SALVADOR
Chip da beleza: proibição afeta terapias? Especialistas respondem
Hormônios podem continuar sendo consumidos por meio de alternativas seguras disponíveis
Por Madson Souza
Em um primeiro momento, a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de suspender o uso dos implantes hormonais manipulados - conhecidos de forma errônea como ‘chip da beleza’ - pode ter preocupado pacientes. Mas conforme profissionais da área da saúde não há motivo para desespero, já que a proibição é para a forma farmacêutica dos implantes. Os ativos, ou seja, os hormônios podem continuar sendo consumidos por meio de outras alternativas seguras. A recomendação é que o paciente entre em contato com seu médico para definir a melhor opção de tratamento.
A aplicação oral, ou strip - um pequeno papel é posto na boca e rapidamente dissolvido -, e através de gel transdérmico, são algumas formas de manutenção do consumo de hormônios apresentadas pela fundadora e diretora da Singular Pharma, Edza Brasil. Ou seja, são alternativas seguras para quem usava o implante hormonal manipulado não ficar desassistido de sua medicação.
“Tem que ir para o seu médico e pedir para ele colocar em outra forma farmacêutica. A pessoa não pode ficar sem o tratamento, porque com certeza será um malefício principalmente para as mulheres que fazem reposição de hormônio e as que fazem tratamento da endometriose”, indica Edza Brasil.
Riscos do uso estético
Vale ressaltar que os implantes hormonais são uma forma válida de medicação. A decisão da Anvisa foi tomada por conta do uso inadequado - muitas vezes por fins estéticos - que vinha sendo feito. Muitos desses implantes possuem como base substâncias que não foram testadas cientificamente para serem usadas dessa forma. Mesmo as que têm uso comprovado - como testosterona e estrogênio - passaram a ser indicadas por médicos e usadas por pacientes em quantidades inadequadas.
“E aí você tem os efeitos estéticos, não tem nenhuma dúvida. Testosterona, em dose farmacológica, em dose suprafisiológica aumenta a massa magra, diminui gordura, mas aumenta em três vezes o risco relativo de infarto, de AVC e de trombose”, argumenta o diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Fábio Moura.
A função dos implantes hormonais não é estética, mas sim servir como uma reposição hormonal, explica Edza. “É algo com comprovação científica para o tratamento da endometriose, adenomiose e de várias outras patologias, mas não com fim estético. O risco só existe quando está sendo usado de forma equivocada”, aponta.
Especialistas indicam que a decisão tomada pela Anvisa deve ser temporária. Durar apenas o tempo necessário para que a Agência desenvolva uma forma de regular os implantes. A Anvisa não se manifestou até o fechamento deste conteúdo.
Um caso de vítima do uso inadequado é o de Gisele Gomes (nome fictício, pois a fonte preferiu não se identificar). Com sentimento de indisposição, forte calor e secura vaginal, ela recebeu indicação de sua médica para utilizar o implante hormonal. O que era uma esperança de melhora, trouxe uma série de novos sintomas. “Sentia dores nos meus seios, nascia pelos nos meus braços, minha voz ficava mais grossa de repente, comecei a sangrar muito, não conseguia andar direito, tinha uma pressão na minha região pélvica. Tomei um remédio que ela indicou pra melhorar disso e fiquei com anemia profunda”, conta. Após tudo isso Gisele procurou outra médica para tratar da anemia e agora se prepara para discutir outras formas de reposição hormonal com outro médico. “Acho ótima essa decisão da Anvisa. Importante para evitar que mais mulheres caiam nesse golpe”, diz.
O presidente da comissão nacional de ginecologia endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), José Maria Soares, reforça que a medida não afeta os implantes hormonais registrados na Anvisa e que existem outras alternativas para quem precisa. “Com uma conversa com o médico, você pode encontrar uma alternativa”, afirma.
Medida temporária
’“Essa é uma medida temporária, não tenho dúvida nenhuma. A Anvisa vai rever essa decisão em algum momento e liberar o uso de implantes hormonais. A via do implante possui respaldo científico sim para ser usada”, opina o diretor do SBEM, Fábio Moura. Ele aponta que a questão é o modo como isso está sendo feito hoje.
“O que vai acontecer é uma readequação para o tamanho real do mercado.”
Entre 2019 e 2023, as farmácias de manipulação tiveram um faturamento de 17,1%, o que equivale a R$11,3 bilhões, conforme dados da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag). A Associação preferiu não se manifestar sobre a decisão da Anvisa.
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