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Construção civil em Salvador mantém otimismo para o segundo semestre

Compradores de imóveis têm buscado por itens como segurança, áreas de lazer e de compartilhamento

Publicado quarta-feira, 02 de agosto de 2023 às 06:00 h | Atualizado em 02/08/2023, 08:48 | Autor: Carla Melo
Empresas do setor imobiliária estão pensando empreendimentos voltados a novas demandas
Empresas do setor imobiliária estão pensando empreendimentos voltados a novas demandas -

Apesar dos impactos negativos registrados em vários setores econômicos no período na pandemia, a construção civil pouco sofreu em perdas de vendas, lançamentos e geração de empregos. Para os próximos anos, portanto, a expectativa de crescimento, principalmente do mercado imobiliário, permanece otimista e, em Salvador, já é possível vislumbrar novas demandas e projetos voltados a essas tendências.

Segundo pesquisa realizada pela BRAIN Inteligência Estratégica, contratada pela Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), entre janeiro e abril de 2023 o mercado imobiliário baiano apresentou equilíbrio entre os lançamentos e vendas no mercado vertical. No primeiro quadrimestre do ano, foram registradas 2.947 unidades vendidas e 2.877 unidades lançadas em Salvador e na região metropolitana. 

O otimismo para o segundo semestre fica por conta das definições da taxa de juros e o controle da inflação, após reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que define o cenário da política monetária e os próximos passos do setor imobiliário. 

“Estamos vivendo um momento de recuperação da crise de 2014 a 2019 e também do período da pandemia, fazendo com que todos parassem suas atividades comerciais e ficassem em suas casas. Isso tudo trouxe um momento de retração do mercado mas, a partir do segundo semestre de 2020, esse cenário passou a contar com pessoas que pesquisaram mais sobre o momento, buscaram formas de se relacionar mais com a natureza, de ter um lugar para trabalhar, com uma infraestrutura que atendessem a esses anseios, e isso aqueceu o mercado”, explica Cláudio Cunha, presidente da Ademi-BA.

Novas tendências e comportamentos

Os cenários econômicos, principalmente no pós-pandemia, também afetaram o comportamento dos compradores, que passaram a buscar imóveis que oferecessem melhor qualidade de vida, acesso ao lazer, maior segurança, espaço amplo para o trabalho e a família. Segundo Cláudio Cunha, foram investidas pesquisas para possibilitar o atendimento e acompanhar os novos anseios dos clientes.

“Na parte de projetos arquitetônicos e urbanismo, tivemos mudanças dos empreendimentos que tínhamos para lançar antes da pandemia. Nos imóveis - que já estão começando a ser comercializados, construídos e entregues a partir do final deste ano e começo do ano que vem -, colocamos ambientes integrados, salas como pontos de convergência entre a família, locais para trabalhar, espaços para que filhos possam ter um ambiente de maior concentração nas atividades escolares, locais pensados nos pets. Isso tudo possibilitou que as empresas voltassem a estudar a melhor forma de atender essa nova demanda”, explica o presidente da associação.

Segundo ele, as empresas do setor imobiliário também começaram a estudar novos mercados após ser verificado um novo movimento de migração de residência no pós-pandemia.

“Vimos o que antes era a segunda residência se tornar a primeira residência, principalmente no litoral, algumas cidades do interior, onde as pessoas poderiam ter mais espaço, mais contato com a natureza, ter mais liberdade, mais acessibilidade e boa localização”.

A educadora Idelza Melo se encaixa em um desses perfis. Natural de Pojuca, a cerca de 80 km da capital baiana, há cinco anos ela busca em Salvador essa segunda residência, com requisitos de maior segurança, acessibilidade, boa localização e maior espaço para trabalho e família.

“Venho procurando um imóvel desde antes da pandemia, que atenda às necessidades da minha família. Com o tempo, percebi que a localização, a segurança e a comodidade eram os itens ideais que buscava em um apartamento”, explica a professora.

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Lucas Pithon é CEO da empresa LPL Engenharia, que há 8 anos atua na prestação de serviços para grandes corporações da área de saúde, varejo e indústria, e também nos setores de incorporação imobiliária. Para ele, as empresas não devem mais pensar em lançar um empreendimento sem ter um espaço dedicado a esse novo desejo.

