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MEDICINAL

Bahia é o 5º estado em pacientes que usam compostos da cannabis com fins medicinais

Mais de 30 mil baianos estão em tratamento com derivados da planta; preço é alto e procura só aumenta

Por Gabriel Vintina*

03/12/2024 - 6:00 h
Falta de regulamentação para o cultivo nacional ainda é o maior desafio
Falta de regulamentação para o cultivo nacional ainda é o maior desafio -

A Bahia se destaca como o quinto estado brasileiro com maior número de pacientes utilizando Cannabis para fins medicinais. Mais de 30 mil baianos estão em tratamento com derivados da planta, conforme dados do anuário da Kaya Mind.

No país, o cenário é ainda mais expressivo: 672 mil brasileiros fazem uso do tratamento, um aumento de 56% em relação a 2023.

Dor crônica e saúde mental são as principais condições tratadas, mas desafios como custos e burocracias ainda limitam o acesso.

A Associação para Pesquisa e Desenvolvimento da Cannabis Medicinal no Brasil (Cannab), sediada em Salvador desde 2017, é um pilar no apoio a esses pacientes.

"Nosso acolhimento é gratuito. Temos um núcleo de 12 médicos voluntários que atendem mais de 30 patologias", afirma Leandro Stelitano, presidente da entidade. A associação é referência no uso terapêutico da Cannabis no país e já assistiu mais de 3 mil famílias.

Principais compostos

A Cannabis Medicinal se divide em dois principais compostos: o tetra-hidrocanabinol (THC), com efeitos analgésicos e terapêuticos amplos; e o canabidiol (CBD), amplamente reconhecido por suas propriedades anti-inflamatórias e calmantes. Ambos têm aplicações comprovadas para doenças como epilepsia, Parkinson, Alzheimer e transtornos do espectro autista.

Rita de Cássia, bióloga e paciente da Cannab, relata como o óleo de CBD transformou sua vida. "Sofria com dores crônicas por hérnia de disco e estenose na lombar. O uso do CBD me ajudou a desmamar de opioides e retomou minha qualidade de vida", conta.

Outra história que ilustra o impacto do tratamento é a de Denise Andrade, mãe de Laura, uma criança de 8 anos diagnosticada com transtorno do espectro autista e epilepsia. Após diversas medicações que não reduziam as crises convulsivas da filha, Denise foi apresentada ao canabidiol por uma farmacêutica do CAPS. "Hoje, a qualidade de vida da minha filha é outra, e as crises diminuíram drasticamente", compartilha emocionada.

Alto custo

O mercado da Cannabis no Brasil movimentou R$ 852 milhões em 2024 e tem projeções de ultrapassar R$ 1 bilhão em 2025. Apesar do avanço, o alto custo do tratamento impede que ele alcance a maioria da população. Enquanto isso, 47% dos usuários dependem de produtos importados, mais acessíveis em termos de qualidade e preço.

"O maior desafio ainda é a falta de regulamentação para o cultivo nacional, que reduziria custos e ampliaria o acesso. Recentemente, o STJ autorizou o cultivo do cânhamo, uma espécie de Cannabis. É um avanço, mas ainda insuficiente para democratizar o tratamento", destaca Stelitano.

Para Rita, a luta por acessibilidade também passa pela justiça. "Consegui o fornecimento pelo plano de saúde após uma longa batalha judicial. Mas isso não deveria ser necessário. Muitos não têm plano ou condições financeiras para bancar o tratamento".

Em 2023, Salvador aprovou a lei 9.663/2023, que garante a distribuição de óleos de Cannabis pelo SUS. "Fizemos reuniões, buscamos informações, mas nos disseram que ninguém foi contemplado. É um descaso, enquanto outras cidades, como São Paulo, já avançaram", lamenta Rita.

Denise Andrade reforça a necessidade de políticas públicas mais inclusivas. "Salvador aprovou uma lei para distribuir o óleo pelo SUS, mas até hoje nada foi implementado. Muitas mães lutam para oferecer qualidade de vida aos filhos, mas esbarram em barreiras financeiras e administrativas", critica.

Procurada pela reportagem ontem à noite, a prefeitura informou que somente hoje poderia dar um retorno sobre o assunto.

Junto a este cenário, a produção nacional de medicamentos enfrenta restrições. A associação Abrace Esperança, por exemplo, tem autorização da Anvisa para produzir óleos, mas em concentrações limitadas. "Os produtos importados, com maior concentração de THC e CBD, são mais eficientes. Ainda assim, custam até R$ 800 por frasco, inviáveis para muitas famílias", explica Rita.

Preconceito

O preconceito em relação à Cannabis também é um obstáculo. "Já fui chamada de 'maconheira'. Isso acontece por desinformação. O THC medicinal não tem efeito recreativo; é uma substância manipulada para tratar doenças severas. Precisamos de mais campanhas educativas", ressalta a bióloga.

A senadora Mara Gabrilli é uma das vozes mais ativas no Congresso, com três projetos de lei em tramitação para ampliar o acesso à Cannabis medicinal. Em paralelo, eventos como a maior feira de Cannabis da América Latina, realizada em São Paulo em novembro, dão visibilidade ao tema.

O evento contou com palestras de especialistas, incluindo Stelitano, e apresentou inovações, como copos biodegradáveis de cânhamo e o primeiro baixo feito com fibras da planta. Esses avanços reforçam o potencial do Brasil para liderar o mercado global de Cannabis medicinal e industrial.

"O Brasil tem tudo para ser protagonista nesse mercado, mas precisa resolver as barreiras legislativas e o preconceito", avalia o presidente da Cannab.

Procura em alta

Na prática, iniciativas locais como a da associação baiana mostram o impacto positivo do tratamento. "Pacientes que antes dependiam de medicações pesadas e ineficazes agora relatam melhora significativa com o uso da Cannabis", comemora Stelitano.

Apesar das limitações, a procura por tratamentos alternativos segue em alta. O site PubMed registra mais de 30 mil estudos sobre os benefícios da Cannabis, indicando eficácia em patologias que vão desde epilepsias a transtornos de ansiedade.

A Bahia, com seus 30 mil pacientes, é um microcosmo dos desafios e avanços nacionais. Para Rita, a luta é coletiva. "A democratização desse tratamento não é um luxo, é uma necessidade. Precisamos pressionar as autoridades para que o acesso se torne uma realidade para todos".

*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre

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