SALVADOR
Ansiedade generalizada avança 179% entre crianças e jovens na Bahia, em 10 anos
Excesso de telas, ausência dos pais e estresse diário, mesmo de crianças, são algumas das causas do fenômeno
Por Madson Souza
![Gêmeas Rebeca e Ruth precisaram de atendimento profissional](https://cdn.atarde.com.br/img/Artigo-Destaque/1300000/1200x720/Ansiedade-generalizada-avanca-179-entre-criancas-e0130645500202502072232-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F1300000%2FAnsiedade-generalizada-avanca-179-entre-criancas-e0130645500202502072232.jpg%3Fxid%3D6549507%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1739005266&xid=6549507)
A ansiedade generalizada cresceu 179% de 2014 para 2024 na população baiana de 10 a 14 anos de idade, conforme levantamento dos atendimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). Quando o público observado são os jovens dos 15 aos 19 anos, o salto é de 2.733% de 2014 para 2024. As gêmeas Rebeca e Ruth Sales, de 19 anos, são exemplos que já tiveram crises por decorrência da patologia, foram acompanhadas por profissionais e até medicadas. O crescimento dos casos preocupa especialistas da área da psicologia.
O aumento das ocorrências não é uma exclusividade da Bahia. Na faixa etária de 10 a 14 anos, os casos no país passaram de 1.850 em 2014 para 24,3 mil em 2024, enquanto entre os jovens de 15 a 19, as ocorrências subiram de 1.534 para 53.514 no mesmo período, respectivamente um crescimento de 2.500% e 3.388%. O psicoterapeuta Iarodi Bezerra, que costuma acompanhar pacientes dessa faixa etária, aponta que o excesso de telas, a ausência dos pais e o estresse da corrida diária mesmo de crianças são algumas das causas desse fenômeno.
Cada vez mais presente na vida moderna, as telas assumem uma posição de destaque devido aos prejuízos que o uso exagerado causa na saúde mental, emocional e na qualidade de vida, segundo a psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03), Clausivanhe Mano. “Esse uso excessivo contribui pro aumento da ansiedade porque a criança e o adolescente ficam mais tempo isolados, pelo excesso de notificações, que aumenta a sensação de urgência e pelo excesso de estímulos e luminosidade que traz uma sobrecarga cerebral que a criança ou adolescente ainda não consegue lidar”.
No caso de Rebeca, que é formada em tecnologia da informação e audiovisual, as redes sociais são um dos gatilhos causadores da ansiedade. “São muitos padrões nas redes sociais, muitas coisas, e bate um desespero de querer se encaixar naquilo”, comenta. Porém, é o medo do futuro que mais causa ansiedade na jovem, que hoje relata ficar menos ansiosa, mas que dos 16 aos 18 anos as ocorrências eram mais comuns.
Sinais
Os sinais começaram na pandemia com dores no peito, falta de ar, tremedeira e seguiram depois do momento pandêmico com o pânico de ficar em locais com muitas pessoas. Outros anseios surgiram com a proximidade do fim da escola. “Tinha medo do meu futuro, de quem eu seria, como conseguiria terminar a escola, a cobrança da profissão, o que fazer agora, salário, trabalho, me sentir atrasado”, conta.
Com o benefício do emprego, Rebeca começou a fazer terapia e depois seguiu para o atendimento online e afirma que isso a ajudou bastante. A psicóloga Clausivanhe reforça que a procura de auxílio médico e psicológico é fundamental para esclarecer dúvidas sobre ansiedade e ter um acompanhamento adequado.
Isolamento, taquicardia, mãos suando, preocupação em excesso com algo ou alguma situação, queda no rendimento escolar, irritabilidade, perda na concentração, dificuldade no aprendizado e na socialização, surgimento de medos, desregulação do apetite, xixi na cama e roer unhas, são indícios de ansiedade que podem ser observados em crianças e adolescentes.
Medo da rejeição, do fracasso, da solidão, de não ser bom o suficiente são traços de medo excessivo que surgem nos comportamentos de crianças e adolescentes ansiosos. No caso de Ruth Sales, a ansiedade começou aos 10 anos e com o passar do tempo ela começou a fazer terapia e tomar remédios, o que foi importante para uma melhora no seu quadro. “A terapia gera um conhecimento de si próprio que me ajudou a entender o que sentis sobre vários tipos de situação ou sobre quando me sentia vulnerável, porque não tinha um certo conhecimento”, explica.
A psicóloga reforça que para além do auxílio especializado, é preciso neste momento incentivar hábitos saudáveis como a prática de esportes e brincadeiras. O psicoterapeuta Iarodi aponta que mudança na rotina, melhora no ambiente ao redor da criança e nas relações familiares são cuidados importantes para crianças que sofrem de ansiedade.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Salvador informou que oferece tratamento de questões relacionadas à saúde mental em geral, com uma equipe diversificada nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e ambulatórios de saúde mental. Para ter acesso a esse atendimento é preciso consultar clínico geral, que identifique a necessidade de suporte do paciente com relação a saúde mental.
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