CANTINA DA LUA
Clarindo Silva lidera defesa da revitalização do Centro Histórico
O protesto aconteceu um mês após a morte da turista Giulia Panchoni Righetto
Por Amanda Sousa, Lucas Vieira e Jaísa de Almeida

Uma manifestação liderada pelo escritor Clarindo Silva, propritetário do restaurante Cantina da Lua, no Centro Histórico de Salvador, aconteceu, ontem, em frente à Igreja de São Francisco, no Pelourinho. O ato chamou a atenção para a necessidade de revitalização da área, que abriga prédios históricos.
O protesto aconteceu um mês após a morte da turista Giulia Panchoni Righetto, atingida pelo desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais pontos turísticos da cidade. A manifestação também prestou uma homenagem à vítima, com a colocação de uma coroa de flores em frente à igreja.
“No dia último dia 12 de fevereiro, nos reunimos aqui para cobrar providências às autoridades. A morte dessa menina (Giulia Panchoni Righetto) é um grito de alerta não só para o Centro Histórico, mas para toda a humanidade, justamente por se tratar de um patrimônio da humanidade”, afirmou Clarindo Silva.
“Não dá para entender que o Centro Histórico, que vai fazer 40 anos de tombado, esteja nesse estado. Não podemos continuar com essa situação e, por isso, nos unimos à força dessa menina Giulia para dizer que queremos esse centro histórico revitalizado”, acrescentou.
A reclamação reuniu comerciantes, moradores e trabalhadores, que relataram dificuldades após o incidente. Leonardo Régis, presidente da Associação do Centro Histórico, apontou os impactos enfrentados por lojistas e autônomos.
“A gente clama pela retomada normal da nossa cultura, dos nossos empreendimentos, para que o comércio e os artistas locais voltem à normalidade”, disse.
Régis ainda ressaltou que, apesar do empenho do poder público, a tragédia poderia ter sido evitada. “O que aconteceu aqui não poderia ter acontecido jamais, ainda mais com uma vítima fatal. A gente torce para que, daqui por diante, o poder público olhe com mais carinho para o Centro Histórico”, falou.
Apesar da tragédia que impactou os empreendimentos da região, Régis explicou que há também sinais de recuperação.
“Em termos de número, traz impacto, apesar de que a gente não pode tratar isso por conta de uma vítima que se deixou aqui, mas a gente percebeu uma movimentação de retomada do Centro Histórico”.
Ele ainda pontuou que, enquanto alguns setores sentiram os efeitos da queda no movimento, outros conseguiram manter o crescimento. Rivanete Rodrigues, presidente do Sindicato dos Guias de Turismo da Bahia, expressou a angústia dos 400 profissionais que trabalham no Centro Histórico diariamente, que estão expostos ao risco das estruturas em estado degradante.
“Não é só o turista, mas os guias, os trabalhadores, os soteropolitanos que andam aqui também correm risco com esse patrimônio que precisa de cuidado. O nosso propósito é alertar os órgãos responsáveis e buscar o apoio da população para isso. A nossa vida está sendo colocada em risco diariamente”, disse a presidente.
Félix Ferreira, guia de turismo e morador do Centro Histórico há 56 anos, também compartilhou sua tristeza com o estado atual da região. “É muito triste ver hoje esse lugar entrando em decadência, caindo cada vez mais. O poder público não preserva o patrimônio. São grandes prédios que se perderam, e outros estão aí para acontecer a mesma coisa”, desabafou.
A guia Ana Lavigne contou que criou um abaixo-assinado para “apertar” os órgãos competentes, como Iphan, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e o Ministério da Cultura, para que tomem providências “antes que mais desastres aconteçam”.
“Já temos 900 assinaturas, mas queremos pelo menos 2 mil para mostrar nossa indignação”, disse Ana. “Já se passou um mês e meio e nada foi feito. Nem os escombros foram retirados. Isso é um descaso total”.
Sob a supervisão da editora Kenna Martins
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