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CENÁRIO

8 de março: país é 3º colocado em número de mulheres na ciência

Avanço da presença feminina na produção de pesquisas enfrenta desafios como variação salarial e baixa representação em cargos de liderança

Por Priscila Dórea

08/03/2025 - 6:00 h
A estudante Juliana Pitanga,  Josiane Dantas, vice-reitora do Senai Cimatec, e a professora Valéria Loureiro
A estudante Juliana Pitanga, Josiane Dantas, vice-reitora do Senai Cimatec, e a professora Valéria Loureiro -

Os primeiros algoritmos para computadores, radioatividade, fralda descartável, Kevlar (fibra sintética usada em coletes a prova de balas), GPS, Wi-fi; levar o homem até a lua; como erradicar epidemias causadas por parasitas, sequenciar o genoma do coronavírus e até como, de forma sustentável, podemos tornar a água potável: tudo isso foi feito por mulheres. Ada, Marie, Marion, Stephanie, Gladys Mae, Hedy, Katherine, Maria José, Jaqueline, Nadia e tantas outras que têm seu papel diminuído ou apagado são a prova de que o lugar das mulheres é em todo lugar, – principalmente nas ciências.

O número de pesquisadoras com artigos científicos publicados no País cresceu 29% nos últimos 20 anos, e o Brasil agora ocupa o terceiro lugar em participação feminina na ciência, mostram dados mais recentes da Elsevier-Bori, empresa especializada na produção de conteúdo científico.

Física, professora e pesquisadora do Senai Cimatec, Valéria Loureiro da Silva, 61, se encantou pela matemática na infância e pela física no ensino médio. Na faculdade, a física básica no início do curso a fez desanimar um pouco. Até ela entrar na iniciação científica.

“No laboratório, desenvolvíamos lasers, e falávamos sobre fóton e luz. Eu acordava muito interessada, querendo estudar e aprender mais. Me apaixonei pela luz”, afirma a coordenadora do Centro de Competências Embrapii-Cimatec em Tecnologias Quânticas.

No laboratório que ajudou a criar, Valéria observa o número de mulheres crescer. “As principais lideranças no laboratório são mulheres: algumas entraram como estagiárias, outras como bolsistas recém-graduadas e estão crescendo profissionalmente. Isso é muito gratificante”, explica a docente, que tem notado o quanto o exemplo é essencial para que mais mulheres embarquem em áreas até então “dominadas” por homens.

“Percebi que é preciso ter mulher para atrair mais mulheres. Elas gostam de estar juntas, se sentem mais à vontade e seguras”, reflete.

Estudante do 9º semestre de engenharia química na Universidade Senai Cimatec, Juliana Pitanga, 23, já cursou disciplinas onde era a única mulher da turma. “Se compararmos com 50 anos atrás, com certeza se vê mais a presença feminina em espaços de ciências e de liderança. Existem cada vez mais projetos incentivando, premiações e discussões sobre mulheres na ciência. Porém, ainda temos muito a mudar”, diz Juliana, que pensa em fazer mestrado e doutorado na área depois de concluir a graduação.

Engenheira de materiais e doutora em Ciência e Engenharia de Materiais, Josiane Dantas, 43, é vice-reitora da Universidade Senai Cimatec e aponta que “várias iniciativas e políticas buscam corrigir essas distorções, evidenciando as contribuições femininas e incentivando a equidade de gênero em todas as áreas científicas”. Ela conta que, embora tenhamos avançado com mais mulheres ocupando posições de destaque e liderando pesquisas inovadoras, persistem desafios como a desigualdade salarial e a sub-representação em cargos de liderança que precisam ser superados.

“Ver um número cada vez maior de mulheres ingressando em áreas historicamente dominadas por homens é, para mim, uma fonte constante de inspiração, otimismo e gratidão pela evolução. Essa transformação não só representa a superação de barreiras de gênero, mas também enriquece esses campos com novas perspectivas, olhares inovadores, ideias criativas e uma diversidade de experiências que impulsionam o avanço científico e tecnológico”, afirma Josiane Dantas.

Poder das rede sociais

Nesse contexto, a internet tem sido uma aliada no reconhecimento da notoriedade feminina, aponta a consultora de Diversidade e Inclusão, Tainara Ferreira. Especialista em letramento racial e de gênero, Tainara é fundadora da Deiyi Desconstruir.

“Um exemplo é a Conceição Evaristo, que para nós, acadêmicos, sempre foi uma fonte de inspiração, mas sua popularidade se deu através da rede social com o avanço da pauta racial e de gênero pelo senso comum. A presença de mulheres na ciência precisa expandir e é por isso que temos que incentivar umas as outras a produzir intelectualmente e ser esse corpo no mundo”, afirma.

