva do turismo. As ações de educação para o turismo incluem palestras sobre noções conceituais, a exemplo de definições de fluxo turístico, sazonalidade, cadeia produtiva e segmentação turística, dentre outros assuntos.

Na Bahia, os destinos do Turismo Religioso são muitos. Um dos meses mais movimentados do Turismo Religioso na Bahia é agosto, quando acontecem celebrações, romarias e homenagens aos santos protetores. Acompanhe aqui alguns dos principais roteiros em cidades do interior e organize a sua viagem.

>> Bom Jesus da Lapa

Conhecida por “capital baiana da fé”, Bom Jesus da Lapa, no Oeste baiano, a 902 km de Salvador, sedia a primeira maior romaria do Estado e a terceira do Brasil. Um dos principais ícones do turismo religioso na Bahia, o município deverá receber mais de 100 mil visitantes nas celebrações da Semana Santa. Localizada às margens do Rio São Francisco, a cidade recebe 2,5 milhões de romeiros por ano. É na cidade mística, cercada de grutas e morro em estilo gótico, que acontece, no mês de agosto, a tradicional Romaria do Bom Jesus.

Em Bom Jesus da Lapa se encontra um dos santuários mais importantes da Bahia, que é ponto de chegada de milhares de romeiros que vão, todo o ano, agradecer pelos milagres alcançados. A fé e a devoção movimentam o turismo religioso na região, atraindo visitantes de diversas partes do país, como São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerias e Espírito Santo, que lotam hotéis, pousadas, bares e restaurantes, bem como agitam o comércio local, especialmente o relacionado a artigos religiosos em madeira e barra.

Durante os dez dias da Romaria do Bom Jesus, realizada há mais de três séculos, 500 mil pessoas comparecem à cidade, que vive o auge da festa em 6 de agosto, dedicado ao padroeiro do município. Nesse dia, acontece uma missa solene matinal e a tradicional procissão pelas principais ruas da cidade. Ao contrário de outras manifestações religiosas da Bahia, que costumam agregar o sincretismo religioso, a Romaria de Bom Jesus da Lapa mantém-se fiel às comemorações católicas.

Datado do século XVII, o conjunto de grutas que formam o santuário recebeu iluminação cênica, com a instalação de 150 projetores de alta potência, com baixo consumo de energia, além de câmeras de monitoramento na entrada da gruta, em uma ação do Governo do Estado. Conforme os especialistas, a iluminação com lâmpadas LED, além de valorizar a beleza, protege o local da umidade e ajuda a conservar altares e esculturas.

>> Cachoeira

Realizada há mais de 200 anos na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte acontece no mês de agosto. A celebração, uma das mais importantes do calendário religioso do Estado, é puxada pelas integrantes da irmandade, que se vestem de branco e saem em procissão, entoando cânticos e carregando a imagem de Nossa Senhora do Rosário sobre um andor rumo a igreja que tem o nome da santa. Durante os cinco dias de devoção, mais de dez mil pessoas são atraídas pelo evento religioso, que é marcado por missas.

O primeiro dia da festa em Cachoeira, que é Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, é dedicada às irmãs falecidas. No segundo dia, carregando a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte, as irmãs saem da sede da Irmandade em procissão noturna. Já o terceiro dia é dedicado a Nossa Senhora da Glória. Nos outros dois dias, o evento é marcado por sambas de roda e oferta de pratos baianos tradicionais, como caruru e cozido. Além de visitantes de cidades baianas e de outros Estados, a festa também atrai turistas afro-americanos e europeus.

A história da Irmandade da Boa Morte é uma das maiores manifestações culturais do Recôncavo Baiano, passada de mãe para filha por 23 mulheres negras. Para fazer parte da Irmandade, as irmãs precisam ter mais de 50 anos e serem descendentes de africanos. Historiadores relatam que a confraria surgiu quando um grupo de ex-escravas reuniu-se para conseguir a alforria de outros escravos ou facilitar a sua fuga. A devoção à Nossa Senhora da Boa Morte é registrada na Igreja da Barroquinha, em Salvador, desde o século XIX, sendo exclusivamente feminina. A transferência da Irmandade para Cachoeira ocorreu por volta de 1820. Na cidade do Recôncavo Baiano, a Irmandade se instalou na casa de nº 41, chamada de Casa Estrela, local ainda hoje reverenciado pelas irmãs durante o trajeto da procissão.

>> Monte Santo

Com forte tradição religiosa de mais de 200 anos, o município de Monte Santo, a 352 km de Salvador, oferece aos visitantes, durante a Semana Santa, uma extensa programação. Cerca de 100 mil pessoas, entre moradores e romeiros vindos de várias partes do país, se reúnem em torno das celebrações, que tem como ponto alto a subida ao Monte do Santuário da Santa Cruz, na sexta-feira santa. O percurso de cerca de 2,5 quilômetros chega a ter um fluxo de 50 mil pessoas nesse dia. A celebração da Paixão do Senhor, às 17h, e a procissão do Senhor Morto, às 19h, seguida da vigília, também estão na programação desse dia.

A trilha até o Santuário de Santa Cruz foi construída em pedra e ao longo do caminho se encontram 23 capelas. Suas alvenarias chamam a atenção por representar quadros da Via Sacra. Entre as datas religiosas comemorativas na cidade estão a Quaresma, a Semana Santa, o Novenário de Nossa Senhora, a Trezena de Santo Antônio e a Festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da cidade. A romaria começou em 1775, quando o frei capuchinho Apolônio de Toddi, após celebrar uma missa no dia 31 de outubro, em uma capela improvisada, disse aos fiéis: “Nos dias santos venham visitar os santos lugares”. Esse dia, então, foi instituído como o dia da Romaria de Todos-os-Santos.

