CAJAZEIRA 10
Caminhão baú ‘carrega’ histórias
Iniciativa é promovida pelo Ministério da Cultura
Por Gabriel Vintina*
No coração do bairro de Cajazeiras 10, em Salvador, um projeto itinerante tem atraído a atenção de moradores e escolas locais. O caminhão-baú "Caminho de Histórias – A Casa que Anda", inspirado na obra infantojuvenil de Clarice Lispector, chegou ao Campo da Pronaica, oferecendo uma série de atividades culturais e educativas para a comunidade. A iniciativa, que busca democratizar o acesso à cultura, é promovida pelo Ministério da Cultura através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), com o apoio da Prefeitura de Salvador e da Fundação Gregório de Mattos (FGM), enquanto o projeto estiver na cidade.
Recém-chegado de Minas Gerais, o projeto, que ficará em Cajazeiras até amanhã, 20 de outubro, transformou o caminhão em um espaço de interação, onde crianças, jovens e adultos podem participar de oficinas de arte, rodas de leitura e experiências sensoriais ligadas à obra de Lispector. "A proposta é criar uma imersão literária que expanda os horizontes dos leitores", destaca Jane Palma, gerente de biblioteca e leitura da FGM. Segundo ela, o projeto revela um lado pouco explorado da autora. "Clarice é mais conhecida por suas obras adultas, mas sua literatura infantil é igualmente rica e instigante."
‘Amor pelos livros’
A movimentação em torno do caminhão foi intensa no primeiro dia, com moradores e escolas, como a Escola Municipal de Nova Sussuarana, comparecendo em peso. "Essa é uma oportunidade única para nossos alunos. Vivenciar a literatura de forma prática, em um espaço que reproduz a sala da casa de Clarice, é como plantar uma semente de curiosidade e amor pelos livros", afirmou Maísa Souza Queiroz, diretora da escola. Para muitos alunos, essa foi a primeira experiência com a obra infantojuvenil da escritora.
Pietro Conhago, de 16 anos, morador de Cajazeiras, compartilhou sua empolgação com o projeto. "É difícil falar o quanto isso é importante. Sou muito envolvido com a leitura desde os 12 anos, e iniciativas assim ajudam a ampliar nosso repertório. Clarice explora o imaginário e o fantasioso, o que é fundamental, principalmente num mundo tão complicado como o de hoje." Ele destacou ainda o impacto de ver a réplica da casa de Lispector, com objetos e fotos que aproximam os visitantes de sua vida pessoal.
Ariele Pergentino, de 18 anos, também moradora de Cajazeiras, vê no projeto uma oportunidade de aproximação dos jovens com a literatura. "Sem leitura e educação, não conquistamos nada na vida. É essencial abrir essas portas. Esse contato com autores como Clarice, ainda mais em um espaço tão interativo, desperta a imaginação e o conhecimento." Para ela, o projeto também pode ser útil para os estudos. "Se algum livro da Clarice cair no Enem, por exemplo, já estaremos preparados", conta.
Quem também frequenta o projeto itinerante é a técnica de enfermagem Vanessa Abbude, de 39 anos, que levava seu filho, o pequeno Zyan Abbude, de apenas dois anos, para aproveitar as atividades. Vanessa destacou a importância de promover o contato físico com os livros em um mundo cada vez mais digital. "Hoje em dia, a internet toma muito espaço, e as crianças acabam perdendo esse contato mágico com o livro. Quero que meus filhos cresçam valorizando a leitura, assim como minha outra filha, de 15 anos, que já é apaixonada pelos livros", afirma Vanessa.
Produção local
O projeto "Caminho de Histórias", em Salvador, ganha também uma outra perspectiva, indo além da leitura de Clarice Lispector. Além do contato com as obras da autora, o público pode levar para casa livros do selo literário João Ubaldo, que reúne autores soteropolitanos premiados.
Criado pela Fundação Gregório de Mattos, o selo é concedido por meio de edital da FGM, que abre a cada dois anos. O próximo está previsto para o dia 23 de janeiro. Os vencedores, além de receberem uma premiação em dinheiro, têm suas obras publicadas e distribuídas pela FGM ao longo de um ano. Entre os destaques estão capas exclusivas feitas por artistas renomados, como Bel Borba e Juarez Paraíso, que transformam cada livro em uma verdadeira obra de arte.
"Essa é uma forma de valorizar e difundir a produção literária soteropolitana, especialmente entre os mais jovens", comenta Jane Palma, que acredita que o caminhão-baú é uma ferramenta poderosa para fomentar o hábito da leitura em comunidades com acesso restrito a livros.
O projeto “Caminhão de Histórias”, que segue até domingo, com programação diária das 10h às 17h, em seguida, o caminhão-baú continuará sua jornada por outras regiões do Brasil, incluindo cidades como Goiânia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo.
*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
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