“É necessário pensar em um espaço para as entregas de delivery. Não se deve pensar em um imóvel sem espaços de compartilhamento, não só de ambiente, mas também de ferramentas e equipamentos, sem locais de segurança, sem espaço para o pet. Um bom empreendimento deve ser sustentado pelos principais pilares: bem-estar, lazer infantil, juvenil, adulto e do pet, e conveniência”, exemplifica o CEO. 

Facilidades de compra

Apesar da ampliação de serviços oferecidos pelas empresas imobiliárias, Idelza Melo explica que, na hora de escolher o imóvel, quanto mais benefícios possui, mais caros os empreendimentos ficam, fazendo com que o sonho da segunda residência esteja mais distante.

“A dificuldade está quando buscamos um espaço maior, com mais lazer, com acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com deficiência, e o preço dos imóveis sobe muito. E para uma família de baixa renda, que precisa de necessidades especiais, realizar o sonho de um imóvel para toda a família fica ainda mais difícil”, conclui a educadora.

As empresas perceberam também esse novo cenário, e passaram a construir novas formas de conectar o comprador ao imóvel. Segundo o presidente da Ademi-BA, a ideia é facilitar o acesso dos compradores aos imóveis. 

“Hoje já podemos fornecer pagamentos com descontos, antecipados, por parte do incorporador dos Impostos de Transmissão Inter Vivo, o ITIV, que já é uma grande redução no preço. Em alguns casos, empresas têm apoiado na mudança do comprador, propostas de isenção da taxa de condomínio por um certo período de tempo. Cada empresa procurou, dentro da sua estrutura comercial, criar uma forma em que pudesse ajudar no momento da entrega do imóvel, em que há muitos compromissos a serem assumidos”, explica.

Expectativas 

Diretor regional da Moura Dubeux, Fernando Amorim

Transformação

O diretor regional da construtora Moura Dubeux, Fernando Amorim, atribui o bom resultado do setor imobiliário nos últimos anos às mudanças na infraestrutura em Salvador e aos investimentos e obras realizadas na capital no período pós-pandêmico.

“A cidade teve uma transformação na estrutura e, junto com isso, bons governos, tanto municipais quanto estaduais. Estamos falando de atrações a partir de injeção de investimentos, como em centros de convenções, reestruturações na malha ferroviária, no metrô etc. Isso tudo gera reflexos no mercado imobiliário. De 2017 a 2020, Salvador teve poucos lançamentos devido à crise de 2014, com o impeachment de Dilma Rousseff, quando o mercado teve uma retraída”, explica o diretor.

Segundo projeção da Ademi-BA, divulgada em junho deste ano, o setor imobiliário da Bahia deve ter crescimento de 5% no segundo semestre em comparação com o mesmo período de 2022.

“Observamos mais lançamento de prédios e mais aquecimento no mercado imobiliário, e a tendência do segundo semestre é de crescimento por conta da taxa de juros, de relação de oferta e demanda. Estamos bem confiantes porque a construção civil tem uma função muito grande de arrecadação de receita, geração de salário, de emprego. Entendemos que, por sermos a maior incorporadora do Nordeste, nós vamos gerar bastante receita”, explica Amorim.

O otimismo também alcança o setor de prestação de serviços da construção civil. As demandas de grandes corporações foram fatores decisivos para que empresas como a LPL Engenharia registrassem um boom de serviços.

“O setor de construção civil, voltado à prestação de serviços já vem sentindo altas importantes. Nos últimos seis meses, recebendo demandas que, somadas, ultrapassam a casa de R$ 100 milhões. Essa demanda teve crescimento de 50% em comparação ao que chegamos no ano passado. São dados concentrados, sobretudo, no varejo e na indústria”, aponta Lucas Pithon.

Outro fator importante são as expectativas de crescimento de empregos formais que, entre janeiro e maio deste ano, geraram 4.418 empregos formais, segundo dados divulgados pelo Novo Caged em junho. 

“A expectativa de crescimento para este semestre é extremamente positiva. Os números e indicadores mostram um cenário promissor, com a Bahia liderando a geração de empregos e fortalecendo a economia estadual. A contínua demanda por moradia, infraestrutura e investimentos em projetos inovadores e sustentáveis impulsionam, cada vez mais, a confiança do mercado imobiliário”, aponta a Ademi-BA.

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