IMERSÃO
Cultivo de coral é alento ambiental na baía
Ação do projeto Mares na região de Itaparica busca recuperar ecossistema ameaçado por espécie invasora
Por Madson Souza
Contrariando o senso comum, corais são animais e não plantas, mas ainda assim podem ser “plantados”. É nesse processo de cultivo que a Reportagem de A TARDE mergulhou de cabeça – literalmente – ao acompanhar uma visita aos berçários do Coral de Fogo, ou Millepora, na praia de Mar Grande, Ilha de Vera Cruz. A ação é realizada pelo projeto Mares, organizado pela ong Pró-Mar, com o objetivo de preservar o coral, que é importante para a biodiversidade marinha ao servir de alimento e habitat para peixes e invertebrados.
Próximos ao recife da praia, os “berçários” são tão pouco convencionais quanto as criaturas abrigadas. Fixados submersos na água por uma base sólida e pesada, as sementeiras são compostas por canos de PVC que formam a base da estrutura, enlaçada por várias linhas de nylon, para formar uma espécie de mesa, para receber as bases de calcário e servir de “terreno” para o cultivo do Coral de Fogo. Pedaços pequenos do coral são então amarrados a essa base e ali se desenvolverão até possuir o tamanho adequado para serem levados ao recife.
O Coral de Fogo não recebe esse nome à toa e pode queimar um pouco ao ser tocado sem luva. É justamente essa propriedade que possibilita que o organismo seja usado como abrigo e forma de proteção por outros seres marinhos, como crustáceos, peixes e moluscos. Porém, por consequência da ação humana, corais invasores são trazidos por embarcações de outros locais e geram uma disputa por espaço e alimentação, o que prejudica o desenvolvimento dos corais nativos e reforça a necessidade do cultivo.
José Roberto, o Zé Pescador, fundador da Pró-Mar e coordenador do Projeto Mares, destaca a necessidade do monitoramento das espécies invasoras. “Na Baía de Todos-os-Santos, já identificamos mais de 30 espécies invasoras, que competem por espaço e alimento com os corais nativos”, explica.
Os corais exigem cuidados frequentes e um trabalho contínuo. Os membros do projeto realizam limpezas periódicas, removendo algas que podem atrapalhar o crescimento do ser vivo. "O coral é um animal, mas nosso trabalho é de agricultor. Precisamos estar sempre atentos, limpando e monitorando seu desenvolvimento", explicou Zé Pescador.
Ações educativas
O projeto Mares vai além do cultivo de corais. A educação ambiental também é um dos pilares da ação, através de atividades em escolas. Com formação de professores e realização de mutirões de limpeza tanto da praia, quanto na água, realizado por mergulhadores. As ações buscam conscientizar sobre a preservação do meio ambiente marinho.
A educadora ambiental e diretora secretária do Pró-Mar, Mariana Ferreira, reforçou a importância do envolvimento da comunidade nas atividades. “Nosso objetivo é formar cidadãos conscientes do cuidado com o ambiente marinho. Realizamos atividades com as crianças e adolescentes para que levem esse conhecimento para suas casas e famílias”, afirma.
Durante a visita, a Reportagem também pode conhecer o Centro de Interpretação Ambiental (CIA), inaugurado em setembro de 2023. O espaço oferece um ciclo de visitas educativas, em que crianças e adolescentes podem conhecer corais, atentar ao lixo encontrado no mar, aprender sobre o Manguezal e realizar uma vivência com óculos 3D. Mais de 600 crianças visitaram o espaço este ano e uma tonelada de lixo foi retirada durante as ações do ano passado, que continuam sendo realizadas este ano.
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