PROTEÇÃO DE DADOS
Cultura de desinformação expõe baianos a fraudes
Especialistas em segurança digital reforçam necessidade de proteger informações pessoais como forma de evitar cair em fraudes
Por Madson Souza
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) celebrou este mês o quarto aniversário de vigência, e especialistas da área de segurança digital ainda reforçam a importância de conscientização da população sobre a necessidade de proteger suas informações pessoais.
O uso do CPF como chave Pix e o ato de ceder dados para sites de procedência questionável são exemplos da falta de uma cultura de proteção de dados no país, que tem exposto os baianos a fraudes cada vez mais sofisticadas.
Vítima de fraude ainda este ano, o servidor público Gedeon Dourado recebeu uma ligação de um número que parecia ser de um banco, informando dois pagamentos em sua conta. “A ligação parecia legítima, e eu acessei minha conta para confirmar. Vi que realmente havia esses pagamentos e acabei seguindo as instruções dos golpistas”, conta. Através do contato com o banco ele não conseguiu reverter a situação, foi preciso entrar na justiça para resolver a questão. Gedeon acredita que o golpe teve início por email.
Cuidado com cadastros
Mesmo com os avanços trazidos pela LGPD, de acordo com a advogada Gisele Kunz, especialista em Direito Digital, é preciso que haja uma evolução na mentalidade dos brasileiros com relação à proteção de dados. “Muitos ainda não compreendem a gravidade de fornecer informações sensíveis, como o CPF, sem critério. Usar o CPF como chave do PIX, por exemplo, é um convite para fraudes. As pessoas têm receio de emprestar o cartão de crédito, mas não hesitam em entregar o CPF, que pode causar prejuízos ainda maiores quando utilizado por fraudadores", alerta Gisele.
O fornecimento de dados para cadastros de lojas e farmácias, em busca de descontos, e também para sites podem trazer consequências. Apenas este ano já foram registrados pelo Procon-BA 1.229 reclamações e orientações envolvendo dados pessoais e privacidade. O diretor de fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas, relata os casos mais comuns.
"As fraudes mais comuns relatadas ao Procon, no Brasil, estão ligadas a empréstimos consignados, principalmente contra idosos. Com a pandemia, a assinatura dos contratos, antes exigida de forma presencial, passou a poder ser feita virtualmente, o que facilitou a atuação de criminosos que utilizam informações vazadas para enganar aposentados e pensionistas", explicou.
Sobre as medidas que os consumidores podem tomar para se proteger, Iratan recomendou evitar o cadastro de informações pessoais em sites e aplicativos desconhecidos, ter cautela com o uso de redes Wi-Fi públicas, e ser criterioso ao compartilhar dados como CPF, que se tornou uma chave valiosa para criminosos. "Se uma pessoa for vítima de uma fraude, deve comunicar a empresa envolvida e os órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, o mais rápido possível", orientou.
Recentemente, uma nova modalidade de golpe tem ganhado força: a utilização de inteligência artificial para imitar a voz de vítimas e enganar familiares ou amigos próximos. "Esses golpes são extremamente perigosos porque misturam tecnologia avançada com engenharia social. Com a coleta de fragmentos de dados, é possível traçar o perfil de uma pessoa e aplicar fraudes com altíssimo grau de verossimilhança", explica a advogada Gisele.
Ataques hackers
No segundo quadrimestre de 2024 houve um aumento de 25% da média de ataques hackers a empresas no mundo em comparação com os primeiros quatro meses do ano, de acordo com a Asper, empresa especializada em soluções em cibersegurança. Três fatores explicam esse crescimento, segundo o diretor de operações da empresa e diretor de segurança da informação, Theo Brazil: a ampliação da superfície de ataque com a digitalização crescente, o aumento da sofisticação dos cibercriminosos, e as motivações econômicas e geopolíticas.
"Os golpes estão cada vez mais avançados com o uso de técnicas específicas e inteligência artificial para identificar vulnerabilidades”, conta. Ele pontua que as empresas precisam atentar para a proteção, da mesma forma que a população. “No nível individual, o uso de senhas complexas e a habilitação de um segundo fator de autenticação são fundamentais. Para as empresas, a avaliação contínua das soluções de segurança, o monitoramento ativo e a pronta resposta a incidentes são cruciais para evitar vazamentos de dados”, afirma.
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