A TARDE DESTAQUE
Sedentarismo acende alerta nos brasileiros; como mudar essa realidade?
Especialistas falaram com o Portal A TARDE sobre riscos dos maus hábitos na rotina
Por Alex Torres
Dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) expuseram um cenário preocupante entre os brasileiros. Os números trouxeram que cerca de 47% da população brasileira atualmente pode ser considerada fisicamente inativa, ou seja, não têm nenhuma atividade física incluída em sua rotina para manter uma qualidade de vida saudável.
Com esses dados, o território tupiniquim ostenta o feito negativo de aparecer como a quinta nação mais sedentária do mundo entre um total de 194 países avaliados pela pesquisa. No cenário continental, o recorte é ainda mais preocupante, com o país liderando os números na América Latina.
A servidora pública, Nivia Sousa, de 51 anos, é mais uma brasileira que está presente nesta estatística. Apesar de não haver um motivo bem definido que seja capaz de justificar sua inatividade, ela argumenta que a ausência de uma parceria com quem pudesse dividir momentos de exercícios contribui na falta de motivação.
"Se eu disser que é falta de tempo, vou estar mentindo. Na verdade, é falta de hábito mesmo, comodismo. Talvez ainda não tenha aparecido nenhuma atividade que eu realmente queira fazer [...] Qualquer coisa que passe pela minha cabeça, só seria interessante se tivesse alguém junto, uma parceria. Já fiz academia, caminhada, mas sozinha não tem estímulo. Atualmente, tenho muita vontade de fazer dança, mas o fato de não ter perto de mim, me deixa meio bloqueada pela distância e custo", contou Nivia ao Portal A TARDE.
Educador físico, Alison Renan aborda justamente a variedade de atividades que podem ser adotadas pelas pessoas como forma de manterem seus corpos ativos. Atualmente, a falsa ideia de "ir à academia" como única forma de se exercitar pode ser uma das responsáveis por afastar muitos de uma rotina mais saudável.
"Essa correlação pode ser um dos motivos [...] O ideal é tentar fazer algo que seja satisfatório e que traga um benefício a saúde, como por exemplo: esportes, caminhadas, pedaladas e até mesmo atividades de dança onde se exige muito da coordenação motora e fôlego", explicou.
Mesmo tendo ideia das consequências que esses maus hábitos podem acarretar na vida das pessoas, a servidora pública revela a falta de estímulos para a mudança de hábitos. Segundo ela, o histórico familiar termina sendo uma "luz no fim do túnel" a qual ela se apega como uma forma de se sentir menos desconfortável com a realidade.
"Eu vivo na esperança. Na família por parte de pai, que também é sedentária, a maioria morre muito velho. Então termino me apegando nesta estatística, embora minha consciência saiba que a projeção pode ser a pior possível. Pressão alta, problemas cardíacos... Tenho receio, mas infelizmente fico com isso na cabeça e termino não fazendo nada para mudar", disse Nivia.
O corpo fala
Inúmeras consequências podem estar presentes para pessoas que possuem esse tipo de rotina onde as atividades físicas não estão inclusas. Entre as principais, estão as doenças cardiovasculares, como hipertensão, infarto, trombose ou, até mesmo, um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
"Tipo, o mínimo de esforço eu já fico ofegante. Estou percebendo também a pressão alta, não somente pelo histórico familiar, mas principalmente por conta do sedentarismo", explicou Nivia, que ainda completou dizendo que a alimentação feita em sua casa termina contribuindo no agravamento da baixa qualidade de vida.
Se somente a inércia do corpo não bastasse, essa conduta ainda costuma vir acompanhada de uma alimentação inadequada e que termina contribuindo para esses sintomas negativos. Ao Portal A TARDE, a nutricionista Leila Santos falou sobre os principais erros alimentares e o aumento progressivo nos números de sedentários no Brasil.
"Um consumo excessivo de produtos alimentícios ultraprocessados e hiperpalatáveis associados ao sedentarismo [...] As pessoas estão cada vez mais praticando maus hábitos alimentares e isso pode acarretar um acréscimo de pessoas portadoras de doenças crônicas a longo prazo, em especial com obesidade", disse Leila.
Alison Renan foi ainda mais além e trouxe outras práticas do dia-a-dia que terminam prejudicando ainda mais os indivíduos. "O grande problema é que a inatividade física sempre está atrelada a algum mal hábito, seja alimentar, tabagismo ou até ingestão de bebidas alcoólicas com frequência. Isso pode trazer consequências irreversíveis, o corpo vai sendo mal tratado".
Mudanças não ocorrem da noite para o dia
Que uma mudança de postura para aqueles que são sedentários se faz necessária, isso não resta a menor dúvida. No entanto, é sempre importante ressaltar que essa adequação a uma rotina mais saudável, na grande maioria dos casos, não deve ser feita da noite para o dia.
Com o corpo já adaptado a certas práticas consideradas "erradas", uma alteração muito brusca pode acabar resultando em consequências negativas e fazendo com que o indivíduo perca o prazer pelos bons hábitos. Sendo assim, alterações paulatinas se tornam mais recomendadas para que as pessoas não sofram tanto.
"Será mais agradável e menos tortuoso que seja feito gradativamente, tendo em vista que mudanças radicais e abruptas podem trazer desconforto e isso ocasiona muitas vezes no abandono da atividade", afirmou Alison.
Leila também segue a mesma linha e acredita que "respeitar o processo de cada um" seja a principal chave para o sucesso. A partir do momento em que a pessoa começa a se acostumar com as pequenas mudanças, a régua passa a ser aumentada até que o equilíbrio físico e alimentar seja pleno e que se faça mais presente na vida do indivíduo.
Uma mudança gradual é o mais recomendado, começar com o básico e respeitando cada passo, subindo um degrau de cada vez. Uma reeducação alimentar sem dietas restritivas é o caminho de sucesso para ter mais saúde e qualidade de vida
Questionada sobre os principais alimentos que possam estar contribuindo para o bem estar, Leila trouxe algumas dicas e explicou que a boa ingestão de alimentos pode ajudar a abandonar de vez o sedentarismo.
"Comida de verdade é o segredo! Comida limpa que vem da terra, uma comida anti-inflamatória, priorizando um bom prato colorido com arroz, feijão, legumes, frutas, verduras e folhosos. Quando você aumenta o consumo de água, passa a comer comida de verdade e praticar higiene do sono, o seu corpo agradece e passa a ter mais energia e disposição para vencer o sedentarismo", concluiu.
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