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OCUPAÇÃO

Bares podem ocupar calçadas? O que se sabe até agora

MP prioriza mobilidade social, mas existe choque com interesses econômicos

Por Gabriel Vintina*

07/11/2024 - 6:00 h
Semop alega que muitos bares, em especial na região da Saúde, possuem licença para funcionar nas calçadas
Semop alega que muitos bares, em especial na região da Saúde, possuem licença para funcionar nas calçadas -

A recente recomendação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), para que a Prefeitura de Salvador organize um plano contínuo de fiscalização para o uso de calçadas por bares e restaurantes, suscitou um debate acirrado sobre a utilização do espaço público. A advertência, anunciada no dia 14 de outubro, prevê a remoção de mesas, cadeiras e barracas das calçadas em bairros como Saúde, Ribeira e outros pontos populares da cidade, sob justificativa de garantir a mobilidade urbana e a segurança dos pedestres.

A recomendação, com prazo de 60 dias para que o município apresente o plano, levanta questionamentos legais, econômicos e sociais. Do ponto de vista do MP, o direito à mobilidade precisa ser assegurado, especialmente em áreas onde as calçadas se tornaram verdadeiros pontos de encontro, atraindo grande fluxo de pessoas. Do lado dos comerciantes, as mesas e cadeiras são essenciais para a garantia do movimento em seus estabelecimentos.

De acordo com Alysson Carvalho, diretor-geral de Serviços Públicos da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), a recomendação do MP não implica uma proibição absoluta da presença de mesas e cadeiras nas vias públicas. “É possível, sim, que bares e restaurantes utilizem calçadas, desde que estejam dentro dos critérios técnicos estabelecidos pelo decreto municipal 12.015 de 1998”, afirmou Carvalho.

Em nota, o MP informa que “a recomendação, de autoria das promotoras de Justiça Cristina Seixas Graça e Alice Alessandra Ataide Jácome, teve por base procedimentos que tramitam na 4ª e 5ª Promotorias de Justiça de Meio Ambiente e Habitação e Urbanismo da Capital e que tratam de denúncias apresentadas pela sociedade sobre graves problemas de mobilidade urbana, que são verificados em diversos bairros de Salvador”.

Licença administrativa

Segundo o diretor, muitos dos bares notificados, especialmente na região do bairro da Saúde, já possuem autorização para uso do espaço público, mediante um processo administrativo de licenciamento. "O que a Semop busca fazer é garantir o cumprimento desse decreto, que permite a utilização de mesas e cadeiras nas calçadas desde que respeitados certos critérios, como distanciamento seguro de esquinas e hospitais, além de evitar a obstrução de vias que comprometam a circulação de pedestres", afirma Carvalho.

Alysson explica que o bairro da Saúde tem um histórico de ocupação de vias públicas para fins de lazer, atraindo moradores e visitantes para bares locais. "O bairro se transformou em um ponto de encontro, especialmente no fim da tarde, o que torna essa ocupação mais sensível para moradores que buscam preservar a tranquilidade e a mobilidade nas calçadas", justifica.

Para muitos comerciantes, a decisão pode ter impactos negativos no setor. Leandro Menezes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) na Bahia, vê a medida como algo que precisa de um debate mais amplo. “Não estamos falando só da conveniência do cliente. A questão é de viabilidade econômica para muitos negócios que dependem do uso das calçadas”, argumentou Menezes.

‘Atualizar normas’

Segundo o presidente, a associação foi pega de surpresa pela recomendação do MP-BA. Ele defende um diálogo com a prefeitura e o MP para atualizar as normas e buscar uma convivência harmoniosa entre os diferentes interesses. "O Ministério Público poderia ter dialogado com os setores antes de emitir essa recomendação. Entendemos que o caminho mais assertivo agora é promover um amplo debate com a sociedade, envolvendo o Ministério Público, as secretarias municipais e representantes dos moradores para avançar na nossa legislação”, explica.

O objetivo do debate, segundo Menezes, seria um denominador comum entre a mobilidade dos transeuntes e a necessidade dos bares e restaurantes. “Precisamos garantir uma ocupação que não atrapalhe a fluidez do tráfego, mas que também permita aos bares e restaurantes, além de comercializarem seus produtos, contribuírem para a ocupação das ruas e, consequentemente, para a melhoria da segurança. Os bares movimentam as áreas, atraem pessoas, e onde há movimento há mais segurança", explica Menezes.

‘Abordagem técnica’

A questão da segurança tem sido bastante associada à possível retirada de mesas e cadeiras. Assim como Leandro, Richard Wagner, proprietário do Bar Tamo Junto Botequim, que está na lista do MP, compartilha sua preocupação. “Apesar de estarmos na lista, fomos notificados sobre o som alto. Temos autorização da prefeitura para colocar mesas e cadeiras na calçada. Essa movimentação é o que mantém a vida no bairro e traz segurança para as pessoas que querem um ambiente de lazer”.

Para Wagner, a Saúde se tornou um refúgio seguro para quem busca diversão em Salvador. “A presença de pessoas nos bares com mesas na calçada torna a região mais segura e acolhedora”, defende, pontuando que a retirada das mesas poderia impactar negativamente a economia e a segurança do bairro.

A Semop e a Abrasel-BA concordam sobre as transformações no espaço urbano e o aumento no número de estabelecimentos e frequentadores. Menezes reforça que a ocupação responsável das calçadas, com áreas delimitadas para mesas e cadeiras, é um atrativo para o bairro da Saúde e outros locais populares. “Estamos falando de uma questão que vai além da conveniência; é uma necessidade econômica”.

Alysson Carvalho assegura que a Semop se empenha para equilibrar esses interesses. "Queremos preservar as atividades econômicas, respeitando os limites estabelecidos, sem comprometer o direito dos cidadãos ao uso dos espaços públicos." Ele sustenta que as fiscalizações seguirão uma abordagem técnica e cita o exemplo da Ribeira, onde mesas e cadeiras foram removidas após a pandemia, restabelecendo o uso do espaço para atividades recreativas.

"Estamos mantendo esse diálogo aberto e orientando todos sobre os procedimentos necessários para regularizar suas atividades dentro da lei. Com isso, esperamos reduzir ao máximo os conflitos e manter a ordem pública", conclui.

*Sob a supervisão da editora Isabel Villela

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Tags:

bares Cadeiras calçadas Ministério Público da Bahia prefeitura de salvador

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