SÉRIE A TARDE
Crescente violência em colégios faz Brasil ligar o alerta
Dois ataques de grande proporção foram registrados no país em 2023; cinco mortes ocorreram no total
Por Pevê Araújo
Até março deste ano, o Brasil contabilizava 23 casos de ataques violentos a escolas. O balanço divulgado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) levou em consideração dados entre 2002 e o início de 2023. Dentro do recorte, 24 estudantes morreram vítimas de violência extrema nas unidades, além de quatro professores e dois profissionais da educação.
Em 2023, dois ataques de grande proporção foram registrados no Brasil. Uma professora de 71 anos, identificada como Elisabeth Tenreiro, morreu após ser esfaqueada por um aluno. O crime aconteceu em março, em uma escola estadual na zona oeste de São Paulo. Na ocasião, outras três professoras e dois alunos ficaram feridos.
No dia 5 de abril, quatro crianças foram mortas e cinco ficaram feridas após um ataque que aconteceu no Vale do Itajaí, em Blumenau, no estado de Santa Catarina. O crime foi registrado na creche Cantinho Bom Pastor, que é uma unidade de ensino particular. As vítimas tinham entre quatro e sete anos.
Com o objetivo de enriquecer o debate sobre as ameaças e os ataques nas unidades de ensino, o Portal A TARDE lança, nesta sexta-feira, 21, até a segunda-feira, 24, a série "Violência nas Escolas: o que está por trás dos ataques". Em cada matéria, que conta com produção audiovisual, o especial detalha os casos ocorridos no Brasil e na Bahia e traz uma discussão com especialistas sobre como prevenir novos episódios.
Recente crescimento
Em 2022, o Brasil contabilizou três casos de ataques violentos em instituições de ensino. O primeiro aconteceu no município de Barreiras, na Bahia. No dia 26 de setembro, um aluno de 15 anos invadiu uma escola cívico-militar e matou uma jovem cadeirante a tiros. O assassino publicou informações em suas redes sociais antes de cometer o atentado.
Nove dias depois, em Sobral, no Ceará, um adolescente de 15 anos atirou em três estudantes de uma escola pública. Uma das vítimas não resistiu aos ferimentos e morreu.
No dia 25 de novembro de 2022, na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, um atirador de 16 anos foi responsável pela morte de três pessoas após dois ataques consecutivos. Em uma escola estadual, o assassino fez vários disparos utilizando uma pistola e acertou duas professoras. Após o crime, ele invadiu uma unidade privada e matou uma aluna.
Em 2021, um assassino invadiu uma escola infantil em Saudades (SC) e deixou cinco mortos, sendo três crianças e duas funcionárias da instituição. Após o crime, o homem de 19 anos tentou cometer suicídio. Atualmente, ele está preso e aguardando agendamento de julgamento por júri popular.
Histórico no Brasil
Frequentes nos Estados Unidos, atentados contra instituições de ensino não eram ocorrências de grande destaque no Brasil. No entanto, nos últimos anos, vários casos com vítimas mortais foram registrados. O Portal A TARDE vai relembrar alguns acontecimentos que marcaram o país.
No dia 7 de abril de 2011, um homem de 23 anos invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, e matou 12 adolescentes após um ataque a tiros. Na ocasião, outras 12 pessoas ficaram feridas. Em seguida, o assassino se matou com um tiro na cabeça. O responsável pelo crime deixou uma carta afirmando que estudou na instituição de ensino e era vítima de bullying.
Em São Caetano do Sul, no dia 22 de setembro de 2011, uma criança de 10 anos entrou armada numa escola e atirou contra uma professora, que morreu. Em seguida, ele repetiu o padrão anterior e se matou.
No mesmo ano, um jovem de 19 anos entrou no Colégio 13 de maio e atirou 11 vezes contra Raphaella Noviski Romano, de 16 anos. O assassino foi rejeitado pela vítima antes de cometer o crime.
No dia 8 de outubro de 2017, o vigia de uma creche municipal de Janaúba, no Norte de Minas Gerais, foi responsável pela morte de 10 crianças e três adultos. Ele jogou gasolina no próprio corpo e ateou fogo também nas vítimas. O homem, que tinha 50 anos, morreu horas após o crime, com 100% do corpo queimado.
No dia 20 do mesmo mês, 15 dias após o massacre de Janaúba, um adolescente de 14 anos levou uma pistola para o Colégio Goyazes, em Goiânia (GO) e matou dois estudantes. Quatro colegas ficaram feridos na ocasião. O estudante, que foi apreendido pela polícia, frequentava a instituição e sofria bullying.
Em 2019, no dia 13 de maio, dois atiradores invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) e mataram oito pessoas. Durante o crime, os responsáveis também tiraram as próprias vidas. Antes de entrar no colégio, os assassinos foram responsáveis pela morte do dono de uma locadora, que ficava perto da instituição de ensino.
Bahia aparece nas estatísticas e liga sinal de alerta
O primeiro caso de violência extrema dentro das escolas na Bahia foi registrado no dia 26 de setembro de 2022. Além de ter matado uma aluna cadeirante em Barreiras, o assassino atirou contra outro estudante da Escola Municipal Eurides Sant’Anna. Segundo informações divulgadas pela prefeitura do município, ele forçou a entrada no colégio. Após o ataque, ele foi baleado e socorrido pela polícia militar. O adolescente, que cumpre medida socioeducativa em casa, ficou tetraplégico.
A cidade de Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, também registrou uma ocorrência de ataque à escola. No dia 27 de setembro de 2022, um adolescente de 13 anos ateou fogo na Escola Municipal Yeda Barradas Carneiro. Após a invasão, ele atirou explosivos caseiros do tipo coquetel molotov no local e esfaqueou a coordenadora da instituição. O jovem foi apreendido pela Polícia Militar e responde por ato infracional análogo ao crime de lesão corporal leve.
Com o crescimento nos casos, a Bahia entrou em sinal de alerta em busca do controle da violência escolar. Segundo informações divulgadas pela Secretaria de Educação do estado ao Portal A TARDE, em 2023 ocorreram 86 registros de denúncias e seis casos de ameaça real nas escolas da Bahia.
Até abril deste ano, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) registrou 53 ocorrências de atos de violência nas escolas públicas de Salvador e no interior. A estatística envolve arrombamentos, invasões, intimidações e ameaças.
Tentando combater a violência nas escolas, as polícias Militar e Civil da Bahia localizaram 30 suspeitos de envolvimento em fake news ou por levar armas brancas ou simulacros para instituições de ensino. Entre os apreendidos, estão adultos, adolescentes e crianças.
Nos últimos dias, com o reforço da Ronda Escolar e da operação Escola Segura, responsáveis por ameaças em Salvador, Senhor do Bonfim, Barreiras, Feira de Santana, Iaçu, Maiquinique e Paratinga foram identificados e apreendidos pela polícia.
Informações sobre grupos ou possíveis responsáveis por crimes podem ser repassadas pelo telefone 181. O site Escola Segura, do Ministério da Justiça, também está aberto para recebimento de informações, como fotos, prints e vídeos. Para possíveis casos em Salvador, a central de operações da Guarda Civil Municipal oferece o número (71) 3202-5312 e também pode ser acionada através do WhatsApp (71) 99623-4955.
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