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PEGADINHA NAS PRATELEIRAS

Produtos modificados ganham espaço no mercado e confundem consumidores

Alimentos podem apresentar déficit de nutrientes, mas garantem lucro às empresas

Por Filipe Ribeiro

17/08/2022 - 6:00 h | Atualizada em 08/05/2023 - 14:10
Compradores falam como foram surpreendidos por alimentos com composições misturadas com cara de naturais
Compradores falam como foram surpreendidos por alimentos com composições misturadas com cara de naturais -

Foi em 2021 que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que os rótulos de alimentos que sofreram mudanças em sua composição ou receita precisariam apresentar, de forma destacada, uma declaração da alteração. A regra valia por, no mínimo, 90 dias. Após esse período, as empresas não precisariam mais destacar as respectivas mudanças.

Com isso, muitos consumidores começaram a notar nas prateleiras dos supermercados os produtos que apresentam a “pegadinha” das embalagens que mantêm um visual original, mas têm suas composições modificadas e, em alguns casos, as informações escondidas nas letras minúsculas.

Assim aconteceu com o jornalista Victor Luiz, que comprou uma manteiga, mas só se deu conta que tinha levado para casa um “alimento à base de manteiga e creme vegetal com sal” quando foi consumir o produto.

“Comprei achando ser manteiga, e o momento de raiva e indignação que notei que não era uma manteiga foi quando já estava em casa e fui utilizar para cozinhar. Na hora senti uma consistência diferente e foi quando me atentei a ler a embalagem do produto”, disse.

Apontando-a como uma “falsa manteiga”, o jornalista explicou que, para o consumidor, é fácil se confundir ou não prestar atenção, já que a empresa manteve a mesma identidade visual do produto já conhecido no mercado, apenas adicionando a descrição dos ingredientes no canto da embalagem.

“O rótulo inteiro é uma pegadinha. Isso porque a empresa manteve a mesma identidade visual. Porém, você já está acostumado a ver aquela embalagem e comprar automaticamente como uma manteiga. Outro ponto é que eles usam a ilustração de uma vaca em uma fazenda, então mesmo quem não conhece a marca pode comprar achando se tratar de uma manteiga”, explicou.

Depois da experiência negativa, Victor ligou o alerta ao ir ao mercado e conseguiu evitar a compra de um “falso requeijão cremoso”. Caso que aconteceu com a cineasta e fotógrafa Quésia Brito, que em uma olhada rápida nas prateleiras, acabou levando o produto.

“Era composto de amido de milho com gordura vegetal e o sabor era requeijão. Eu não olho essas coisas quando vou no mercado, de forma errada, claro, mas não olho. Comprei esse e só percebi pelo sabor diferente, que é horrível. Era um valor razoável, não era tão barato, e peguei sem perceber. Quando comi, pensei que tinha alguma coisa errada, foi quando vi essa pegadinha”, disse Quésia.

Os dois consumidores entrevistados disseram se sentir lesados com as compras, destacando ainda que os produtos não têm preços tão baixos nos mercados, o que levantou o questionamento de Victor Luiz.

“O fator econômico, para mim, é o que deve ser mais debatido. Misturas sempre existiram, mas porque agora elas estão tomando mais espaço no mercado? E pior: porque elas estão ficando tão caras quanto os produtos que não são misturados?”, perguntou.

Estratégias econômicas

Consultor e professor de Economia e Finanças, Antonio Carvalho responde ao questionamento e destrinchou os processos industriais que visam as margens de lucro das empresas, principalmente após a pandemia da Covid-19.

“Em períodos de crise as empresas buscam formas de manter o mesmo volume de vendas, o mesmo lucro. Uma forma recorrente de manter o preço de venda para que o consumidor continue comprando e manter a margem de lucro é buscar estratégias de redução de custos de produção, utilizando-se inclusive de substituição de fornecedores e até mesmo de matérias-primas”, pontuou.

O economista também destacou as estratégias industriais para atingir novos públicos, levando para o mercado produtos mais acessíveis, mas com o risco de alterar a percepção de valor sobre o alimento.

“Essa alternativa, jeitinho ou pulo do gato, como dizemos na linguagem popular, de produzir com baixo custo pode permitir ampliação ou manutenção da participação com o alcance do grupo de consumidores que compõem as camadas de menor renda, tornando o produto mais acessível frente aos seus concorrentes, porém correndo o risco de desvalorização do produto e de perda da preferência de consumidores que tradicionalmente o adquiria e consumia”, respondeu.

O substituto do natural

Os alimentos de composições modificadas podem apresentar um déficit de nutrientes em comparação aos produtos naturais. Balancear o consumo com estes ingredientes é essencial para não afetar a saúde de forma mais séria, é o que garante a nutricionista Leila Santos.

Nutricionista Leila Santos indica alternativas para os alimentos modificados
Nutricionista Leila Santos indica alternativas para os alimentos modificados | Foto: Arquivo Pessoal

“É só prestar bastante atenção no rótulo e ler a lista dos ingredientes desses produtos. É importante optar sempre em adquirir os produtos com percentual de gordura, açúcar e sódio baixos e com poucos ingredientes na sua composição”, aponta a profissional.

A quem busca uma qualidade de vida, através do consumo de líquidos, ela indica alternativas para os produtos modificados. “Existem as bebidas vegetais que são excelentes em nutrientes e que acabam sendo encontrando mais em conta nos supermercados como bebida de soja, arroz e aveia. São excelente opções e ricos em fibras”, explica.

O Ministério da Saúde disponibiliza, de forma gratuita, um guia alimentar para a população brasileira. Por lá, é possível seguir as orientações dos especialistas na área para manter uma alimentação saudável e sustentável.

Evite cair na pegadinha

O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor dá algumas dicas para você evitar ser surpreendido durante as compras no supermercado. Diretor de fiscalização do Procon Bahia, Iratan Vilas Boas traz as dicas.

“É de extrema importância a leitura dos rótulos e embalagens dos produtos antes da compra, a fim de conhecer a composição e características dos produtos pretendidos. Vale ressaltar que essas informações devem constar nos invólucros dos produtos com clareza e objetividade nas informações”, explicou.

No caso do consumidor encontrar embalagens que não seguem o padrão estabelecido pela Anvisa, ele orienta ao consumidor "questionar a ausência de informações ao comerciante e denunciar o produto ao Procon utilizando fotos que podem ser anexadas no app de denúncia, o Procon BA Mobile" (disponível para Android e IOS).

Por fim, o diretor ainda destacou que o órgão segue realizando operações com o intuito de identificar ofertas e publicidades no interior dos supermercados a fim de orientar os fornecedores a retirar as ofertas e exposições de produtos que possam induzir os consumidores ao erro.

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Tags:

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