A TARDE DESTAQUE
Baianas driblam machismo no campo e fortalecem futebol feminino
Estado tem se tornado lugar de resistência e representatividade para o esporte
Por Silvânia Nascimento
Em uma sociedade majoritariamente machista, como acabar com a ideia de que mulher só tem capacidade para desenvolver atividades associadas ao seu gênero? Sem dúvidas, enfrentando e rompendo esses padrões impostos pela sociedade. E é justamente por meio da união feminina que cada vez mais expressões como: “bonecas para as meninas, bolas para os meninos", têm perdido o sentido.
O futebol, por exemplo, é um dos locais que mais protagoniza esse tipo de preconceito estrutural. No entanto, o enfrentamento para rompê-lo, unido à real competência e aptidão existentes no gênero feminino têm, a cada dia, trazido à tona tais habilidades e méritos que por anos tentaram jogar para escanteio.
Na Bahia, o que não faltam são exemplos de garotas e mulheres que têm passado por cima dessas dificuldades e provado que elas podem sim, ser o que quiserem. Livres, sem impedimentos ou sem qualquer outra regra que as impeçam de chegar onde desejam.
Baiana, mulher, jovem e talentosa, a jogadora Rafaelle Souza, zagueira da Seleção Brasileira Feminina de Futebol, é, dentre tantas outras, a prova da potência feminina. Natural da cidade de Cipó, a atleta de 31 anos, que atualmente defende o Arsenal (Londres), lembra com orgulho da sua trajetória.
“Minha carreira começou sem eu esperar. Eu jogava futsal numa escola em São Francisco do Conde e fui indicada para participar da peneira do Bahia. E hoje estou aqui. Feliz por representar meu estado, país, e saber que inspiro outras garotas a chegarem onde cheguei, porque ser mulher realmente não é fácil. Precisamos provar que somos boas naquilo, enquanto o homem não”, pontuou.
Mesmo tão jovem, Rafaelle carrega na bagagem números significativos que reforçam a certeza de que habilidades não lhe faltam. Só pela Seleção Brasileira ela já disputou 80 jogos e marcou oito gols. Além disso, na última segunda-feira, 20, ela apareceu na lista de convocadas da técnica Pia Sundhage para a Finalíssima contra a Inglaterra, um importante teste antes da Copa do Mundo Feminina, que acontece em julho na Austrália e Nova Zelândia.
Com essa nova oportunidade, a jogadora, que é a única baiana na Seleção, chega à sua segunda participação no Mundial. Ao avaliar seu crescimento profissional, a zagueira destacou a importância da sociedade e clubes de futebol olharem para o futebol feminino com mais atenção.
”Há tantas meninas cheias de talentos que precisam ser descobertas, mas que não têm oportunidades, inclusive na Bahia. Os grandes clubes têm que incentivar porque o esporte muda a vida das pessoas. Mudou a minha. E esse é um espaço que também deve ser ocupado por nós mulheres”, declarou.
Celeiro de talentos
Lar de talentos como Rafaelle e da sua antecessora, Formiga, a Bahia tem se tornado lugar de resistência e representatividade para o futebol feminino. No final do ano passado, Lanne Carmo, treinadora do Sussuarana Futebol Clube, quebrou paradigmas ao ser a única mulher a comandar um time masculino na Taça das Favelas, torneio organizado pela Central Única das Favelas (CUFA). De sobra, venceu a competição e levou para casa o título de campeão.
“Eu sou muito apoiada pelos meninos do clube. Sempre acreditaram na minha capacidade técnica para treinar um time. E isso foi muito importante para que a gente conseguisse o troféu da Taça das Favelas”, lembrou.
Enquanto Lanne atua no comando e orientações, Samara Lima, 19 anos, integrante do Resiliência Futebol Clube, sediado em Lauro de Freitas, tem como paixão, jogar. A vontade de tornar-se jogadora de um time profissional é tão intensa que, nem mesmo uma gestação inesperada, afastou a jovem das "quatro linhas”.
”Eu pensei que por causa da gravidez eu ia ter que deixar o futebol que é uma das coisas que eu mais amo. Mas foi aí que eu conheci o projeto Resiliência e voltei a ter o meu sonho de volta”, contou Samara.
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