Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > SALVADOR
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

SALVADOR

Bahia na vanguarda: projeto educacional revoluciona combate ao machismo

Projeto 'Oxe, Me respeite' chega a 290 escolas ampliando o debate dobre as desigualdades de gênero

Ana Cristina Pereira

Por Ana Cristina Pereira

01/09/2025 - 6:03 h
Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê
Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê -

A primeira vinda a Salvador da estudante Ialla Santos Bonfim Silva foi por uma razão muito especial. Moradora da cidade de Mucugê, na Chapada Diamantina, a adolescente de 16 anos foi uma das convidadas da 5ª Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia, que aconteceu quinta e sexta passadas, no Hotel Fiesta.

O evento encerrou as atividades da Campanha Agosto Lilás, uma mobilização nacional pelo fim da violência contra a mulher, e marcou a adesão do estado ao Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios.

Tudo sobre Salvador em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Entre autoridades, profissionais de várias áreas e representantes da sociedade civil, Ialla chegou tímidamente para falar de sua vivência no projeto Oxe, me Respeite nas Escolas.

“Estou um pouco nervosa”, disse a garota, que relatou como a iniciativa está mexendo com percepções de alunos e professores do Colégio Estadual de Tempo Integral de Mucugê, e até mesmo de suas famílias. “As discussões sobre corpo feminino, violências, papel da mulher na sociedade e sexualidade dividem muito as opiniões”, refletiu.

Em uma das oficinas do projeto, um colega disse que não aceitaria ter um filho gay ou uma ou filha lésbica.

“Nós argumentamos que o que importa é a pessoa ser um cidadão de bem e ele acabou pedindo desculpas. Também foi preciso combater visões estereotipadas e recorrentes sobre a mulher - seja como doméstica ou objeto sexual. Já as posições machistas de um professor do colégio ditas em um vídeo repercutiram tanto, que ele acabou pedindo demissão”, contou.

Apesar da resistência de muitos meninos e até mesmo de algumas meninas, Ialla acredita que o projeto pode ajudar, de várias maneiras, a promover transformações futuras. “Pode ajudar a melhorar as relações entre homens e mulheres, com mais respeito e menos machismo”, espera.

Educação anti-sexista

A participação da garota busca amplificar o alcance do projeto Oxe, Me respeite nas Escolas, que está acontecendo em 290 unidades de 150 municípios baianos.

A iniciativa, que segue até 2026, tem na linha de frente as secretarias estaduais de Educação (SEC) e de Política para as Mulheres (SPM), foi elaborada com participação de educadores da Faculdade de Educação e do Bacharelado de Gênero e Diversidade da Ufba e conta com apoio do Fundo de Populações da Nações Unidas (UNFPA), agência da ONU que trata de questões ligadas à diversidade de gênero e sexualidade.

Através de um edital lançado no ano passado, o projeto expandiu uma ideia que nasceu no âmbito da educação, acabou sendo levada para grandes festas populares como São João e o Carnaval, mas que retorna a seu foco em torno de uma educação não sexistista, que possa aprofundar o debate sobre gênero, preconceitos e violências.

Assessora técnica da Coordenação de Educação Antirracista, Relações Étnico-Raciais, Direitos Humanos e Diversidade da SEC, Larissa Ferreira explica que a metodologia fugiu do formato das palestras tradicionas, na tentativa de engajar jovens e educadores.

Em cada escola são realizadas cinco oficinas, durante 3 meses, com introdução aos estudos de gênero e raça, desigualdade de gênero e novas masculinidades, educação sexual e direitos sexuais reprodutivos, discurso de ódio e segurança digital e sobre a rede legal de proteção às vítimas, como conselhos tutelares e unidades de saúde.

“Na oficina sobre novas masculinidades, por exemplo, os meninos são provocados a falar como o machismo também os afeta, para se afastar destes modelos em que eles não podem demonstrar afeto, fragilidades ou chorar”, exemplifica Larissa.

Outros pontos importantes foram a capacitação dos professores que conduzem as oficinas – de teatro, podcasts e vídeos, entre outras – envolvimento de líderes de turma e a realização de um questionário sobre a percepção da violência contra a mulher na comunidade escolar.

Segundo Larissa, o questionário voltará a ser aplicado após o final das oficinas, para fornecer dados para avaliação dos impactos da iniciativa. E quando o projeto terminar, será formado um comitê de empoderamento e enfrentamento ao machismo na escola, para continuar as atividades. Outra promessa é um festival em cada território, uma tentativa de envolver as famílias e outras pessoas fora da escola em torno dos projetos desenvolvidos.

Dados e impactos

Uma das responsáveis pela elaboração do Oxe, Me Respeite nas Escolas, a professora Maise Zucco, do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade, explica que uma das preocupações foi garantir que o projeto levantasse os principais problemas de cada escola e avaliasse o impacto das ações junto à comunidade escolar. “Para não cair no erro de outras políticas públicas na área de diversidade. A gente sabe, por exemplo, que a população LGBTQIA+ evade muito da escola, mas não temos dados sobre isso”, ilustra.

Para a educadora, é preciso pensar nas diferentes formas de opressão, ampliando o leque das questões de gênero para o racismo e a LGBTfobia, as vezes encaradas apenas como bullying. “Precisamos entender que é uma série de opressões, que elas são articuladas e

não adianta focar só na questão do comportamento violento masculino”, afirma Maise, citando outros componentes importantes, como o peso da religião e as experiências familiares. “Não é uma receita de bolo, cada escola vai demandar um atendimento muito específico”, diz.

Francileide Araújo, que atua como coordenadora da Prevenção em Gênero da SPM, avalia que a recepção ao projeto tem sido boa, apesar das resistências.

“A gente ainda tem uma falácia muito grande em volta da educação sexual com essa ideia de que ela vai iniciar a vida sexual, quando a gente está trabalhando com sentimento, saúde, limites, numa perspectiva interseccional e que envolva as meninas e os meninos no debate”.

Dados

Segundo Francileide, um dos dados levantados nessa primeira fase do projeto, mostra que, dos mil estudantes envolvidos nesses últimos três meses, 32% já presenciaram alguma situação de violência de gênero e 13% já foram vítimas de uma violência de gênero.

“A expectativa é que quando a gente passar novamente esse formulário, aumente a percepção sobre a violência, porque eles vão estar mais conscientes, já vão saber nomear o que sofrem”, pontua.

Ela lembra que tinha uma campanha anterior na SPM que se chamava masculinidade tóxica e que não tinha aceitação dos meninos.

“Porque você chegava basicamente acusando eles. Então, a gente discute essa nova masculinidade pensando no papel dos meninos no enfrentamento ao machismo, mas também como preservar a saúde e mostrar que eles têm direito a uma infância também, porque quando a gente fala da divisão sexual do trabalho, os meninos também são colocados em caixinhas, assim como as meninas”.

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

Bahia Educação feminismo

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê
Play

Imperdível! Saiba como viajar para o espaço sem sair de Salvador

Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê
Play

Ferro-Velho: empresário acusado passa por audiência de custódia; veja vídeo

Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê
Play

Dono de imóvel que pegou fogo em Salvador desabafa: "Destruiu tudo"

Ialla Santos Bonfim Silva, aluna Colégio Estadual de Mucugê
Play

Incêndio de grandes proporções destrói casa na Fazenda Grande do Retiro

x