A produção de intelectualidade é uma aptidão nossa, “independente da área, e é por isso que se faz necessário esse estímulo desde a infância”, ressalta Tainara.

Um bom exemplo dos bons frutos disso é a medalhista de bronze na Olimpíada Nacional Feminina de Química (Quimeninas) em 2024, Maria Gabriela Libório Correia, 16. Estudante do Colégio da Polícia Militar da Bahia (CPM), ela sempre foi incentivada a estudar e explorar leituras em casa, sem se apegar a uma área em específico, mas sempre buscando dar seu melhor no que tinha interesse – no caso dela, química, geografia, história, português e artes.

“Gosto muito de química. Adoro desenhar e pintar, faço isso desde criança. Ano passado participei de olimpíadas de ciências e astronomia também. Faculdade? Penso em arquitetura, medicina, designer gráfico… Gosto de muitas coisas e me inspiro em muitas mulheres incríveis de áreas diversas, por isso acredito que o papel das mulheres no meio social e profissional é muito importante, pois ajudam as mais jovens a perceberem que podem escolher a profissão que quiserem, independente do que outros digam. E podem, inclusive, experimentar outras áreas em algum momento, desde que se sintam bem com isso”, explica Maria Gabriela, que tem muito em quem se inspirar dentro de casa.

Caçula da família Libório Correia, Maria Júlia, 14, é aluna do Colégio Estadual Abilio Cesar Borges e apaixonada por língua portuguesa, inglês e educação física, e conta que reflete muito sobre o que irá fazer no ensino superior. “Na minha opinião a gente tem que analisar como a gente trata a nossa vida, como nos comportamentos diante dela e então decidir o que queremos fazer”, afirma.

Já a filha mais velha Maria Helena, 18, que este ano entrou para o curso de psicologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), questiona: “Se homens e mulheres hoje recebem a mesma educação, por que não podem exercer o mesmo cargo e ter salários iguais?”.

Sonhar não têm idade

A luta é contínua, por isso mulheres que seguem com seus sonhos inspiram muito. “E isso vale para as mulheres mais jovens e para as mais velhas. Seguir seus sonhos não é questão de idade. Minha madrinha, por exemplo, se tornou psicanalista aos 60 anos, e está aí para provar que basta querer e ter oportunidade. As mulheres têm ganhado cada vez mais força e voz nas mais diversas áreas de conhecimento”, diz Maria Gabriela.

Matriarca da família, a bibliotecária e artista visual Lucileide Libório Correia sempre incentivou que as filhas estudassem o que lhes interessava. Hoje, as três Marias são o maior orgulho dela e do marido, Alan.

Programas estimulam inclusão e promoção da igualdade gênero

Cruciais na promoção da igualdade de gênero e no desenvolvimento de um futuro mais diverso e inclusivo, programas e projetos específicos têm sido essenciais para mostrar que o mundo da ciência pertence sim às mulheres.

Um desses projetos é o Meninas Baianas na Ciência. Criado em 2020, a ação faz parte do programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência, e tem como objetivo incentivar meninas estudantes de escolas públicas de Salvador e do interior da Bahia a conhecer cientistas, a apresentar carreiras nas áreas de ciências, tecnologia, engenharias e matemática (Stem, na sigla em inglês). Mais de 40 escolas estaduais e mais de 200 estudantes já participaram do projeto.

“O evento tem crescido ao longo dos anos. Temos cada vez mais participantes, e os impactos são reais. Os depoimentos que recebemos de alunas e professores desde os primeiros eventos são sempre cheios de esperança e gratidão. As meninas relatam conhecer uma realidade diferente daquela que imaginavam sobre o que é ser cientista e passam a enxergar a possibilidade de, um dia, tornarem-se professoras ou pesquisadoras”, explica a médica veterinária, doutora em patologia e pesquisadora na Fiocruz Bahia, Karine Araújo Damasceno, que, junto com as pesquisadoras Isadora Siqueira e Natália Tavares, coordena o projeto.

Cinco edições

O projeto já acumula cinco edições – uma em 2021, duas em 2022, uma em 2023 e outra em 2024 –, que renderam experiências distintas. A primeira (2021) aconteceu de forma online por causa da Covid-19; a terceira (2022) foi presencial e levou as estudantes para conhecer a Fiocruz e trocar experiências com as pesquisadoras da Fundação; em 2023, o projeto foi ao Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha (Santa Cruz Cabrália) e, em 2024, ao Centro de Convivência Cultural da comunidade quilombola de Tijuaçu (Senhor do Bonfim), com apoio do Colégio Estadual Teixeira de Freitas e da Escola Municipal de 1º Grau de Tijuaçu.

A edição de 2025 do Meninas Baianas na Ciência já está sendo discutida e mais informações vão ser divulgadas em breve. Fiquem atentas ao perfil @baianas_na_ciencia.

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