SALVADOR
Concorda? Governo orienta uso de telas por crianças e adolescentes
Exposição pode causar danos diversos
Por Madson Souza
É por meio de limitações e monitoramento constante que a empreendedora e mãe Carine Bastos regula o acesso de seus filhos às telas - tv, tablet, celular e computador. Os riscos à segurança dos pequenos e o prejuízo cognitivo pelo uso excessivo desses dispositivos são os motivos para tamanha supervisão. De olho nessa questão, o Governo Federal planeja lançar em outubro o “Guia de Uso de Telas e Dispositivos Digitais por Crianças e Adolescentes”, que recebeu 602 contribuições na consulta pública sobre uso de telas por jovens realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM-PR).
Na casa de Carine existe uma série de regras para o uso das telas por seu filho Lucas Daniel Barros, de 11 anos, e sua filha Luísa Mel Barros, de 5. “Pego o celular do Lucas todos os dias para verificar o Whatsapp, o que ele vem jogando, além disso durante a semana não tem acesso ao celular, só na sexta, às 18h depois que fez as atividades da escola. Já a pequena usa meu celular, mas limito tudo que ela pode assistir. O Tik Tok me preocupa muito, porque você acha que a criança está vendo algo e quando olha já é outra coisa, por isso, fico ligada, ouvido atento”, conta Carine. Ela também afirma que busca apresentar sempre outras opções de atividades para os filhos.
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A ideia é que o Guia organizado pela Secom oriente familiares e profissionais do País que trabalham próximos a crianças e adolescentes sobre as ferramentas para lidar com essa questão tão complexa. Distúrbios de atenção, miopia, problemas no sono, ampliação dos riscos de abuso, ameaças à privacidade e ao uso de dados pessoais infantis, risco de desenvolvimento de vício, foram alguns dos problemas denunciados à Secom por conta do uso excessivo ou inadequado de dispositivos eletrônicos. Os apontamentos foram feitos por sociedades científicas, entidades de proteção dos direitos das crianças e adolescentes, associações de pais e outras organizações.
“É um documento que vai trazer recomendações baseadas em evidências científicas e nas melhores práticas internacionais sobre o uso de telas por crianças e adolescentes. A ideia é apresentar um estado da arte sobre essa discussão sobre o uso consciente de telas por crianças e adolescentes e depois desdobrar esse trabalho para outros tipos de materiais e públicos específicos”, explica o diretor de Direitos na Rede e Educação Midiática da SECOM/PR, Fábio Meirelles.
A consulta pública é um elemento importante por conta da complexidade do tema. Entre pais, educadores, especialistas e organizações sociais, as contribuições aconteceram entre os meses de outubro de 2023 e janeiro de 2024 através da plataforma Participa + Brasil. O Guia está sendo desenvolvido por um Grupo de Trabalho coordenado pela SECOM, e tem representação de sete Ministérios e 19 membros da sociedade civil, academia e entidades com reconhecida atuação no tema, conforme nota da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
Falta de limite
A psicóloga e coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da clínica Holiste, Luana Dantas, conta que costuma acompanhar muitos pais que têm filhos com problemas com telas e que não sabem o que fazer. “Os pais chegam muitas vezes aqui no consultório bem atordoados, se questionando como transmitir um limite para os filhos. E no caso das crianças está muito ligado à falta de limite que os pais têm dificuldade de exercer. Com relação aos adolescentes, a gente já vê as consequências desse uso equivocado”.
Os sintomas de uma relação não saudável entre telas e crianças e adolescentes aparece de formas diferentes em cada pessoa, mas Luana aponta que a dificuldade de atenção e perda de interesse por atividades fora daquele meio são comuns. “A depender do grau de comprometimento dessa compulsão um acompanhamento psicoterápico pode ajudar, mas acho que é importante repensar a rotina da família. Não é para que ele abra mão totalmente da tela, mas que ele possa, de algum modo, também equilibrar com outras atividades”, comenta.
A psicóloga reforça que não se pode olhar para os dispositivos como vilões. “Até porque o potencial negativo desses dispositivos está muito mais ligado à dificuldade que a família tem de dar limite. O dispositivo pode ser muito interessante, não só para estimulação cognitiva dessas crianças, desses jovens, mas também para estarem inseridas nesse mundo digital”, explica.
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