OPERAÇÃO ABAFA
Tronox: Moradores flagram limpeza de terreno às pressas
Caminhões limpa-fossa retiram resíduos do subsolo, enquanto operários reclamam de forte cheiro de enxofre
Por Alan Rodrigues
Chamou a atenção durante toda a semana a presença de caminhões limpa-fossa nos arredores das instalações da Tronox, indústria de pigmentos instalada às margens do litoral norte de Camaçari, entre as praias de Jauá e Arembepe.
Para os moradores, que enviaram fotos ao A TARDE, a manobra pode ter a pretensão de remover o acúmulo de resíduos tóxicos do subsolo, às vésperas da conclusão da perícia realizada pela Central de Apoio Técnico (Ceat) do Ministério Público (MP) nos laudos produzidos pelo Inema, órgão estadual responsável pela licença e fiscalização da empresa.
A Tronox é alvo de inquérito do MP por suspeitas de descumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2012, para implantação de barreiras hidráulicas, no intuito de conter o lançamento de resíduos tóxicos no subsolo do entorno. A TARDE acompanha o andamento do inquérito há mais de um ano.
Ao longo de mais de cinco décadas, a empresa, que já se chamou Tibrás, Millenium e Cristal, tem lançado resíduos de metais pesados no lençol freático – fato comprovado por estudos da Secretaria de Saúde de Camaçari -, comprometendo a saúde de várias gerações de moradores, sobretudo da localidade de Areias, que registra índices de câncer, doenças respiratórias, renais e de pele muito acima da média.
Obras
Os moradores que flagraram a movimentação na BA 099 (Estrada do Coco), próximo ao acesso da Tronox, relatam ainda a existência de obras no local, com grandes quantidades de areia e brita, além de um canteiro de obras, com sanitários químicos, tubulações e pré-moldados de concreto utilizados para instalação de galerias para escoamento de esgoto. Resta saber se a obra possui alvará e onde vão desaguar os rejeitos coletados.
Os caminhões limpa-fossa citados no início da reportagem foram vistos próximos às bombas utilizadas para extrair os resíduos da fábrica do subsolo, desativadas desde 2017, quando a Tronox substituiu a Cristal no controle da empresa.
A TARDE esteve no local com um ex-funcionário responsável pelas bombas – cujo acesso atualmente se encontra lacrado -, e presenciou o acúmulo da nata amarelada oriunda da concentração de ácido sulfúrico no terreno.
Enxofre
Recentemente, a Bahiagás instalou tubulações para ampliar o fornecimento de gás na região e operários envolvidos na perfuração do solo para entroncamento do gasoduto relataram forte cheiro de enxofre, ou ácido sulfúrico, que exalava dessas perfurações.
O MP aguarda a conclusão da perícia solicitada à Ceat, sobre os laudos produzidos pelo Inema – que já motivaram uma autuação à Tronox -, para decidir os próximos passos do inquérito, o que pode resultar no cancelamento do TAC. Paralelamente, os moradores que alegam ter sido vítimas da contaminação, aguardam decisão da justiça com relação às indenizações propostas e responsabilização penal dos envolvidos.
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