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SEGURANÇA ALIMENTAR

Bolsa Família reduziu em até 65% número de mortes por tuberculose no Brasil

Estudo revela impactos do programa no direito à saúde pública e doença vinculada à pobreza

Por Gabriel Vintina*

08/01/2025 - 6:20 h
Sintomas da doença incluem falta de ar e presença de tosse persistente; diagnóstico precoce facilita tratamento
Sintomas da doença incluem falta de ar e presença de tosse persistente; diagnóstico precoce facilita tratamento -

O Programa Bolsa Família, criado em 2003, sempre foi reconhecido como uma ferramenta importante de combate à pobreza, mas um estudo publicado na revista Nature Medicine revelou um benefício adicional: a redução de casos e mortes por tuberculose. Conduzido por instituições renomadas, como o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Cidacs/Fiocruz, o estudo analisou mais de 54 milhões de brasileiros entre 2004 e 2015.

Os resultados indicam uma queda de 41% na incidência e 31% na mortalidade por tuberculose entre beneficiários do programa. Esses dados reforçam que políticas de transferência de renda podem ter impactos diretos na saúde pública, ajudando a mitigar os efeitos de doenças associadas à pobreza.

Barreira à desnutrição

Segundo Priscila Gestal, pesquisadora do ISC/UFBA e uma das autoras do estudo, o Bolsa Família atua como uma barreira à insegurança alimentar e à desnutrição, fatores críticos para o desenvolvimento de doenças infecciosas. “As famílias passaram a buscar mais serviços de saúde, e isso foi crucial para o diagnóstico precoce de doenças como a tuberculose”, acrescentou Gestal.

Populações vulneráveis, como indígenas, pretos e pardos, foram as mais beneficiadas pelo programa. Entre indígenas, por exemplo, houve uma redução de 63% na incidência e 65% na mortalidade. Já entre pessoas em situação de extrema pobreza, os números apontam uma diminuição de 51% nos novos casos e 40% nas mortes.

Embora os avanços no combate à tuberculose sejam notáveis, a doença ainda representa um desafio significativo para a saúde pública no Brasil. Segundo dados do SINAN/COSET/DIVEP, entre 2014 e 2024, o número de casos novos caiu de 4.824 para 4.242 na Bahia, representando uma redução média anual de 1,7%. No entanto, o índice de cura, que é de apenas 57%, ainda está aquém da meta de 85% estipulada pelo Ministério da Saúde. No estado, 2.488.373 famílias são atendidas pelo Bolsa Família.

Em Salvador, o Centro de Saúde Ramiro de Azevedo atua como referência no diagnóstico e tratamento da doença. Já casos mais graves são encaminhados para o Hospital Especializado Otávio Mangabeira, no bairro do Pau Miúdo e a Fundação José Silveira, a partir do Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT).

O tratamento

O médico epidemiologista Eduardo Martins Netto, coordenador do Centro de Pesquisa, Aprendizagem e Inovação da Fundação José Silveira, destaca que um dos principais desafios é garantir que os pacientes completem o tratamento, que dura, em média, seis meses. “Muitos abandonam a medicação quando começam a sentir melhora, o que contribui para a resistência bacteriana e dificulta o controle da doença”, alerta.

Além disso, a tuberculose é mais prevalente em grupos com maiores desafios socioeconômicos, como aqueles que vivem em situação de rua. Nessas condições, a coinfecção representa um agravante, tornando o tratamento mais complexo e demorado. “A integração entre programas sociais e ações de saúde é fundamental para enfrentar esses desafios”, acrescenta Eduardo Martins

A trajetória de pacientes que enfrentam a tuberculose revela a complexidade do tratamento e a importância de políticas públicas eficazes. Um homem de 38 anos, que está em tratamento no Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT), compartilhou sua experiência. Após sentir falta de ar e apresentar tosse persistente, procurou atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e foi encaminhado ao IBIT.

“Quando fui diagnosticado, já estava em um estado avançado. Se tivesse buscado ajuda antes, teria evitado muito sofrimento”, relata. Ele começou o tratamento em novembro e já percebeu melhoras significativas. No entanto, admite que a rotina de medicação é desafiadora. “Os médicos me orientam a não interromper o tratamento, mesmo me sentindo melhor, e isso tem feito toda a diferença”, destaca o paciente que prefere não se identificar.

Fatores predominantes

A experiência do paciente reforça a importância de campanhas educativas sobre os sintomas da tuberculose, que incluem tosse persistente, febre, suor noturno e perda de peso. A detecção precoce é essencial para evitar complicações e reduzir a transmissão da doença.

Organizações como o IBIT desempenham um papel fundamental ao oferecer suporte integral aos pacientes. Além do tratamento médico, são realizadas ações educativas e de assistência social, garantindo que as necessidades básicas dos pacientes sejam atendidas.

Os resultados do estudo sobre o Bolsa Família trazem lições valiosas para o futuro do combate à tuberculose no Brasil. A integração entre políticas sociais e ações de saúde pública é uma estratégia eficaz para reduzir os impactos da doença em populações vulneráveis. Priscila Gestal, uma das autoras do estudo, enfatiza que programas de transferência de renda podem ser vistos como ferramentas de saúde pública. “A pobreza e a insegurança alimentar são fatores determinantes para o desenvolvimento de doenças como a tuberculose. Investir em políticas sociais é investir na saúde da população”, afirma.

O Brasil também pode se beneficiar de experiências internacionais. Países como Índia e Indonésia, que enfrentam altas taxas de tuberculose, têm investido em programas integrados de saúde e proteção social, com resultados promissores. Esses exemplos mostram que o combate à tuberculose exige um esforço coletivo e interdisciplinar.

*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre

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Tags:

Bolsa Família brasil Mortes tuberculose

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