Os visitantes vindos de cidades mais distantes e de outros Estados chegam em Monte Santo interessados no turismo religioso e cultural, ávidos por conhecer a histórica da cidade, que é berço da Guerra de Canudos. A Praça Monsenhor Berenguer concentra grande parte do preservado casario colonial, a exemplo dos prédios residenciais e da prefeitura, datados do século XVIII, e do imponente Canhão de Canudos, construído no final do século XIX. O Museu do Sertão guarda um vasto arquivo histórico e artístico. Uma curiosidade é a réplica do meteorito de Bendegó, encontrado às margens do rio de mesmo nome, em 1784. Além dos pontos religiosos e históricos, uma boa dica é experimentar a culinária local, como o sarapatel e o bode assado na brasa.

>> Serrinha

Outro concorrido destino do turismo religioso é Serrinha, a 190 km de Salvador. No município, a programação religiosa é forte na Semana Santa e teve início no último domingo, com a realização da Procissão de Ramos, e segue até a Páscoa (1º/4), com uma estimativa de 30 mil pessoas participando. O auge das celebrações religiosas na cidade é a Procissão do Fogaréu, realizada desde 1930, sempre na Quinta-feira Santa. A manifestação religiosa, que reproduz os relatos bíblicos dos últimos momentos de Jesus Cristo, da prisão até a morte, foi avaliada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) como patrimônio do Estado. Após a missa do Lava Pés, que relembra a Santa Ceia, fiéis saem da Catedral de Serrinha em direção à Colina Santa, onde é encenada a Paixão de Cristo. Todo o caminho é iluminado pelas chamas das velas que o público leva nas mãos.

>> Rio de Contas

O Corpus Christi, em Rio de Contas, é um atrativo dos mais belos do turismo religioso da região. Uma missa campal é celebrada em frente a Igreja Matriz nos dias da festa, quando a população faz homenagem ao padroeiro da cidade, o Santíssimo Sacramento. Tradicionalmente, as ruas são decoradas por enormes tapetes coloridos com temas cristãos, feitos pela comunidade com com palhas de arroz, serragem, casca de ovo, areia colorida e cal. Na noite da quarta-feira que antecede o dia de Corpus Christi, na chamada “Noite das Lanternas”, os moradores acendem velas nas janelas de suas casas na cidade que se tornou Patrimônio Nacional.

Como manda a fé católica, Corpus Christi é uma festa que comemora a presença do corpo de Cristo no sacramento da eucaristia, pela transformação do pão e do vinho em corpo e sangue. No município, diversas atividades fazem parte dessa tradição religiosa que, este ano, cairá no dia 31 de maio. Novenas, apresentações de banda filarmônica e corais, passeata, leilão, procissão, missa solene, chuva de papel picado e queima de fogos de artifícios são algumas delas.

>> Maragojipe

Outra festa religiosa, no Recôncavo Baiano, que acontece no primeiro domingo de agosto, é a de São Bartolomeu. Em 2018, a tradição no município completa 375 anos de devoção e fé ao padroeiro de Maragojipe. No evento, o sagrado se mistura ao profano, com uma programação que inclui atos religiosos e manifestações da cultura popular, como a lavagem da igreja matriz, preparando o templo para o novenário, as missas e as bênçãos, e apresentações de grupos de samba de roda, no palco montado na praça. A lavagem popular, comandada pelas baianas com suas quartinhas cheias de água de cheiro, puxa o cortejo pelas ruas da cidade, arrastando multidões ao som das charangas.

Dentro da programação não religiosa, destaque para a tradicional regata Aratu-Maragojipe, que reúne diversas embarcações, incluindo os tradicionais saveiros. Realizada há 48 anos, a competição sai da Baía de Aratu com chegada no cais de Maragojipe, passando pela Baía de Todos-os-Santos e Rio Paraguaçu.

>> Candeias

Tradicionalmente no mês de novembro, a fé e a devoção marcam presença na cidade de Candeias com a romaria dos fiéis ao Santuário Nossa Senhora das Candeias, monumento construído no final do século XVIII, sendo um local de grande peregrinação de romeiros, que buscam curas e bênçãos através da água milagrosa da Fonte dos Milagres. Com mais de 100 anos de festa religiosa, o município localizado na Região Metropolitana de Salvador (RMS) é um dos maiores centros do turismo religioso da Bahia. O evento, promovido pela Diocese de Camaçari, reúne mais de 20 paróquias dos municípios de Candeias, Camaçari, Dias D’Ávila, Madre de Deus, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho e Terra Nova, percorre um trecho de quatro quilômetros em direção ao Santuário.

>> Ituaçu

A Festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro de Ituaçu, localizado na Chapada Diamantina, a 499 km da capital baiana, é o marco da religiosidade no município. A celebração acontece na Gruta da Mangabeira, no povoado homônimo, de 25 de agosto a 3 de setembro. Realizados há mais de 100 anos, os festejos atraem cerca de cinco mil devotos até a Gruta da Mangabeira, cenário onde acontecem missas, batizados e procissões. Com 3,2 quilômetros de extensão, a gruta foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1962. O local conta com sistema de iluminação cênica e abriga 70 formações naturais que se assemelham a objetos, figuras sacras, animais e até passagens bíblicas. Dados da prefeitura municipal dão conta de que, durante todo o ano, 100 mil pessoas visitam a Grata da mangabeira.

>> Curaçá

O município de Curaçá, localizado no Norte do Estado também faz parte do roteiro do turismo religioso baiano. Uma das atrações é a Missa do Vaqueiro, que é celebrada em julho, atraindo mais de dez mil visitantes. Outras manifestações religiosas são as festas de Nossa Senhora Aparecida, que acontece no mês de outubro, e de São Benedito, em dezembro.

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